Laboratório da Ufal aponta que volume de chuva em Alagoas está abaixo da média
Para quem tem olhado o céu nos últimos dias, parece até errada a informação que o período chuvoso em Alagoas está abaixo da média. Entretanto, de acordo com o coordenador do Laboratório de Análise e Processamento de Imagens de Satélites (Lapis) da Ufal, o professor Humberto Barbosa, no balanço geral, apesar do registro de chuva nesta semana, a distribuição está irregular.
“Na região litorânea, a quadra chuvosa começou em abril. Até junho teve chuvas abaixo da média, com distribuição irregular dessas chuvas na região. Julho é um mês mais chuvoso. Estamos quase na metade do mês, esta semana melhorou um pouco e a tendência é melhorar no final do mês. No entanto, nos próximos dias, já volta às condições normais, quando vamos ter a massa de ar seco mais dominante”, explica Barbosa.
Ainda de acordo com o coordenador do Lapis, em agosto a previsão é que as condições meteorológicas voltem ao normal, com a expectativa de 700 mm de chuva. “Pode chover um pouco mais ou um pouco menos, mas muito próximo ao esperado. A previsão é que em agosto tudo volte ao normal, porém já será o final da estação chuvosa”.
Dados da Secretaria de Estado do Meio Ambiente e dos Recursos Hídricos (Semarh) apontam um aquecimento anômalo das águas do Oceano Pacífico Equatorial, indicando assim, a persistência do fenômeno El Niño, que costuma alterar o regime dos ventos e o transporte de umidade para a região Nordeste, diminuindo o volume de chuvas em toda a região Nordeste do Brasil.
“A chuva tem se concentrado mais na região do litoral em função dos resquícios de uma frente fria que vem atuando desde o último fim de semana na região Sul, no extremo Sul, e vem se deslocando para o oceano”, explica o coordenador do Lapis.
Ainda segundo Humberto Barbosa, o deslocamento da frente fria está favorecendo a convergência, com os ventos soprando umidade. No entanto, olhando como um todo, a estação chuvosa será abaixo da média. “Final de julho e início de agosto a condição metrológica volta a ser favorável às chuvas, a tendência é melhorar ainda mais as chuvas que acontecem. Agora lembrando que a estação chuvosa vai até agosto, pode se estender um pouco mais ou terminar antes, então já estamos quase 80% da estação chuvosa avançada. Então no balanço geral, apesar dessa semana ter chovido um pouco melhor, estamos abaixo da média, mas a tendência é melhorar um pouco, só que já é final da estação”.
Dados da Semarh mostram comparativo da média de chuvas
FOTO: ARTE/SEMARH
Mesmo que as chuvas fiquem dentro da normalidade, não será suficiente para repor o déficit hídrico, principalmente na metade oeste de Alagoas. “Os meses de inverno são os mais importantes na recarga hídrica do Estado, e, além disso, o ano de 2018 foi um ano de chuvas abaixo da normalidade, que contribuiu para a deficiência hídrica em Alagoas”, aponta a Gerência de Hidrometeorologia da Semarh. Com esse cenário, há uma probabilidade grande de intensificação da seca no semiárido alagoano.
Sertão e Agreste
O período chuvoso no Sertão e no Agreste, segundo o coordenador do Laboratório de Análise e Processamento de Imagens de Satélites, acontece em um período diferente do que no Litoral. “O período chuvoso deles, a quadra chuvosa deles, é mais curta, vai de fevereiro a maio, e este ano a chuva foi abaixo da média”.
Com isso, a previsão é que o período de seca seja ainda mais crítico, afetando o abastecimento de água e a agropecuária. De acordo com o professor Humberto Barbosa, vários municípios já estão em estado de emergência. “E a tendência é agravar no segundo semestre. A agropecuária no Sertão, no segundo semestre, vai ser um período mais crítico em função da quadra chuvosa não ter armazenado água e nem ter criado uma pastagem que desse para ter se estendido um pouco mais. A pastagem já está bem seca, é uma situação mais delicada na região do Sertão e em parte do Agreste”.
Abastecimento de água
A falta de água é um problema bem antigo para os moradores dos municípios do Agreste e Sertão de Alagoas. Mas, segundo o professor Humberto Barbosa, a tendência é piorar por causa no segundo semestre de 2019.
A Companhia de Saneamento de Alagoas (Casal) informou que, na zona rural desses municípios, onde normalmente não existe rede de abastecimento operada pela companhia, os moradores dependem de água da de carros-pipa, cisternas, açudes e barragens durante o ano inteiro.
Já na zona urbana, que é atendida pela Casal com água captada no Rio São Francisco, os moradores não sofrem com a interferência das chuvas que caem no estado porque o volume de vazão do Rio São Francisco depende das chuvas que atingem toda a Bacia Hidrográfica do rio e do controle feito nas represas hidroelétricas pela Chesf. De acordo com a companhia, nesses locais, o abastecimento não está prejudicado.
“Essas chuvas, bem como a escassez delas, afetam muito mais as atividades agropecuárias e as comunidades que dependem o ano inteiro de carro-pipa para abastecer suas cisternas. São locais, portanto, não atendidos pela Casal com rede de abastecimento. Sempre que chega o verão, pedimos que os moradores usem a água com consciência, pois é um bem finito”, destaca a Casal.