Na conversa, Bolsonaro fala de questões que são polêmicas na grande mídia, como a indicação do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL) para a embaixada dos Estados Unidos. Ele comenta ainda a conjuntura da América Latina, em sua visão e avalia o processo eleitoral que o trouxe ao poder.
Segue o trecho:
O senhor era deputado federal e hoje é presidente da República. O que mudou de lá para cá?
Mais problemas. Mais preocupações. Mas, cada vez mais uma vontade de buscar acertar esse nosso Brasil. Temos tudo para dar certo, fazendo avançar as propostas mais importantes como a nova previdência. Eu considero a previdência como aquele paciente que tem que ser submetido a uma quimioterapia. Sabe como é esse tipo de tratamento. É doloroso. Ou se faz ou o destino sabe quais problemas se tem. Estamos fazendo a nossa parte. Graças a Deus tive a isenção para indicar todos meus 22 ministros, que são pessoas que nos orgulham como regra, levando-se em conta, em especial, quem os antecedeu.
O senhor passou mais 20 anos na Câmara dos Deputados ganhando um bom salário de deputado federal. Por que entrar nessa jornada de comandar o Brasil, sabendo que o Brasil tem problemas econômicos que o PT deixou, sendo ameaçado de morte, sendo esfaqueado um pouquinho antes das eleições? Por que largar a comodidade de ser deputado federal para ser presidente do Brasil?
Eu estou com 64 anos. Já estou com o prazo de validade vencido. Eu quero deixar algo especial para a minha filha, que não seja bens materiais apenas. No final de 2014, depois da reeleição da Dilma Rousseff (PT), eu olhei para mim mesmo e falei: eu estou sendo demais dentro do parlamento, eu tenho que buscar fazer alguma coisa para mudar o Brasil. Como? Não vai ter fundo partidário. Vamos ter a imprensa quase toda batendo na gente o tempo todo. Resolvi entrar nessa onda sabendo o que ia encontrar na cadeira presidencial. Alguns pensam que o presidente é o super-homem. Pode até ser. Mas aquela cadeira é de kriptonita. A gente senta ali e os problemas vem pela frente. E eu tenho um firme propósito de realmente entregar o Brasil em 2023 ou 2027 em melhores condições do que encontrei agora em 2019. Esse é o meu sentimento. Esse é o meu foco. Em relação a bens materiais, não vou mudar o meu “rolex” aqui (o presidente mostra o relógio digital que usa há tempos). Vivo muito bem com o que eu tenho, com o que eu ganho. Tenho sim uma aposentadoria no Exército. ‘Se aposentou com 33 de idade”. Verdade! Por isso estamos aqui para mudar a legislação para que não aconteça isso daí. Não foi uma aposentadoria. Quando eu fui diplomado vereador em 1988, a Constituição dizia que eu passava para a reserva remunerada proporcional ao tempo de serviço. Não tenho mais nenhuma aposentadoria, se bem que eu posso requerer a minha de parlamentar, mas não pretendo requerê-la. Vou deixar bem claro. Meu objetivo é procurar servir a pátria da melhor maneira possível e enquanto Deus me der forças, já me deu uma vida no ano passado. Sou mineiro igual a você (risos), lá de Juiz de Fora. Então, a gente vai continuar nesse propósito. Sinto-me bem. Não é fácil você… o aparelhamento não é apenas de pessoas, mas de leis. Eu quero transformar a baia de Angra uma Cancum, mas o decreto que demarcou só pode ser revogado por lei e não por decreto. Assim é a legislação ambiental e esse problema você encontra em toda a administração brasileira. Você quer mudar alguém, por exemplo, que está em um órgão, cargo público importante, tem mandado de dois, quatro cinco anos, você não pode mudar. Mas a gente vai buscar, o tempo vai tirando essas pessoas do nosso caminho e a gente vai buscando ocupar com pessoas que tenham o coração verde e amarelo igual ao nosso para cumprir aquela missão de modo que todo Brasil possa ser beneficiado e não um pequeno grupo, né? Geralmente composto de pessoas com a mesma ideologia.
Todo mundo está falando a respeito da indicação do seu filho, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL), para a embaixada dos EUA. É um caso que a grande mídia tem tratado como algo extremamente grave. A pergunta que faço: Eduardo Bolsonaro vai mesmo para a embaixada?
Primeiro: a função dele não precisa ser essa aceita pelo instituto Rio Branco. A função dele é política. Criticaram tanto ele: ‘não tem formação’. A gente pergunta para essas pessoas: quem foi o último ministro de Relações Exteriores do Brasil se não o motorista de Marighella? Aluísio Nunes Ferreira. Ele foi formado pelo Instituto Rio Branco? Pelo que me consta não. Agora, eu não pretendo colocar o garoto lá porque é meu filho. Ele tem uma vivência internacional muito grande. Fala fluentemente dois idiomas, goza de um relacionamento com a família do homem mais poderoso do mundo: o senhor Donald Trump. É, atualmente, o presidente da Comissão de Relações Exteriores da Câmara de Deputados. Vem desenvolvendo um brilhante trabalho lá dentro. Está em suas mãos, por exemplo, levar a votação o nosso acordo com os EUA para a base de lançamento de Alcântara, entre tantas e outras atribuições. Então, eu pretendo sim. Existe essa pretensão da minha parte. Eu faço um paralelo: eu me dou muito bem com o presidente Macri da Argentina. Vamos supor que o filho dele – com bagagem de conhecimento semelhante a do meu – fosse embaixador da Argentina aqui no Brasil e ele quisesse conversar comigo. Eu ia falar amanhã, semana que vem ou agora com o filho do Macri? Agora. O meu filho seria tratado da mesma forma pelo presidente americano e seu primeiro escalão. Porque, afinal de contas, estive duas vezes pessoalmente com Trump e interessa para ele cada vez mais fortalecer, em especial, o nosso comércio. Brasil e EUA. Então, tem tudo favorável a ele (Eduardo Bolsonaro). Agora, isso passa pela sabatina no Senado Federal. Não sei se vai ser aprovado ou não, mas estou pretendendo sim levar adiante essa ideia.
Como foi estar entre os líderes mundiais no G-20?
Primeiro: grande parte da mídia dizia que eu ia voltar menor do que cheguei. Foi exatamente o contrário. No meio do caminho, não era assunto do G20, mas tivemos um grande acordo do Mercosul com a União Europeia. Eu tive sorte lá, de estar com o Macri, que foi um dos articuladores, porque os nossos países (Brasil e Argentina) tinham que ceder alguma coisa para que esse acordo fosse concretizado. O que sempre foi comum de acontecer com presidentes outros que tinham uma viagem como essa: ao voltar para o Brasil, chegava aqui e demarcava mais 30 reservas indígenas, mais 10 quilombolas, ampliava os parques nacionais, demarcava estação ecológica. Ou seja: cada vez mais com pressão de fora, ia fazendo com que o Brasil perdesse a soberania sobre essas áreas. Nós queremos que o índio seja integrado a nós, e não criar latifúndios para que no futuro esse latifúndio se transforme em outros países. Lá, houve o encontro fortuito com a Merkel, juntamente com o Macron, e há dois dias antes de eu viajar, a Merkel havia falado que iria passar um pito em mim no tocante a Amazônia. Eu sou uma pessoa extremamente educada, apesar de alguns acharem o contrário, não é? Quando ela veio falar comigo, eu falei com ela e falei com o Macron sobre o desmatamento. Eu quero preservar o meio ambiente, e quero o casamento da questão ambiental com o progresso do nosso Brasil. Eu convidei os dois – em momentos distintos – a sobrevoarem de Boa Vista a Manaus. Se encontrarem um hectare de terra devastada, daria razão para eles. Agora, eu falei: quero fazer a mesma coisa na Europa. Fazer uma viagem também – quem sabe na Alemanha, de ponta a ponta – e se encontrar um hectare de floresta ele ou ela tem razão. E os caras ficam desmoralizados no tocante a isso aí. Estava na cara que o Macron queria crescer de novo, como sempre cresceu, em cima de presidentes sem moral, que tínhamos no passado no Brasil. Presidentes completamente desmoralizados, chegavam aqui com o rabo no meio das pernas, e faziam verdadeiras atrocidades com a soberania nacional. Quando se fala que a Alemanha está muito avançada na energia elétrica, tem que saber que a origem da energia elétrica é com empresas que produzem via combustível fóssil, que polui demais. Eu tinha muita coisa a conversar com eles, mas – logicamente – o pito não houve. Tivemos reuniões com 20 líderes de estados presentes e em nenhum momento ninguém dirigiu a palavra para minha pessoa e falou algo diferente, como aconteceu no passado com o Temer, como tivemos conhecimento desse assunto.
Nos últimos cinco meses tivemos 22% de queda no índice de mortes violentas. A que se deve essa queda?
Comparo muita do que eu faço a um quartel. São 15 anos de efetivo serviço no quartel. Pelo exemplo, a tropa vai atrás. Agora, o que o Sérgio Moro fez? Ele abriu mão da magistratura para ser ministro da Justiça. Ele fez transferência de presos. Os figurões (do crime) de São Paulo saíram de lá. Parou de ter comando. A tropa do crime organizado ficou acéfala. Aumentou essa questão de inteligência. A apreensão de drogas tem aumentado muito no Brasil. Logicamente, se está aumentando a apreensão de drogas, tem gente que está com dificuldades para consumir, menos gente consumindo é sinal de que menos besteira estão fazendo com a cabeça cheia de fumaça ou o sangue cheio daquele pozinho branco. Então, no meu entender, são essas questões todas que está fazendo diminuir a violência por aí. Mas está muito alta ainda.
Quem que o senhor olha hoje e diz: para esse aqui eu teria confiança e prazer de passar a faixa presidencial?
Está muito cedo isso aí ainda. Mal começamos o governo. Se em 2022 eu estiver razoavelmente bem, a gente pode pensar em passar para alguém ou tentar reeleição, mas não passa pela minha cabeça. Eu sempre tive uma coisa na minha cabeça na vida de parlamentar: não pensar em reeleição. Fazer o que tem que ser feito, porque a reeleição naturalmente vem para o teu lado.