Rodrigo Lombardi volta aos palcos com peça escrita em 1955 nos EUA: ‘A mais importante que já fiz’

Mas a partir desta sexta-feira (3), no Teatro Raul Cortez, em São Paulo, Rodrigo volta às raízes na peça “Um panorama visto da ponte”, do dramaturgo norte-americano Arthur Miller.

Ela foi apresentada pela primeira vez em Nova York em 1955, com direito a uma série de remontagens ao longo dos anos (incluindo uma brasileira, em 1958) e um filme em 1961.

Mas nenhuma das montagens anteriores serviu de inspiração para Lombardi na hora de compor Eddie Carbone, um imigrante italiano, morador do Brooklyn em Nova York, e casado com Beatrice. O casal cria a sobrinha órfã Catherine.

“Me inspirei no texto. A peça foi escrita num momento de efervescência política nos Estados Unidos, porque foi num momento onde um senador McCarthy provocou uma caça às bruxas ao comunismo”, contextualiza em entrevista ao G1.

“A classe artística sofreu muito. E a peça sobrevive ao tempo. É o que se passa dentro de uma casa que poderia ser a sua, do seu vizinho… Porque ela fala de anseios, desejos, vontades e crenças, que são do humano”.

Um dos temas na peça é o da imigração. “A gente vê a nossa fronteira aqui sendo transporta pelos venezuelanos. Só que o Brasil acolhe. Os EUA têm medo. E então eles engaiolam. A gente precisa aprender a se condoer com a dor do outro.”

Uma das falas da peça diz que “é mais fácil conseguir de volta um milhão de dólares que foi roubado do que uma palavra que a gente deixa escapar”. Em tempos de redes sociais, qual o peso dessa frase 60 anos após o texto ser escrito?

“A rede social está aí, é um processo novo em que o mundo não sabe o que fazer. A gente está engatinhando. Mas ela dá voz para todo mundo e você tem que saber se orientar, saber o que você ouve, o que discute, o que descarta”.

“As redes sociais tiraram o foco da vida e jogaram para a tela de um celular, de um computador”, analisa Rodrigo.

Ele também fala sobre a pressão que fazem para que famosos sempre se pronunciem sobre questões polêmicas.

“Nós não temos opinião sobre todos os assuntos. Nós somos pessoas comuns como qualquer outra. E a gente está mais atento em dado momento pra um assunto, menos para outro… E existem momentos que a gente precisa saber ouvir”.

Rodrigo conta que, com frequência, é questionado sobre o motivo de gostar de fazer teatro. “A troca com o espectador ao vivo, ali, é muito importante”, explica.

“Não se preocupe, a gente não vai pegar você e falar pra subir no palco, não é isso que estou falando. Mas essa troca de energia, a gente sente a aceitação ou a não aceitação a cada frase, a cada movimentação. É, talvez, o maior alimento do ator”.

“Talvez essa peça seja a mais importante que fiz até hoje. Juntando tudo, meu momento, o momento do país, as pessoas com quem estou trabalhando, tendo construído tudo o que a gente construiu… É um texto incrível, o drama acontece pelo cômico, pelo dia a dia, pelas coisas nas quais a gente se identifica. Essa é a beleza”, descreve o ator.

Rodrigo conta ainda que, ao final de cada espetáculo, o espectador vai poder contribuir com a obra e discutir o tema em um bate-papo aberto com os artistas.

“Para que a gente possa continuar melhorando no espetáculo seguinte. Cada pergunta, cada resposta de um espectador, são muito importantes pra gente”.

• Onde: Teatro Raul Cortez (Fecomércio) – Rua Dr. Plínio Barreto 285 – Bela Vista, SP – 11-3254.1631
• Quando: 03 de Agosto até 25 de novembro – Sexta (21h30), Sábado (21h), Domingo (18h).
• Ingressos: de R$ 40 a R$ 80