Aos 55 anos, prostituta resiste ao tempo e vende corpo por até R$ 5 em Palmeira dos Índios
*Carlos Alberto Jr.
Abandono. Solidão. Esquecida e perdida no próprio silêncio. Assim pode-se resumir a vida atual de Maria do Carmo da Silva, mais conhecida como Carminha, que um dia já foi de glamour, amores passageiros e o chamado dinheiro fácil. Aos 55 anos, analfabeta e abandonada pelas duas filhas, ela ainda se prostitui na antiga Rua do Cabaré.
Mesmo debilitada, com a surdez avançando e um ferimento na perna esquerda, sequelas da diabetes, ela ainda recebe clientes na casa simples onde vive de favor, sem água encanada e eletricidade. Segundo ela própria e as amigas vizinhas, a clientela é diversificada com relação à idade, mas o valor pago pelos programas não passa de míseros R$ 5.
Convidada a conhecer o imóvel, a reportagem do Estadão Alagoas deparou-se com dezenas de preservativos e gel lubrificante em exposição próximos à cama velha, doada por uma amiga, como quase tudo no resto do imóvel. Num canto do quarto, alguns depósitos com água para higiene dos clientes após os programas sexuais.
“Esses dias, a gente viu um homem sair daqui às 5 da manhã. Não tem dia, não tem hora. Até os mais novos batem na porta dela à procura de…”, revelou uma vizinha, que não quis ser identificada, ao fazer um gesto com a mão que simboliza popularmente a prática sexual.
Natural de Minador do Negrão, Carminha chegou em Palmeira dos Índios há 45 anos, onde casou e teve duas filhas que não vê há muito tempo. Ficou viúva anos após o casamento e voltou à prostituição. Sabe apenas que uma está casada e reside em Palmeira dos Índios e a outra mora em Maceió. Apesar do casamento, foi na infância que iniciou sua trajetória na prostituição.
Uma amiga de longa data de Carminha, que não quis ser identificada pela reportagem, revelou que ela chegou nova e bonita a Palmeira dos Índios e tinha clientela certa. “Era muito procurada, mas não soube aproveitar as oportunidades que teve. Perdeu a mocidade e perde a velhice dela na prostituição”, afirmou.
Durante a entrevista a amiga de Carminha acabou revelando também ter trabalhado na prostituição na Rua da Gandaia e suas lembranças também não são muito boas daquela época. “As mulheres eram tratadas como escravas. Pagavam pensão [aos donos dos bordéis] e, se saíssem com clientes, tinham que pagar a saída. Até a roupa que a gente usava, eram compradas e vendidas à gente bem mais caras”, revelou.
QUASE NA MISÉRIA
Maria Rosilene, a “Maria Baixinha”, de 54 anos, é outra moradora da rua, também bastante conhecida pelos frequentadores mais antigos. Hoje, reside numa casa cedida pelo proprietário, onde também não tem água encanada nem energia e prepara suas refeições em fogão à lenha.
Ela mora no pequeno imóvel com um filho de 14 anos, a filha de 19 e uma neta de apenas 5 meses. A única renda de Maria Baixinha é proveniente do Bolsa Família, o que mal dá para sustento das quatro pessoas.
O filho menor estuda pela tarde, enquanto a filha, Raiane Jane da Silva, parou de estudar após o nascimento da bebê, cujo “pai está preso em Maceió e a avó paterna, quando pode, doa fraldas e dá mais alguma ajuda.
“Assim que ela crescer mais, vou voltar a estudar e quero procurar um emprego. Não dá pra viver dessa forma”, disse a jovem. Mostrando-se temerosa, ela afirmou que não pretende seguir no caminho da prostituição, como fez sua mãe na juventude até a vida adulta. “Já recebi propostas, mas não aceitei, nem aceito. Mesmo nessa situação, nunca quis. Peço a Deus que nunca precise fazer”, finalizou a jovem abraçando a filha aos braços.