O luto de um pai é o luto do país: “Meu filho morreu como herói”

O último contato do impressor gráfico Gercialdo Melquiades de Oliveira, de 38 anos, com o filho Samuel Melquiades Silva de Oliveira, de 16 anos, foi quando o jovem deixou a casa da família, na manhã de quarta-feira (13/3), rumo a mais um dia de aula no Colégio Estadual Raul Brasil.

No intervalo entre as aulas, naquela manhã, dois ex-alunos invadiram a instituição armados com um arsenal que incluía revólver, besta e machado, e atacaram estudantes e servidores. Samuel e quatro colegas tombaram no pátio. Duas funcionárias também morreram.

Menos de 30 horas depois do massacre, Gercialdo traduziu ao Metrópoles seu pesar e perplexidade diante da tragédia sem sentido. Assim como o pai enlutado, o país tenta entender o que motivou os dois ex-alunos daquela escola, no interior paulista, a executarem com crueldade oito pessoas e, depois, cumpriram um macabro pacto de não se deixar prender. Ao ver a chegada de policiais ao colégio, o assassino de 17 anos matou o comparsa de 25 anos e depois tirou a própria vida.

Antes da chacina, a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo havia registrado apenas um homicídio em 2019 na pacata cidade cuja Prefeitura contabiliza 285.257 habitantes. Desde as primeiras horas até o anoitecer dessa quinta-feira (14), Suzano parou para velar e enterrar seis das vítimas. Uma multidão de 15 mil pessoas participou das cerimônias fúnebres. Nesta sexta (15), a mobilização continua, durante o enterro de mais dois corpos.

No primeiro dia de sepultamentos, a despedida do filho de Gercialdo foi a que mais mobilizou jovens estudantes e pessoas da comunidade. Para família e amigos, Samuca – apelido carinhoso do adolescente matriculado há apenas três meses na Raul Brasil – morreu como um herói.

Samuel foi alvejado após se atirar na frente de uma colega que estava sob a mira do revólver do assassino adolescente. Os tiros dirigidos à menina acertaram a cabeça e o peito do estudante. “O Samuel era um menino que gostava de ajudar. Muita gente pode estranhar seu ato, mas quem conviveu com ele sabe que essa seria uma atitude do meu filho”, frisa o impressor gráfico.

Ele se doava pelos amigos. Meu filho era um herói e ele morreu como um herói. Só tenho a agradecer os 16 anos que vivemos juntos. A companhia desse filho maravilhoso

Gercialdo Melquiades de Oliveira, pai de Samuel, 16, morto na chacina em Suzano

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