A rotina de uma criança de 5 anos é quase sempre a mesma: brincar, ir à escola e aproveitar a infância. Um morador de Votorantim (SP) até conseguiria fazer tudo isso sem problemas, se não fosse uma escoliose de 90º. O garoto aguarda a cirurgia para corrigir o problema na coluna há mais de dois anos.
“Como a bacia dele está entortando e o pé direito virando para dentro, ele cai muito, reclama de dor e, muitas vezes, não consegue dormir. É torturante”, conta Gleice Letícia dos Santos Campos, de 24 anos, tia de Vinícius Campos.
Segundo ela, o problema vai além da escoliose do sobrinho: o que realmente a deixa desesperada é a demora do sistema público de saúde. Ela contou que, em 2016, o Conjunto Hospitalar de Sorocaba (CHS) deu uma guia para ela ir ao Hospital das Clínicas (HC), em São Paulo. Era para dar tudo certo, mas houve um erro de procedimento.
“Marcaram uma consulta pós-operatória, sendo que ele nem chegou perto de uma cirurgia. Não sabemos se quem errou foi o CHS ou o posto de saúde, só sei que ficamos sem a consulta”, afirma a tia.
Ela contou ao G1 que, em dezembro de 2017, fez novamente o pedido de consulta, mas outra vez o desejo foi frustrado. “A guia foi encaminhada à Central de Regulação de Ofertas de Serviços de Saúde (Cross), então é como se tivesse voltado ao fim da fila”, lamenta Gleice.
Em nota, a Secretaria da Saúde de Votorantim informou que está acompanhando o caso de Vinícius e que sua única ação foi encaminhá-lo ao CHS. A Secretaria do Estado de São Paulo foi procurada para se pronunciar sobre o assunto, mas, até o momento, não enviou resposta ao G1.
Fábio Akiyama, fisioterapeuta especializado em coluna e postura, afirma que os anos de espera prejudicaram Vinícius.
“Ele está em uma fase muito importante do desenvolvimento físico, a postura desse jeito pode influenciar negativamente até em atividades cognitivas e causar dificuldade de raciocínio por conta da dor e desconforto”, explica.
Fábio ainda diz que se algum procedimento cirúrgico – ou até mesmo fisioterápico – tivesse sido feito antes, quando a escoliose foi descoberta, as consequências ao menino poderiam ter sido muito menores.
Segundo a tia do garoto, o CHS não faz este tipo de cirurgia em crianças, por isso ele foi encaminhado ao HC. O hospital fica a mais de 100 quilômetros do bairro Pró-Morar, onde Vinícius mora com a tia e a avó.
Gleice afirma que a escoliose do sobrinho tem 90º de envergadura e é compatível com a de uma criança de 9 a 10 anos. Segundo o ortopedista de Vinícius, ele pode até ficar sem os movimentos da perna.
Diagnóstico e apelo nas redes sociais
A situação de Vinícius levou Gleice a fazer um apelo nas redes sociais: “precisamos de ajuda do governo pra fazer essa cirurgia, que fazem sim pelo SUS! Mas não tem vaga…ele [Vinícius] precisa de um acompanhamento também”, disse na publicação.
A postagem tem mais de 6,3 mil compartilhamentos, 1,3 mil curtidas e quase 200 comentários dando apoio ao menino. Mesmo assim, ela contou que nos últimos dias Vinícius passou por uma situação constrangedora na escola.
“Outras crianças tiraram sarro dele. Com isso, ele ficou agressivo. Isso é muito difícil pra mim, pois cuido como se fosse meu filho. Me sinto mal de verdade”, lamenta.
Ao G1, Gleice contou que o sobrinho foi diagnosticado com escoliose quando tinha apenas 1 ano. Desde então, o garoto passa por uma batalha para conseguir fazer uma operação que, em hospitais particulares, custaria R$ 150 mil.
Desempregada há dois anos, Gleice afirma que a família não tem condições de arcar com os custos da internação, médicos e remédios.