Quem são os colegas de prisão de Lula em Curitiba
Se o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva pudesse se encontrar com seus novos vizinhos na carceragem da Polícia Federal, em Curitiba, seria difícil evitar um certo constrangimento. Ele encontraria ali ex-amigos que foram diretamente responsáveis pela sua atual situação.
Um deles é Léo Pinheiro, ex-presidente da construtora OAS, que disse em depoimento que o tríplex que a empresa reformou no Guarujá pertencia, sim, ao ex-presidente – algo que sua defesa nega. Outro é o ex-ministro da Fazenda e ex-braço direito de Lula, Antonio Palocci, que afirmou ao juiz Sergio Moro que o ex-presidente tinha um “pacto de sangue” com a construtora Odebrecht.
Lula, no entanto, não deverá ter contato com nenhum deles.
O líder petista, que foi citado por alguns em suas delações premiadas na Lava Jato, está em uma sala especialmente adaptada para recebê-lo no centro do prédio, afastado da carceragem onde estão os demais presos.
Lula também terá direito a uma hora a mais de banho de sol, em horário diferente dos outros presos, justamente para que eles não tenham contato.
O ex-presidente faz as mesmas refeições que os outros presos, mas ainda não teve banho de sol desde que chegou à PF. Segundo seu advogado, Cristiani Zanin, isso ainda sera definido.
Confira quem são os outros presos da Lava Jato no mesmo lugar que Lula:
Antônio Palocci
Um dos aliados mais próximos de Lula e interlocutor entre o ex-presidente e o mercado, Palocci é tido como o responsável pelo maior golpe sofrido por Lula na Lava Jato. Palocci foi ministro da Fazenda na gestão Lula e ministro-chefe da Casa Civil no primeiro governo de Dilma Rousseff.
Ele está preso em Curitiba desde 2016, e foi condenado em primeira instância pelo juiz Sergio Moro em 2017 a 12 anos, dois meses e 20 dias de prisão por corrupção passiva e lavagem de dinheiro.
Segundo a decisão de Moro, Palocci recebeu propina para atuar em favor da Odebrecht junto ao governo federal, entre 2008 e 2013. Ele também teria intermediado propinas pagas pela empresa ao PT. Na planilha de propina da Odebrecht, ele seria o “italiano”. Palocci nega.
Em um depoimento explosivo concedido a Moro em setembro de 2017, Palocci fez acusações a Lula e disse que o governo do ex-presidente tinha um “pacto de sangue” com a empreiteira.
Ele disse ainda que a ex-presidente Dilma Rousseff não apenas sabia do esquema corrupto entre PT, Odebrecht e outras empreiteiras, como foi beneficiária e mantenedora dos arranjos – algo que ela nega. Segundo ele, tanto as campanhas presidenciais de Lula quanto as de sua sucessora foram custeadas com dinheiro ilícito.
O ex-ministro foi preso preventivamente. Seus advogados de defesa negam as acusações e dizem que houve “antecipação da pena”. Pedidos por sua liberdade no TRF-4 foram negados.
Lula nega todas as acusações feitas por Palocci e afirma que o ex-ministro disse o que falou para tentar fechar um acordo de delação premiada que o libertasse mais cedo da prisão. A negociação de colaboração de Palocci com a Justiça não foi concluída até hoje.
Léo Pinheiro
O ex-presidente da construtora OAS, cujo nome é José Adelmário Pinheiro, também foi condenado em segunda instância por corrupção ativa e lavagem de dinheiro na Lava Jato.
Para os investigadores, a empreiteira OAS teria dado um apartamento tríplex no Guarujá (SP) a Lula como forma de propina para obter vantagens em contratos públicos da Petrobras. Embora não tenha fechado acordo de delação ainda, Léo Pinheiro já teve penas reduzidas por colaborar com a Justiça.
Em um de seus depoimentos ao juiz Sérgio Moro, Pinheiro disse que o apartamento no litoral paulista era sim destinado a Lula, o que o ex-presidente nega. Conhecido por manter amizade com Lula, Pinheiro inicialmente negou a participação de Lula no esquema criminosos.
Mudou de versão, no entanto, com o avanço da operação Lava Jato e contou ter sido responsável por intermediar a concessão do “presente” ao ex-presidente. Lula nega todas as acusações.
Até agora, Léo Pinheiro já foi condenado por Sergio Moro em três processos (incluindo o do tríplex). Em dois casos, as condenações foram confirmadas pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região, o TRF-4. Ele também é réu em outro processo com Lula, o que trata do suposto favorecimento ao petista por meio de um sítio em Atibaia (SP).
Pinheiro foi condenado a 26 anos e sete meses de prisão por corrupção e lavagem de dinheiro e, no caso do tríplex, a mais três anos e seis meses.
Renato Duque
Até o momento, o ex-diretor de Serviços da Petrobras tem uma das penas mais altas aplicada na Lava Jato. Somados os processos em que está envolvido, sua pena chega a 84 anos e três meses.
Ele foi condenado por corrupção, lavagem de dinheiro e associação criminosa pelo juiz Sergio Moro, pelo recebimento de propina em contratos da Petrobras com a construtora Andrade Gutierrez.
No TRF-4, sua pena por esse crime foi aumentada de 20 anos e oito meses para 43 anos e nove meses.
Ele está envolvido em mais dois processos de corrupção, relacionados com a fraude de licitações da Petrobras. Em um deles, sua pena aumentou de 10 anos para 21 anos e quatro meses, por corrupção passiva.
O outro está suspenso, mas Duque já foi condenado em primeira instância a 20 anos e três meses de prisão.
No entanto, em junho de 2017, o juiz Sergio Moro determinou que Duque poderá sair da prisão após cinco anos em regime fechado, independentemente da pena acumulada, caso se disponha a um acordo de delação premiada.
Moro entendeu que Duque “prestou algumas informações relevantes sobre o esquema criminoso por parte de terceiros”. O ex-diretor da Petrobras também se comprometeu a devolver 20 milhões de euros (quase R$ 75 milhões) que estão em contas no exterior.
O benefício ainda pode ser revogado se Duque não fizer acordo de delação ou caso fique comprovado que ele mentiu.
Em seu depoimento a Sergio Moro, Duque afirmou que Lula “sabia de tudo” no esquema de corrupção da Petrobras.
Ele também relatou um encontro com o petista no aeroporto de Congonhas, em São Paulo, quando a Lava Jato já o investigava, em 2014. O encontro foi intermediado pelo ex-tesoureiro do PT, João Vaccari Neto. Segundo Duque, Lula teria perguntado a ele se ele tinha dinheiro em contas na Suíça e afirmou: “Não pode ter nada no teu nome, entendeu?”.
Diante de Moro, Lula confirmou que o encontro ocorreu, mas que ele pediu a Vaccari que chamasse Duque apenas para questioná-lo sobre notícias que viu na imprensa. Minutos antes, no entanto, Lula havia dito que não sabia que Vaccari e Duque tinham uma relação.
Segundo os procuradores, as afirmações de Lula se contradiziam, o que pode ter complicado sua situação nas investigações.
Agenor Franklin Medeiros
O ex-executivo da empreiteira OAS foi condenado pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4) por corrupção ativa, lavagem de dinheiro e organização criminosa. Sua pena total foi de 26 anos e sete meses de prisão.
No caso tríplex, o mesmo de Lula, Medeiros foi condenado a um ano e dez meses de prisão por corrupção ativa. Moro determinou que ele começasse a cumprir pena em setembro de 2017, após a condenação em segunda instância.
Em seu depoimento à PF, Medeiros disse que a OAS, assim como a empreiteira Odebrecht, tinha uma área responsável por controlar o pagamento de “vantagens indevidas” a políticos.
Ele afirmou também que o partido mais beneficiado era o PT. Zanin, advogado de Lula, disse que Medeiros, assim como Léo Pinheiro, tinha dado seu depoimento em busca de um acordo de delação premiada e não tinha “compromisso com a verdade”.
Adir Assad
O empresário tem um dos “currículos” mais extensos entre os presos em Curitiba. Além de já ter sido envolvido em outros escândalos de corrupção, como a investigação sobre a atuação do empresário de jogo do bicho Carlinhos Cachoeira, Assad foi investigado em três desdobramentos da Lava Jato.
Ele é acusado de ser um operador de propinas que usava empresas de fachada para lavar dinheiro e distribuir pagamentos a funcionários da Petrobras, políticos e empreiteiros.
De acordo com o esquema, empreiteiras contratavam uma de suas empresas para obras de terraplanagem que não eram feitas. Mesmo assim, Assad emitia notas fiscais milionárias e repassava o dinheiro, como propina, aos agentes públicos.
Assad também promovia shows internacionais no Brasil, como os da banda irlandesa U2 e da cantor americana Beyoncé. Sua empresa de promoção de shows também teria sido usada no esquema de lavagem de dinheiro.
No início da Lava Jato, Assad foi condenado a 10 anos e 10 meses de prisão por lavagem de dinheiro e associação criminosa. Ele teve concedido, pelo STF, o direito de cumprir prisão domiciliar usando uma tornozeleira eletrônica.
Mas em agosto de 2016, ele foi preso novamente em outra fase da operação.
E em 2017, foi condenado a mais 13 anos de prisão por outra investigação da PF, não relacionada com a Lava Jato.
José Antônio de Jesus
Ex-gerente da Transpetro – subsidiária da Petrobras que atua na área de Transporte -, José Antônio de Jesus foi preso temporariamente pela Polícia Federal em novembro de 2017, na Operação Sothis, a 47ª fase da Lava Jato.
Ele foi acusado de intermediar o pagamento de R$ 7 milhões em propina da empresa de engenharia NM ao PT, para que a empresa fosse favorecida em um contrato da Transpetro.
Sua prisão, inicialmente temporária, foi transformada em preventiva.
Bruno Luz
O lobista Bruno Luz é apontado pela PF como um operador financeiro ligado ao PMDB no esquema de corrupção na Petrobras, juntamente com seu pai, Jorge Luz, que chegou a ser chamado de “o operador dos operadores”.
Segundo as acusações, eles intermediavam o pagamento de propinas a políticos do PMDB e a funcionários da Petrobras usando contas no exterior.
Em outubro de 2017, Sergio Moro condenou Bruno Luz a seis anos e oito meses de prisão por corrupção e lavagem de dinheiro.
Helio Ogama
Ogama era diretor-presidente da concessionária de rodovias Triunfo Econorte, suspeita de participar de um esquema de lavagem de dinheiro. Ele foi preso na 48ª fase da Lava Jato, a Operação Integração, que foi a primeira de 2018.
A operação apurava casos de corrupção ligados à concessão de rodovias federais no Paraná que fazem parte do chamado anel da integração, que liga importantes cidades do Estado.
Segundo a força-tarefa da Lava Jato, a tarifa de pedágio no Estado foi superfaturada para financiar o esquema.
Ogama foi acusado de corrupção, fraude em licitações e lavagem de dinheiro. Seus advogados de defesa negam as acusações.
Leonardo Guerra
Também preso na Operação Integração, Guerra era sócio e principal administrador da empresa Rio Tibagi, subsidiária da Triunfo Econorte.
Por meio de empresas reais e de fachada, algumas ligadas a membros de sua família, Guerra teria desviado recursos da Triunfo Econorte dentro do esquema de superfaturamento de pedágio e corrupção. Sua defesa nega.
Fonte: BBC