À Época, Renan Calheiros afirma que delação contra ele foram encomendadas
O senador Renan Calheiros (MDB-AL) concedeu nesta segunda-feira, 9, uma entrevista ao site da Revista Época.
José Renan Vasconcelos Calheiros (MDB), de 62 anos, é réu por peculato e alvo de 15 inquéritos no STF. Conta como sobrevive às denúncias, revela como evitou ser gravado por Joesley Batista e diz que não há chance de reeleição para Temer.
1. O senhor vem sendo investigado por denúncias de corrupção há anos sem condenação alguma. O senhor é um injustiçado, um perseguido ou é só a Justiça, que não funciona mesmo?
As acusações que fizeram contra mim são acusações sem provas. Muitas por encomenda de um grupo que tomou conta do Ministério Público nos últimos anos. Os inquéritos que foram analisados pelo Supremo Tribunal Federal foram arquivados. E todos serão, porque eu fui citado (nas delações) por encomenda.
2. De quem?
Encomenda de Janot (ex-procurador-geral), de Eduardo Cunha, sem provas, sem nada. O Ancelmo (Gois, colunista), publicou no Globo que, de 77 delatores da Odebrecht, uma só pergunta foi feita e repetida para eles: “O que você sabe sobre Renan Calheiros?”. Como presidente do Senado, aprovei a lei das delações, mas não para servir de instrumento de perseguição política, para encomendar citações.
3. Por que querem sua cabeça?
Eu sempre defendi a separação dos Poderes, a Constituição, o limite dos Poderes para que não atropelem uns aos outros, o fim dos supersalários, o crime de abuso de autoridade, e isso nos colocou em frentes opostas. Confrontei esse estado de coisas que começaram a acontecer no Brasil e deu no que deu.
4. O que isso quer dizer?
Quiseram substituir a política e nivelaram a reputação de todos. O Lula não é um ladrão. O Lula é considerado o mais popular presidente da República de todos os tempos. Não é correto condená-lo sem provas e nivelá-lo com bandidos notórios. E o comando do Ministério Público foi pego com a boca na botija, como no episódio do Joesley (Joesley Batista, dono do frigorífico JBS), com o Miller (Marcello Miller, ex-procurador da República) atuando dos dois lados, em nome do Janot.
5. Então, o senhor é mesmo um sobrevivente?
Eu me considero um sobrevivente, mas não consigo entender por que, no Brasil, as pessoas torcem contra a longevidade dos políticos. Em outros países, isso é fator de engrandecimento pessoal.
6. Joesley Batista tentou gravá-lo sem sucesso. O que o senhor fez?
As circunstâncias no Brasil estão muito difíceis, não é? Quanto menos falar, melhor (risos).
7. Mesmo condenado a 12 anos e um mês de prisão, Lula é um bom nome para puxar votos para sua reeleição?
O Brasil não compreende essa generalização das instâncias inferiores em relação ao Lula. Quem conhece Alagoas sabe que Lula e eu somos complementares. Quando eu não apoiei o Lula e apoiei o Serra, Alagoas foi o único estado nordestino onde ele não venceu no primeiro e segundo turnos. Em Alagoas, eu ajudo o Lula, e o Lula me ajuda.
8. Defina o ex-presidente Lula.
O Lula é o mais intuitivo dos políticos que eu conheci, uma espécie de Pelé da política, com erros e acertos.
9. Defina o presidente Michel Temer.
O Michel errou a mão ao aceitar a influência deletéria do Eduardo Cunha, que montou o governo, colocou no Palácio as pessoas que queria nos cargos estratégicos e apequenou a concepção da nação com exclusão para os mais pobres dos estados do Nordeste.
10. Qual sua opinião sobre a reeleição de Temer?
É natural que ele queira disputar, mas acho que no caso do Michel não há caneta que o salve. Ele foi pego nas contradições. Murchou, murchou…
11. O ministro Henrique Meirelles é de seu partido e quer ser presidente. Ele tem alguma chance?
Ele não acrescenta nada ao MDB e nem ao Brasil. Ele, incondicionalmente, pôs a economia a serviço do mercado. E o mercado não acerta tudo. Com isso, delongou a recessão, e o desemprego continua aumentando.
12. Apesar de serem do mesmo partido, foi bom para o senhor ficar na oposição ao presidente Temer?
A circunstância me arrastou para a oposição. Meu pai dizia que dente de ouro, sapato branco e oposição é bom nos outros (risos). Por isso, espero estancar essa circunstância de oposição para eu poder colaborar mais com o país, como sempre fiz.