Alagoanos fogem de fazenda em que trabalhavam no Espírito Santo
O Ministério Público do Trabalho (MPT) em Alagoas investigará o caso de dezoito trabalhadores alagoanos que foram supostamente vítimas de trabalho análogo ao de escravo no município de Boa Esperança, no estado do Espírito Santo. Eles fugiram de uma fazenda onde trabalharam na colheita de café, após serem recrutadas em Piranhas, cidade natal dos lavradores.
Os trabalhadores fugiram do local após serem submetidos a condições de trabalho degradante e foram resgatados no extremo sul da Bahia. O grupo viajava de volta para o interior alagoano em uma van clandestina que foi parada pela Polícia Rodoviária Federal na altura do município de Teixeira de Freitas.
Eles alegaram estar naquela situação porque tinham sido enganados por um homem que prometeu trabalho e estavam retornando para casa sem dinheiro e contando com a ajuda de terceiros. Os policiais levaram o grupo até Eunápolis para que a unidade do MPT na Bahia tomasse seus depoimentos e providenciasse transporte regular para a cidade de origem dos trabalhadores.
Ao ouvir as pessoas que viajavam na van, os procuradores do MPT Italvar Medina e Lys Sobral decidiram identificar um a um e colher o maior número possível de informações sobre os empregadores e sobre o esquema usado para atrair o grupo e praticar a exploração.
O caso também será remetido para a unidade do MPT no estado do Espírito Santo com indicação para que, a partir dos elementos colhidos nos depoimentos, sejam identificados o homem que recrutou os lavradores sob falsa promessa de trabalho bem remunerado e as fazendas que se utilizaram dessa mão de obra.
Recrutamento
Os trabalhadores foram recrutados em Piranhas por um homem oferecendo trabalho na colheita de café, com diárias que poderiam chegar a R$100. Organizaram, dia 1º de julho, a ida até o Espírito Santo, em um ônibus clandestino, acertando o valor da viagem diretamente com o motorista.
Ao chegar a Boa Esperança, foram alojados em uma casa sem condições mínimas de higiene e sem mobiliário e passaram a trabalhar em atividades diversas, sempre conduzidos por esse homem. Mas as promessas não se confirmaram e os rendimentos pelos trabalhos que fizeram ficavam entre R$20 e R$50 por dia.
Tanto as ferramentas usadas no trabalho quanto a comida que consumiam estavam sendo pagas pelos próprios trabalhadores. Eles também tiveram que arcar com os custos da viagem de ida e não tiveram registro da relação de trabalho em suas carteiras profissionais. Até as despesas de aluguel, água e energia da casa que serviu de alojamento para o grupo ficavam por conta dos trabalhadores.
Como estavam ganhando bem menos do que o combinado e ainda tinham que assumir uma série de despesas, os lavradores se voltaram contra o agenciador e decidiram deixar de trabalhar. Tiveram que contar com a ajuda da população local para se alimentar e para conseguir um veículo para levá-los de volta para sua cidade de origem.
Com a ajuda de um vereador, eles conseguiram uma van clandestina para conduzir o grupo até Piranhas, mas ao passar pelo posto da Polícia Rodoviária Federal de Teixeira de Freitas, no extremo sul baiano, foram abordados pelos policiais e encaminhados à unidade do MPT de Eunápolis.
Após prestarem depoimento até a noite de terça-feira, foi oferecido um ônibus em situação regular para que eles seguissem viagem.