Análise: oposição baixa o nível e tem momentos de Olavo de Carvalho
Em tempos de radicalização política, o nível das discussões vai para o ralo. Ícone da baixaria contemporânea, o escritor Olavo de Carvalho usa e abusa de imagens escatológicas para atacar adversários, na maioria das vezes, pelo Twitter.
As últimas semanas mostraram que, em alguns momentos, o estilo do guru do presidente Jair Bolsonaro (PSL) – e de seus filhos – parece ter inspirado até mesmo representantes da oposição. Embora não pronunciem palavrões despudorados como Carvalho, adversários do governo também recorrem a expressões vulgares e imagens grosseiras no debate público.
Causou grande repercussão, por exemplo, a intervenção do deputado Zeca Dirceu (PT-PR) no dia 3 deste mês durante depoimento do ministro da Economia, Paulo Guedes, na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara.
Na ocasião, o parlamentar disse que Guedes se comportava como um “tigrão” com aposentados e agricultores e como uma “tchutchuca” na relação com os privilegiados. Retirados de um funk dos anos 2000, os termos remetem a uma suposta valentia do “tigrão” e a uma aparente fraqueza da “tchutchuca”.
Sob qualquer ângulo, o palavreado do deputado puxa para baixo a discussão da Previdência, assunto de grande relevância para os brasileiros. Primeiro, porque são vocábulos sem sentido e que nada agregam à compreensão dos temas em debate.
O mais grave, porém, está no caráter machista dos termos, aspecto muito explorado em eleições pelo campo político de Dirceu. Na campanha presidencial de 2014, por exemplo, os apoiadores da então candidata Dilma Rousseff (PT) fizeram do embate em torno dos gêneros um dos motes contra o adversário Aécio Neves (PSDB), classificado como machista pelos petistas.
Na forma como a questão foi conduzida, até parecia que o machismo era uma característica exclusiva dos tucanos, sem praticantes entre os partidários de Dilma. As motivações eleitorais, no caso, superaram os princípios da causa feminista.
Em outra audiência na Câmara, a ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, Damares Alves, referiu-se ao deputado Túlio Gadêlha (PDT-PE) (foto em destaque) com a expressão “meu Deus, como é lindo!”. Em resposta, pelo Twitter, o pedetista perdeu a elegância e escreveu que ela poderia “tirar Jesus da goiabeira que não vai rolar milagre não”.
Famoso pela beleza física e por namorar a jornalista Fátima Bernardes, ele preferiu fazer uma chacota com a ministra a dar uma resposta gentil ao elogio inesperado. Para piorar, a atitude teve como desdobramentos ataques nas redes sociais à aparência física de Damares, outro sintoma do baixo nível dos argumentos em voga.
“Priminho”
O ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad (PT) também deu sua contribuição para o viés sexista da discussão política. Chamado de “marmita” em uma postagem no Twitter pelo vereador Carlos Bolsonaro, filho do presidente, o petista retrucou: “Priminho tá bem?”.
No contexto, a expressão “marmita” teve o sentido de “marmita de preso”, referência às constantes visitas de Haddad ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na cadeia, em Curitiba. A resposta do ex-prefeito faz alusão a boatos sobre a relação entre Carlos e seu primo Leonardo Rodrigues de Jesus.
Por mais que negue, Haddad teve uma reação com a marca da homofobia, prática combatida enfaticamente pelos militantes de esquerda. Em qualquer circunstância, se quisesse, ele certamente teria argumentos mais refinados para se contrapor ao vereador.
Os três exemplos tratados aqui traduzem um pouco o momento difícil atravessado pela oposição. Derrotada nas urnas por Bolsonaro, um candidato sem nenhuma sofisticação, a esquerda ainda busca um discurso eficiente para enfrentar o capitão nas redes sociais.
Despolitização
O caminho para a volta ao poder ainda não se apresentou aos oposicionistas. Na busca do melhor discurso, porém, os adversários do presidente se rebaixam ao plano de Olavo de Carvalho em vez de aprofundar o debate político em torno das questões nacionais.
Nesse tom sexista, fica mais difícil para a oposição convencer os brasileiros de que tem projetos sérios para tirar o Brasil do buraco para onde foi empurrado. A despolitização do debate, obviamente, ajuda os aventureiros e populistas.
Fonte: Metropoles