Meu filho é hiperativo?
Um número significativamente grande ultimamente tem buscado consultórios de atendimentos clínicos para avaliação e tratamento de um transtorno cada vez mais comum entre as crianças, em suma pela relevância que os estudos científicos tem dado ao TDAH. São pais que percebem um comportamento fora do comum em seus filhos e comumente já conhecem ou ouviram falar de que tais comportamentos podem ser medicalizados a fim de que as crianças emitam comportamentos adequados e “padronizados”, como as demais crianças. Como tenho dito aos pais, nem sempre crianças que fogem do “padrão” necessariamente estão sofrendo algum transtorno e muitas vezes o problema da criança está na ânsia dos pais em diagnosticá-las e controlá-las por meio da medicação, alimentando a indústria farmacêutica. Em geral, essas crianças vem ao consultório com queixa dos pais de que estão desatentas e/ou inquietas, dificultando um convívio familiar onde o filho obedeça seus pais ou se atente às regras e estímulos nos ambientes aos quais frequentam.
O Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), é um dos transtornos mais estudados atualmente pela comunidade científica e vários experimentos comprovam diferentes posicionamentos profissionais e teorias em torno do TDAH. Apesar do avanço científico, ainda não se sabe quais as causas desse transtorno. Acredita-se em multifatores que coadunam num quadro clínico, desde o genético a ambiental. Onde já se sabe que na maioria dos casos de TDAH, a genética familiar comprova que os pais da criança portadora também tem o mesmo transtorno; bem como, já se sabe que fatores ambientais como o uso de cigarro e/ou álcool durante a gravidez, além de crianças que nascem com baixo peso (1,500kg) estão propensas a desenvolver o transtorno.
Se a criança frequentemente não se atenta a detalhes, esquece de preencher campos importantes na tarefa, começa a fazer algo e não termina, as vezes não ouve quando é chamada, ignora atividades que exijam esforço mental, é esquecido quanto as atividades cotidianas, tem dificuldade em manter atenção em atividades, é facilmente distraída com estímulos externos, estes são sintomas do TDAH do tipo predominantemente desatento, ou seja a criança tem dificuldade em se atentar e se distrai com facilidade. Agora se a criança é inquieta, não fica muito tempo sentada na cadeira nos lugares que frequenta, costuma entrar na conversa dos outros, é incapaz de fazer atividades com calma, tem dificuldade em esperar sua vez, corre e sobe nas coisas em situações inapropriadas, se contorce na cadeira, remexe ou batuca mãos e pés e fala demais, esse são sintomas do TDAH do tipo predominantemente hiperativo-impulsivo. Vale ressaltar que conforme o DSM-V estes sintomas devem estar presentes por no mínimo 6 meses e apresentar em mais de dois ambientes (escola, casa, com amigos, trabalho, etc.). O diagnóstico só é feito por um médico, o qual receita uma medicação chamada metilfenidato, comercialmente vendido como ritalina ou concerta a qual tem a função de melhorar o funcionamento cerebral do indivíduo agindo no sistema de recompensa, mais precisamente com o neurotransmissor dopamina.
Vale ressaltar que uma análise detalhada do ambiente da criança se faz necessária, uma vez que apresentar o comportamento não significa que a criança tem o transtorno, por isso, uma avaliação mais cuidadosa. A sociedade atual, cada vez mais estimulada reflete bem o que normalmente as pessoas afirmam que estão esquecendo das coisas, estão desatentas nas reuniões, estão com dificuldade em se atentar nas tarefas, etc. justamente porque estamos em um mundo informatizado e que estamos antenados a mais de um estímulo ao mesmo tempo, seja olhando o celular, respondendo emails, escrevendo mensagens, vendo a TV, conversando com amigos; esse número de informações acabam hiper-estimulando nosso cérebro fazendo-o funcionar muitas vezes de forma não adequada, uma vez que compreendemos que este órgão precisa se organizar também com a quantidade de informações que chega a todo momento a ele. Por esse motivo, muitas vezes a criança inquieta é apenas resultado de uma dinâmica familiar confusa, ansiosa, apressada e desprovida de meios adequados para uma boa convivência, tendo conseqüências significativas no desenvolvimento do filho.
Em clínica analítica-comportamental crianças com esse transtorno são freqüentes e na maioria das vezes são encaminhadas por psiquiatras, os quais já conhecem a eficácia desse tipo de tratamento. Nosso objetivo é, independente do diagnóstico trabalhar com o indivíduo, seja criança, adolescente ou adulto o desenvolvimento de habilidades adequadas em seu repertório comportamental, por isso cada intervenção é personalizada de acordo com os déficits comportamentais de cada um; nosso papel é identificar os comportamentos problema e as contingências as quais ocorrem para intervir seja com técnicas de monitoramento, modelagem, discriminação de estímulos, atenção focada, extinção comportamental, reforço diferencial de comportamentos alternativos, entre outras.
Portanto, o tratamento para pessoas com TDAH consiste não apenas da introdução medicamentosa, mas na intervenção conjunta com técnicas comportamentais a fim de trabalhar habilidades de comportamento do indivíduo, seja em casa ou na escola, onde estudos apontam importantes intervenções nessa área.
Diego Marcos Vieira da Silva
Psicólogo comportamental (CRP15/4764), formado pela Universidade Federal de Alagoas, com formações em psicopatologia em análise do comportamento e técnicas de memória e oratória. Com capacitação para avaliação psicológica e experiência em casos de transtornos psicológicos tanto na clínica quanto em instituições de saúde mental. Atualmente psicólogo na Associação de Pais e Amigos de Excepcionais (APAE), psicólogo no Centro de Referência de Assistência Social (CREAS), consultor e assessor organizacional e psicólogo clínico na Behavior.
Que texto maravilhoso e esclarecedor, parabéns pelo tema!
Obrigado