Grafiteiro Kobra refaz em Nova York mural apagado em SP

Pregar tolerância num país governado pelo republicano Donald Trump é o que tem motivado o artista brasileiro Eduardo Kobra nos últimos dois meses. Foi esse o tema das imagens que o artista começou a pintar pelas paredes de Nova York.

Se tudo der certo, o grafiteiro e muralista paulista de 42 anos terminará o ano com 20 murais espalhados pela cidade, todos inseridos no projeto “Cores pela Liberdade”. E todos, de alguma forma, fazendo alusão a temas como paz, discriminação e preconceito.

“Passando por tantos lugares, conhecendo tantas culturas, eu descobri que a base da tolerância é o respeito”, afirma. “Acho que as pessoas estão muito radicais umas com as outras.”

Entre os painéis, algumas criações famosas, entre elas a pintura do cientista Albert Einstein andando de bicicleta, apagada em janeiro deste ano por uma loja da badalada Oscar Freire e substituída pela palavra Love (amor, em inglês).

A decisão da loja causou polêmica à época. Kobra disse ter ficado triste por não ter sido avisado. Em Nova York, isso não será problema. O painel foi negociado com os donos do prédio, localizado entre a rua 48 e a Terceira Avenida.

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Mesmo sendo uma recriação, o Einstein não foge à temática principal do projeto, afirma o artista, que pinta desde os 12 anos. “O Albert Einstein é uma das pessoas que lutou pela causa da paz também”, diz. “E existe uma mensagem que vai ser colocada aqui, que muda um pouco a mensagem do mural em São Paulo. É uma releitura, com a temática da paz, de uma das fórmulas do Einstein.”

Outro painel famoso recriado será “O Beijo”. É uma reprodução da fotografia de Alfred Eisenstaedt que retrata um marinheiro beijando uma jovem na Times Square depois da vitória sobre o Japão, em 14 de agosto de 1945.

Kobra já havia pintado a obra numa parede de um prédio no High Line, parque suspenso de Nova York. Agora, o mural será reproduzido na ponte do Brooklyn, que liga Manhattan ao distrito vizinho. O projeto começou a se desenhar na cabeça do paulistano há quatro anos. As negociações com os donos dos espaços públicos e privados ganharam força nos últimos dois.

“Depois que eu pintei ‘O Beijo’, muitas pessoas me convidaram para pintar, só que eu estava viajando muito. Eu guardei os contatos e retomamos as conversas com a ideia de fazer uma sequência de muros”, diz.

Kobra afirma ter imposto apenas uma condição: que ninguém interferisse na criação dos desenhos. “Todos têm uma conexão, fazem parte de um projeto”, diz. “Uma das grandes dificuldades desse projeto é realmente as pessoas entenderem a proposta e autorizarem a proposta e a execução do trabalho sem interferirem em nada.”

Mas isso não significa que o dono do imóvel onde cada mural foi pintado ficou completamente no escuro. Cada um teve acesso a dois ou três desenhos, e pôde escolher qual desejava. Algumas autorizações ainda estão pendentes, afirma. “Talvez a gente não consiga fazer 15 ou 20. O Einstein foi o nono, talvez a gente faça dez ou 12, não sabemos ainda”, diz Kobra, que deve ficar mais dois meses na cidade.

Em outros casos, o grafiteiro sugeriu uma obra específica -e torceu para que os proprietários aceitassem. Foi o caso da pintura que remete ao 11 de Setembro, na esquina da rua 49 com a Terceira Avenida.”Eu queria que ela fosse colocada aqui. Pela posição e formato da imagem, ela não é adequada a qualquer lugar. Uma parede na horizontal já não funcionava”, conta.

A imagem de um bombeiro desolado, apoiado num cabo de machado, foi inspirada numa foto tirada no dia do ataque às Torres Gêmeas, em Nova York. Até chegar ao desenho final, Kobra realizou dez esboços. Para o projeto todo, foram mais de cem criações.

A imagem é recheada de simbolismos. Há alusão à bandeira americana, em que as estrelas representam as vidas perdidas. O capacete tem o número 343, a quantidade de bombeiros e oficiais mortos no atentado. E duas grandes faixas brancas são as Torres Gêmeas.

Alguns dos murais são caros ao artista, como o que ele deve pintar na escola frequentada por um dos seus ídolos, Jean-Michel Basquiat, referência para a arte de rua nova-iorquina e mundial. “O Basquiat, obviamente, é minha grande referência na arte de rua. E o mural que vou fazer lá é justamente sobre os imigrantes que chegaram a Nova York há cem anos pela Ellis Island.” Com informações da Folhapress.

 

Fonte: Notícias ao Minuto

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