Pais devem vestir gêmeos com roupas iguais?
Enquanto na quadra o pai era celebrado pelo título, nas arquibancadas, quem se destacava eram seus filhos.
No domingo, durante a final do famoso torneio de tênis de Wimbledon, na Inglaterra, os gêmeos de Roger Federer acompanhavam o progenitor vencer o croata Marin Cilic e conquistar o 19º Grand Slam de sua carreira.
Myla Rose e Charlene Riva, de sete anos, exibiam vestidos floridos idênticos.
Já Leo e Lenny, de três anos, vestiam jaqueta azul, calças brancas e sapatos pretos.
Vestir gêmeos com roupas iguais não é incomum, mas alguns especialistas alertam que isso pode não ser uma boa ideia.
Keith Reed, que comanda a Associação de Nascimentos Múltiplos e Gêmeos (Tamba, na sigla em inglês), diz ser importante para os pais de gêmeos ajudá-los a desenvolver sua própria identidade.
Reed defende vesti-los de maneira diferente e chamá-los pelo nome, em vez de referir-se a eles como “os gêmeos” ou os “trigêmeos”.
“Se eles sempre costumam estar juntos ou usar as mesmas roupas, então, com o passar da idade, acabam ficando mais angustiados se você quiser impor mudanças”, diz.
Na opinião de Reed, “isso não significa, porém, negar a relação especial que eles têm”, ressalva.
“Na verdade, você acaba permitindo a eles que se vejam como indivíduos que têm o bônus de fazer parte de uma unidade múltipla”, destaca.
Conveniência
A britânica Carla Hallmark, de 38 anos, que mora no sudeste de Londres, é mãe de duas meninas gêmeas não-idênticas, Farrah e Rae.
Ela diz que algumas vezes veste suas filhas com a mesma roupa por conveniência. “Não pensamos muito nisso. Entramos na loja e compramos duas peças iguais, de diferentes modelos”, confessa.
“Se as meninas fossem idênticas, acho que não agiria da mesma forma. Minhas filhas são tão diferentes uma da outra, então para mim isso nunca foi realmente um problema. Sempre escolhi a via mais fácil”.
“É mais uma questão de acordar pela manhã, ir ao armário e optar pelo que é mais fácil. Não se trata de uma decisão consciente de vesti-las iguais todos os dias”, acrescenta.
Hallmark diz, porém, que “é muito fofo e eu gosto do visual, mas é realmente pela conveniência. Não acho que realmente importa até elas chegarem a uma idade em que digam o que não vão usar”.
“Agora, como tentamos tirá-las de casa em 15 minutos todas as manhãs, vesti-las iguais é certamente pela facilidade”.
Individualidade
Mas alguns pais de gêmeos tomaram a decisão consciente de não vestir seus filhos com roupas correspondentes ou idênticas.
O diretor de relações públicas Marc Cohen, de 37 anos, do norte de Londres, é pai das gêmeas Izzy e Heidi, de sete anos.
“Todo mundo tem sua opinião, mas para nós, é difícil entender porque os pais querem vestir seus filhos iguais, especialmente se eles forem gêmeos idênticos”, questiona.
“Eles têm personalidades diferentes. São pessoas diferentes. Vesti-los da mesma forma desde muito cedo acaba por remover suas individualidades”.
Cohen reconhece, contudo, que a escolha não é fácil.
“Isso impõe alguns desafios. Entendo que se você tem muitos filhos, pode ser mais fácil vesti-los da mesma forma”, diz.
“Mas na medida em que eles crescem, fica realmente difícil encorajar a individualidade com gêmeos idênticos, então acho que vale a pena trabalhar isso desde cedo, de forma a permitir que cada um tenha a sua personalidade”, defende.
Lauren Apfel, editora da revista Motherwell, voltada a pais, e mãe do casal de gêmeos Phoebe e Jasper, de seis anos, diz ser contra vesti-los iguais.]
Segundo ela, os progenitores tendem a fazer essa opção por considerar “fofo”.
“As pessoas são fascinadas por gêmeos, e adoram vê-los como um díptico adorável. Mas vesti-los iguais fala mais sobre aparência do que o que realmente é melhor para as crianças”, argumenta.
“Gêmeos sempre vão ter uma ligação especial. Vesti-los de forma diferente não vai danificar essa relação”, acrescenta.
Para Apfel, “em vez disso, é um passo importante no sentido de permitir que eles possam se desenvolver como indivíduos dentro de uma relação como irmãos, em oposição às suas identidades sendo dominadas por isso”.
‘Encanto’
A psicóloga Linda Blair, que escreveu um livro explorando a relação entre irmãos, diz que há uma fascinação com nascimentos múltiplos e pais frequentemente tentam acentuar esse “encanto” ao vesti-los iguais.
Mas ela alerta que isso pode ter um impacto negativo nas crianças e também em sua relação entre irmãos.