Polícia fecha ruas para reconstituição das mortes de Anderson e Marielle
Na noite desta quinta-feira, a polícia fechou quatro ruas do Estácio, na Zona Norte do Rio, mobilizou 200 homens do Exército e da Polícia Militar e bloqueou o espaço aéreo para a reprodução simulada dos homicídios de Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes. A reconstituição exigiu uma grande preparação porque foram efetuados disparos com balas de verdade, para que as testemunhas pudessem comparar o som dos tiros.
Sacos de areia foram dispostos no chão para absorver os projéteis, e a área foi cercada por plásticos pretos, para impedir a visão de pessoas não autorizadas. Quatro testemunhas que estavam na rua no dia do crime participaram da simulação. Pelo barulhos dos tiros, os policiais queriam tentar confirmar que uma submetralhadora foi utilizada na execução. Até a habilidade do atirador foi discutida, com o objetivo de identificar seu nível de experiência.
Os preparativos começaram por volta das 10h da manhã. Dezenas de militares foram enviados para a esquina das ruas Joaquim Palhares e João Paulo I, no Estácio, onde ocorreu o crime. Seis caminhões e um ônibus do Exército estacionaram em uma faixa da Rua João Paulo I, provocando a interdição parcial da via. A simulação foi comandada pela Delegacia de Homicídios, com o apoio logístico do Comando Conjunto.
Para evitar congestionamento, agentes de trânsito atuaram no local. A reconstituição ocorreu às 22h, horário próximo ao do crime. Um veículo modelo Gol, com características semelhantes ao usado pelas vítimas, foi utilizado na ação.
À noite, o delegado Giniton Lages, titular da Delegacia de Homicídios, explicou os objetivos da polícia ao realizar a reprodução simulada:
— Nós não temos imagem do momento em que o crime ocorreu. Então, em investigações com esse problema, a reprodução simulada é uma ferramenta imprescindível. Nós contamos com as testemunhas presenciais. Elas foram localizadas e estão presentes no inquérito, já fazem parte do arcabouço probatório do inquérito. Essas testemunhas voltam ao cenário do crime e é importante, através das percepções auditivas e visuais delas, reconstruir toda a dinâmica do que aconteceu.
O delegado explicou os detalhes que estava buscando esclarecer:
— É preciso ter a percepção exata da movimentação dos veículos na área do crime, a percepção auditiva e levantarmos qual o armamento empregado. Se houve perícia ou não do atirador para o manuseio da arma e como foi disparo, se foi em rajada, se foi intermitente. São todas perguntas muito importantes para a continuidade das investigações.
QUATRO HORAS DE DURAÇÃO
A previsão da polícia é que a simulação durasse em torno de quatro horas, feita por peritos criminais. A imprensa foi mantida a cerca de 30 metros de distância. de onde ocorreu a simulação, atrás de um plástico que impede a visão. O chefe de Polícia Civil, delegado Rivaldo Barbosa, acompanhou a ação.
A reprodução estava agendada desde o fim de abril. Na ocasião, o secretário de Segurança, general Richard Nunes, atribuiu a demora à complexidade do trabalho, que incluiu disparos reais de arma de fogo, numa via pública.
AGENTES CONFUNDEM RAPAZ COM ENVOLVIDO NO CRIME
À procura de um homem identificado como Tiago Macaco, que a testemunha ouvida pelo GLOBO diz ter sido o encarregado de fazer o levantamento dos hábitos da vereadora Marielle Franco, a mando do ex-PM Orlando de Curicica, policiais civis invadiram e reviraram por engano, na noite de quarta-feira, a casa de um rapaz chamado Tiago do Nascimento, também conhecido como Tiago Macaco, no Rio.
Nascimento disse à TV Globo que não estava em casa quando os policiais apareceram. Ao chegar, já encontrou os armários revirados:
— Estava tudo no chão. Não entendi nada. Fui informado por um primo que uns policiais, de colete, entraram correndo procurando um tal de Tiago Macaco, que era meu apelido antigo. Eles reviraram gavetas, armários, e abriram a bolsa da minha irmã.
Tiago disse que deduziu que os policiais fossem da Divisão de Homicídios e foi imediatamente para a delegacia.
— Quando cheguei, os agentes me levaram para a cela, mandaram eu tirar meu boné e minha bermuda, e me colocaram dentro da cela de sunga, dizendo que eu estava preso porque era o Tiago Macaco.
O rapaz passou cerca de 20 minutos preso, até os policiais se darem conta do engano. Um delegado pediu desculpas e mandou que ele fosse embora. Nesta quinta-feira, orientado pelo advogado Nilson Cardoso, Tiago decidiu levar o caso à Corregedoria da Polícia Civil, para que seja avaliada a conduta dos policiais, além dos procedimentos adotados na delegacia. Imagens de objetos revirados na casa de Tiago foram exibidas na TV. A Divisão de Homicídios negou que o rapaz tenha sido despido e colocado numa cela.,
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