Provedor silencia sobre fechamento do Instituto do Coração após carta protesto do cardiologista José Wanderley Neto

Ilustração

Carta enviada pelo dr. José Wanderley Neto à Mesa Administrativa da Santa Casa e aos alagoanos, em maio deste ano.

Maceió, 14 de Maio de 2018.

Meu nome é José Wanderley Neto, alagoano de Cacimbinhas, médico, cirurgião cardiovascular com mais de 40 anos de história profissional e dedicação à cardiologia e à honrosa instituição filantrópica, Santa Casa de Misericórdia de Maceió.

Durante esse período não medimos esforços para salvar vidas e acalentar os corações dos que mais necessitam de assistência, o alagoano pobre e dependente do SUS. São pessoas que precisam da essência filantrópica do hospital e abnegação de sua equipe médica.

Estivemos sempre, eu e toda a minha equipe de médicos e demais profissionais de saúde, superando os desafios e obtendo conquistas para a cardiologia alagoana, e, agregando ensino, pesquisa e assistência, operamos mais de 20.000 doentes e treinamos mais de 80 cardiologistas, colocando Alagoas no mapa cientifico do Brasil ao realizar contribuições relevantes e originais que serviram de modelo para o país, a exemplo o programa de transplante de coração, iniciado há 25 anos, com histórias de vida emocionantes.

Mas, revestido com a falácia FINANCEIRA, o espírito original e norteador das ações clínicas e institucionais da Santa Casa, que é a FILANTROPIA, se perdeu com o comando ditatorial de uma gestão predatória, que busca eliminar os que não concordam com o afastamento da instituição do seu motivo SER, defnido desde quando fundada há mais de 150 anos, que é cuidar dos mais desfavorecidos e prestar um serviço de excelência e humanizado para toda a população alagoana.

Em 2014, a atual direção da Santa Casa de Misericórdia de Maceió decidiu fechar o centro cirúrgico da cardiologia, iniciando o desmonte de todo o serviço. Na ocasião, comunicamos à Mesa Administrativa, por escrito, para que ficasse marcada a posição da equipe alinhada com as melhores práticas de cuidados em cardiologia.

O desmonte, injustificável, continuou com várias medidas tomadas pela atual direção e causou a divisão do corpo clínico e separamento dos setores, promovendo discórdia e fazendo desaparecer, gradativamente, a importante contribuição dos cardiologistas fundadores do serviço de cardiologia e a referência na especialidade.

O Dr. Cid Célio Cavalcante é uma das vítimas desse desmonte. Ele abandonou constrangido o serviço de hemodinâmica ao constatar que dois médicos tinham entrado no serviço sem a sua anuência e sem nenhuma necessidade técnica ou justificativa.

Os médicos fundadores do serviço de cardiologia que permanecem não são chamados para serem ouvidos pela atual direção e, por isso, lamentavelmente, não têm nenhuma participação nas decisões, sejam administrativas ou técnicas.

Leitos foram suprimidos, decisões foram tomadas a esmo, sem consulta ao Conselho Médico, que continua fechado, sendo introduzida mais uma “equipe de cirurgia” sem necessidade ou fundamento. De modo que, atualmente, não temos mais uma equipe de cirurgia cardíaca na Santa Casa, mas cirurgiões que operam doentes quando há vagas. 

A ação de desmonte continuou com o fechamento do Instituto de Doenças do Coração (IDC), onde dispúnhamos de sala administrativa, sala de reuniões e biblioteca que proporcionaram um vitorioso programa de treinamento em cirurgia cardiovascular, essencial para que tivéssemos a continuidade e a ampliação do atendimento cirúrgico no estado.

Diante dessa situação incompreensível, do desmonte injusto e irracional, comunico que não sou mais o coordenador da cardiologia e da cirurgia cardiovascular da Santa Casa.

Entretanto, esclareço que o Instituto de Doenças do Coração (agora extinto pela direção) continuará existindo, porque é uma ideia bem-sucedida, em defesa do ensino, da pesquisa e da assistência, e não depende de estrutura física ou de bens materiais.

Portanto, sendo uma ideia, permanecerá vivo e atuante, sendo substituído apenas por outra ideia melhor. E continuará existindo graças aos inúmeros cardiologistas que foram formados e atuam em Alagoas e na Santa Casa.

A equipe da cardiologia e cirurgia cardiovascular, conforme histórico e cartas envidas a Mesa Administrativa da Santa Casa de Misericórdia de Maceió, nunca se recusou a contribuir com a gestão e na melhoria de fluxos e processos, visando sempre o bem estar do paciente e sustentabilidade financeira para manutenção dos programas e ações assistenciais.

Lembro que em janeiro de 2015, parte expressiva do corpo clinico solicitou reunião com a Mesa Diretora da Santa Casa, que só foi agendada em junho do mesmo ano, e manifestou por escrito (anexo II) o inconformismo gerl, sem, entretanto, qualquer mudança visível. Coordenado pelo Prof. Carlos Macias, foi sugerido um plano de estruturação da Cardiologia que foi solenemente ignorado pela direção.

Em que pese as circunstâncias adversas, continuarei como cirurgião na Santa Casa e cuidarei de quem me procurar, embora lamente, profundamente, que existam grandes limitações impostas pelo modelo adotado pela direção para a realização do exercício pleno da cirurgia cardiovascular.

Compreendo, plenamente, que a Santa Casa é um hospital comunitário e que as pessoas que o administram passam. 

Entretanto, também estenderei meu trabalho a outras instituições e lutarei para ampliar os leitos de cardiologia e melhorar o atendimento a todos os alagoanos, principalmente aos que dependem dos SUS, continuando firme na missão que iniciei há 40 anos quando retornei à minha terra para implantar a cirurgia cardíaca.

Agradeço a confiança dos alagoanos, que ao longo dessas décadas escolheram e confiaram em nossa equipe e nosso compromisso de atender a todos com correção, humanismo e solidariedade.

Que Deus abençoe a todos.

Cordialmente,

Dr. José Wanderley Neto

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