Conheça a história de Nise da Silveira, a alagoana que ganhou o mundo
MAITÊ PROENÇA
Atriz, escritora e pensadora
Nise da Silveira é alagoana. É também referência mundial em psiquiatria. Ela entrou na Faculdade de Medicina da Bahia, em 1921. Era única mulher em uma turma de 157 alunos. Uma vez formada, rumou para o Rio de Janeiro e lá começou a trabalhar com psiquiatria e neurologia.
De natureza transformadora, precisava fazer valer sua permanência neste planeta. Logo se envolveu com o meio artístico e político, e por aí, Nise entrou em contato com a ideologia marxista. Uma enfermeira a denunciou, acusando-a de comunista e, por conta disso, Nise da Silveira foi encarcerada, passando dezesseis meses em uma casa de detenção. Lá, conheceu outros presos políticos renomados como Graciliano Ramos e Olga Benário.
Foram só oito anos depois de sair da prisão que Nise foi readmitida ao serviço público, e pode então trabalhar no Centro Psiquiátrico Nacional, que hoje leva o nome de Instituto Municipal Nise da Silveira.
Naquela instituição nossa heroína entrou em guerra contra dois pilares do tratamento psiquiátrico da época: os eletrochoques e a lobotomia. Esta segunda consistia na retirada total ou parcial dos lóbulos cerebrais e era praticada em pacientes que apresentavam graves distúrbios psiquiátricos, como esquizofrenia e depressões profundas, por exemplo.
A lobotomia deixava seque-las profundas e com o tempo, por conta de suas consequências, passou a ser chamada pelo status de “mutilação mental”.
Nise andou na contramão de seu tempo e escolheu a arte como tratamento para os mesmos males.
Apesar de ter sido antagonizada e humilhada por colegas conservadores de promissão, Nise, pouco a pouco, conseguiu transformar a Terapia Ocupacional em algo digno. Humanizou os pacientes, dando-lhes ateliês de pintura, costura e marcenaria para que, através da atividade criativa, pudessem vasculhar livremente os subterrâneos de seus inconscientes machucados. E se comunicar.
As pinturas e esculturas serviam-lhe de material para avaliar a psique dos pacientes, ajudando nos diagnósticos e tratamento.
As telas oriundas desse tratamento eram tão elaboradas e surpreendentes que viraram exposição no Museu de Arte Moderna de São Paulo.
A partir dessa mostra, foi inaugurado no RJ, o Museu de Imagens do Inconsciente. O MII funciona até hoje com mais de 360 mil obras e documentos.
A eficácia do trabalho de Nise da Silveira impressionou o psiquiatra suíço Carl Jung, e eles se corresponderam por anos antes de se conhecerem pessoalmente. As cartas de trocadas foram de grande valia para ambos os médicos.
Nise escreveu dez livros e, aos 83 anos, foi a primeira mulher a receber o título de Doutor Honoris Causa pela UERJ, a Universidade do Estado do Rio de Janeiro.
Salve Nise da Silveira, salve sua tenacidade e coragem!