Ministério Público de Goiás estuda interditar centro espírita de João de Deus
O Ministério Público do Estado de Goiás estuda interditar a Casa de Dom Inácio de Loyola, centro espiritual onde o médium João Teixeira de Farias, conhecido mundialmente como João de Deus, atende semanalmente milhares de fiéis. Como revelou O GLOBO e o programa ?Conversa com Bial?, da TV Globo, mulheres acusaram o médium de abusos sexuais que teriam acontecido dentro do centro espiritual, localizado na pequena cidade de Abadiânia, no Interior de Goiás.
O promotor Luciano Miranda Meirelles, coordenador do Centro de Apoio Criminal do MP de Goiás, afirmou que João de Deus será convocado para prestar depoimento assim que o órgão começar a coletar os primeiros depoimentos das vítimas.
– Se determinado que aquele lugar (centro espiritual) é um local de de crimes, a interdição será necessária – destacou.
Na manhã desta segunda-feira, o Ministério Público em Goiás formalizou a criação de uma força-tarefa, composta por quatro promotores e dois psicólogos, para investigar as denúncias de abuso sexual que estão chegando de diversas partes do Brasil e do Mundo contra o líder religioso. Ainda de acordo com o MP, toda investigação será concentrada na força-tarefa.
– Sabemos inclusive que há vítimas no Brasil inteiro e fora do país. Não vai ser necessário que elas venham até Goiás, elas podem procurar o MP nas suas localidades. Após a reportagem a gente se organizou e montou uma força-tarefa. Passamos o fim de semana analisando como ela funcionaria.
De acordo com o MP, Ministério Públicos de diversos estados do país irão colaborar com as investigações. Em pelo menos dois estados, Minas Gerais e São Paulo, vítimas procuraram o ministério público logo após os casos de outras mulheres terem vindo à tona por meio de reportagem da TV Globo e do Jornal O GLOBO. Já há depoimentos marados, nesses estados, para acontecer amanhã segundo o MP.
– Estamos recebendo a informação que depoimentos foram agendados em outros estados. Já há depoimentos marcados para amanhã. Esperamos que isso vai servir para que as vítimas procurem o MP. Elas são as vítimas, elas não são culpadas. Sei que há medo, há temor em crimes dessa natureza. Mas o ministério público vai dar proteção que for necessário — completou o promotor.
A promotora Patrícia Otoni, que também irá compor a força-tarefa, destaca que um e-mail sigiloso foi criado especificamente (denuncias@mpgo.mp.br) para receber as denúncias. Somente os promotores da força-tarefa terão acesso a esses e-mais, para garantir a preservação da identidade das vítimas.
– Em crimes desse tipo, as vítimas demoram um tempo até ter coragem de denunciar. É importante que elas se sintam encorajadas para denunciar. Nós montamos essa força-tarefa para ampará-las nesse depoimento, e para que elas possam se sentir seguras, para que os crimes sejam apurados. Estamos em contato com promotores do Brasil inteiro – explicou.
Luciano ressaltou que o depoimento das vítimas, em casos como este, são tratados pelo MP com sobrevalor.
– Estupro não é um crime que acontece a luz do dia. O depoimento da vítima tem sobrevalor, então não tem porque a gente duvidar das mulheres. Elas não vêm aqui a troco de nada. O depoimento da vítima pode ser o único meio para levar à condenação.
Segundo o MP de Goiás, desde quando as reportagens da Rede Globo foram veiculadas, o telefone do órgão não parou de tocar.
– As vítimas estão ligando de todo o país. Se for necessário, podemos aumentar o tamanho da força-tarefa para dar conta do trabalho – completou Patrícia.