Fernanda Gentil: “A maternidade é o maior legado que eu posso deixar”
Ainda se acostumando com a rotina menos formal do quadro de entretenimento da Globo, Fernanda Gentil, de 32 anos, demorou um tempo até se sentir mais livre para dar entrevistas com cunho pessoal. Depois de conhecê-la no camarim do seu espetáculo teatral Sem Cerimônias, em maio deste ano, ela topou falar abertamente à QUEM sobre sua história até chegar à televisão, o casamento com Priscila Montandon, de 37, empoderamento feminino e o seu assunto favorito: ser mãe. Ela escancara as dificuldades reais da maternidade desde quando seu leite secou em menos de um mês depois de dar à luz e ela se sentiu culpada, aos cuidados para não criar um filho machista, mas, sim, que aceite e respeite as diferenças. “Quer me elogiar? Fale bem de mim como mãe. Não precisa de me chamar de bonita, magra, nem nada. Me chama de boa mãe. A maternidade é o maior legado que eu posso deixar e é ela que me desafia todos os dias”, declara a mãe de Gabriel, de 3, e madrinha de Lucas, de 11.
Paixão pelo esporte
“Sempre sonhei em trabalhar com esporte, porque sempre pratiquei a vida toda, desde criança. Tenho asma e essa foi uma maneira que meus pais encontraram de melhorar minha respiração. Fiz natação para abrir o pulmão. Fiquei apaixonada pelo ambiente esportivo. Os valores e os princípios são muito nobres, como espírito de grupo, igualdade e lealdade, além de ser totalmente democrático. Parei de jogar vôlei de praia quando entrei na faculdade. Já estava federada e competindo, aos 17 anos. Já era um nível meio profissional e não tinha como continuar. Treinava quatro horas por dia, competia aos finais de semana. Na faculdade, no Brasil, infelizmente, a gente tem que decidir entre estudar ou ser atleta e o jornalismo esportivo foi uma maneira que encontrei de continuar inserida no mundo que eu tanto amava. Mas também pensava em Psicologia, Publicidade, caso não desse certo.”
Em busca do sonho
“Foi muita ralação. Como já sabia que seria um caminho difícil, comecei a estagiar desde o início da faculdade. Todo curso que tinha, eu queria fazer. Comecei estagiando em uma assessoria de imprensa. Fiz de tudo lá, até limpar estante. Minha família toda já estava mobilizada nesta causa. Uma vez, meus pais estavam em um restaurante e encontraram a Glenda Kozlowski. A minha mãe me ligou para contar. Aí, eu pedi para ela segurá-la lá até eu chegar. Minha mãe ficou toda sem graça e se negou. Pedi para o meu pai e ele agarrou a mulher na porta do japa. Imprimi meu currículo e levei para ela, que foi muito querida comigo e me passou o e-mail de contato dela. Sempre tentei por todos os modos. Pintou a vaga no Sportv para produção de dois meses e eu fui. Nessa mesma época, também estava estagiando na Band, na Transamérica e fazendo faculdade. Foi quando tive duas úlceras. Não estava vivendo, mas era tudo pelo sonho. E foi ali que tudo começou.”
Primeira grande cobertura
“A Copa do Mundo de 2010, na África do Sul, foi muito marcante para mim. Acabei tendo um destaque muito grande. Mas sabe aquela coisa assim: um pouquinho de beleza e talento, mas muita sorte? Estava no lugar certo e na hora certa. O canal estava passando por uma grande reformulação e o novo diretor queria caras novas e apostar em novos talentos. Já tínhamos o Alex Escobar, a Glenda Kozlowski, a Cris Dias, o Tiago Leifert. Essa galera toda abriu muitas portas para mim. Quando recebi o e-mail para o credenciamento não acreditei. Só tive a certeza quando alguém me ligou avisando que o prazo para eu me credenciar iria acabar e eu ainda não tinha preenchido.”
Inspirações femininas na TV
“Era e sou muito fã da Glenda Kozlowski. Apesar de conhecê-la, ainda tenho esse bloqueio de fã e ídolo um pouquinho. Ela é muito querida comigo e generosa. Mas você conhecer o ídolo rola um certo receio traiçoeiro, porque você o coloca em um patamar e quando a encontra, essa realidade pode mudar para melhor ou pior. Todo mundo é de carne e osso e tem suas dores e delícias. Fátima Bernardes foi muito foda. Eu a idolatrava há muito tempo, porque ela estava inserida no contexto do jornalismo e do esporte. Ela foi a musa da Copa do Mundo de Futebol de 2002. Foi uma das pessoas que, antes de eu conhecer, fiquei com um pouco de medinho de quebrar a imagem que tinha dela. Mas ela subiu mais ainda no meu conceito. Ela é uma grande inspiração para mim.”
Ciclo no jornalismo esportivo
“Foi cedo para quem vê de fora, mas bem intenso para quem estava lá dentro, no caso eu. Não foi leve. Comecei muito cedo. Tive problemas de saúde, porque me entreguei totalmente. Não sou melhor nem pior do que ninguém, mas eu quis mais. Abri mão de muita coisa, como família e datas importantes. E isso é apenas o que mais amo nessa vida. Lembro de sair de casa com dor no coração em ver meus familiares todos reunidos. Já perdi muito aniversário de gente querida, casamentos e outras datas especiais. Quem é jornalista sabe bem o que estou falando. As pessoas não têm muita noção disso tudo quando nos veem em destaque.”
Autoconhecimento
“Sou muito movida a desafios e trabalho isso na terapia, inclusive. Precisei me conhecer melhor. Quando chego ao meu objetivo, já quero buscar o próximo. Tenho pouca estabilidade para saborear o que conquistei. Já fui muito pior. Hoje em dia, estou bem mais trabalhada na terapia. Mas tem o lado bom que eu gosto de me sentir viva o tempo todo. Fiz 10 anos trabalhando no jornalismo esportivo, o grande sonho da minha vida e senti depois desse ciclo, que foi bem intenso e com muitas realizações, que era hora de dar o próximo passo. Mas nada que eu fizer vai preencher esse espaço do sonho realizado. Desde dezembro de 2018, quando saí, estou tentando novos desafios.”