Autismo: como lidar com comportamentos inadequados na volta às aulas

A volta às aulas demarca um período importante para a criança, pois significa a volta dos compromissos, responsabilidades, cobrança dos pais, interação com outras crianças, que por vezes são “problemáticas”, bem como, o acesso a atividades acadêmicas mais elaboradas que a do ano anterior, professores diferentes, enfim… Um mar de estimulação que poderá favorecer ou não a qualidade de vida dessa criança, por isso é comum que neste período aumente o comportamento inadequado de crianças que apresentam birras, choros frequentes, procrastinação e isolamento. Isso mesmo, o que para uns é motivo de festa, para outros, é de sofrimento, até que se passe por este processo de adaptação, depois de quase dois meses de férias. Em se tratando de autismo, a realidade não diferencia, ela até se agrava, pois crianças com autismo tendem a serem mais metódicas e desorganizadas tanto sensorialmente, quanto cognitivamente; motivo que faz agravar seu quadro que até então estava evoluindo, isso tudo porque a criança está em contato com um novo ambiente, com estimulações novas.

Considerando o quadro do Transtorno do Espectro do Autismo (TEA) como a soma de comportamentos que caracterizam dificuldades na interação social, linguagem e comportamentos repetitivos, podemos afirmar que a organização interna da criança com autismo parte de um ambiente externo que propicie esta sensação, diminuindo ansiedade e a agitação que muitas vezes essas crianças apresentam e os pais e cuidadores do contexto escolar não sabem o que fazer.

O comportamento de agitação da criança com TEA parte muitas vezes de sua dificuldade em se comunicar quando algo lhe incomoda. Determinados sons são suficiente para deixar uma criança com autismo ansiosa e com isso ela apresentar comportamentos inadequados com frequência nos ambientes, dificultando ainda mais sua interação e fortalecendo circuitos cerebrais onde a mesma bloqueia vias de aprendizagem, uma vez que está gastando suas energias para se tranquilizar frente a um ambiente de estimulação aversiva. Como o TEA se faz em um quadro que varia desde graus mais leves até graus mais severos do transtorno, as crianças tenderão a se comportar com mais ou menos frequência a depender de sua individualidade. Por isso que no atendimento clínico, fazemos um check-up de como esta criança se comporta fazendo os levantamentos de quais comportamentos precisam ser adquiridos e quais precisam ser extintos.

Mas pensando nessa volta às aulas, preparem umas dicas valiosas para pessoas que convivem com crianças com autismo a fim de evitar comportamentos indesejáveis no ambiente escolar.

  • É importante preparar esta criança para o que está por vir, por isso mostrar imagens da escola e da professora antes de sair de casa ajuda a amenizar sua agitação, uma vez que deixará esta criança mais confortável pois saberá para onde está indo. Mostrar sempre essas imagens atreladas a algo bom.

  • Atrelado a isso, é pertinente mostrar em imagens a sequencia dos comportamentos que a criança precisará emitir na escola, estimulando o sentar na mesinha para fazer atividades, a ida ao banheiro, as regras sociais da escola, etc. tornarão a criança capaz de se organizar ANTES de chegar no ambiente escolar.

  • Rotina é algo imprescindível para crianças com autismo, pois ela é capaz de organizar esta criança internamente, ajudando-a a captar melhor as estimulações do ambiente. Por isso, preparar a rotina antes de começar a escola, incluindo horário de dormir, principalmente, é extremamente necessário.

  • Alguns objetos lúdicos pessoais são importantes para a criança pois traz uma sensação de segurança para elas, por isso permitir com que carreguem esse objeto no ambiente escolar ao menos nos primeiros dias, ameniza sua ansiedade.

 

A insegurança que a criança sente é comum e natural diante de ambiente e pessoas pelas quais ela não está acostumada, por isso trabalhar com dicas visuais e antecipação do que está por vir é uma forma de organizá-la e diminuir sua ansiedade. Afinal, sejamos nós autistas ou não, ficamos mais calmos quando sabemos tudo que acontecerá nos momentos seguintes quando saímos de casa.

Espero ter ajudado! Até mais.

Diego Vieira – Psicólogo Comportamental CRP 15/4764 -Especializando em neuropsicologia e especializando em educação educacional e inclusiva.

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