Os bilhetes cifrados de Fernando Beira Mar que levaram sua família à prisão

A Polícia Federal assestou nesta quarta-feira um duro golpe à família de Luiz Fernando da Costa, Fernandinho Beira Mar, o famoso e lendário traficante do Comando Vermelho cujas condenações somam quase 320 anos de prisão. Os agentes descobriram que Beira Mar, apesar de trancafiado num presídio de segurança máxima em Rondônia, enviava com frequência ordens ao exterior graças a bilhetes codificados que saiam da sua cela e depois, já fora da prisão, eram digitalizados e repassados aos comparsas. Entre os mensageiros e parceiros, a PF apontou dez parentes do traficante, entre eles cinco filhos, a mulher, já presa, e a irmã, Alessandra da Costa, considerada sua conselheira e uma das suas advogadas. Os 35 mandados de prisão em Rondônia, Rio de Janeiro, Paraíba, Ceará, Mato Grosso do Sul e o Distrito Federal tiveram também como alvos dois advogados e seu braço direito no Ceará.

Foi graças a essas mensagens que a PF identificou um novo perfil empresarial de Fernandinho Beira Mar que, além de com o tráfico de drogas e de armas, estaria lucrando cerca de um milhão de reais por mês com a exploração de serviços nas favelas do Rio que ainda controla. Seu modus operandi foi comparado pelos investigadores com o adotado pelas milícias, pois parte dos seus benefícios viria da venda de botijões de gás, instalação de internet, venda de cestas básicas, cigarros, bebidas e até de máquinas caça níqueis.

A investigação começou após o achado, em 2015, de um bilhete na marmita vazia de Beira Mar, também apelidado pelos comparsas de “avô” ou “psicopata”. A nota continha instruções precisas sobre a compra de celulares com tecnologia que permitisse criptografar as comunicações. Mas, depois de mais de um ano de investigação, a polícia comprovou a variedade dos assuntos comandados por Beira Mar. Dele partiriam instruções para a compra de armamento no exterior, para a aquisição de drogas, o passo a passo para da receita para processar a cocaína, assim como ordens que estipulavam seus lucros e os caminhos para lavar o dinheiro do tráfico. Segundo a PF, Beira Mar dispunha de, pelo menos, 11 empresas em nome de terceiros, como casas de shows, lojas e um lava-jato, para disfarçar o dinheiro ilícito.

O monitoramento do preso e seus comparsas revelou que Beira Mar entregava os bilhetes ao preso da cela do lado, Cleverson Santos, que, por sua vez, repassava para sua mulher nas visitas íntimas. Ela levava o papel, provavelmente escondido na genitália, para uma outra mulher que digitalizava o conteúdo e enviava, via e-mail ou telefone, ao destinatário final. O esquema era engenhoso, não só pela quantidade de pessoas envolvidas e os códigos utilizados para despistar as autoridades, mas porque olhando a cela de Beira Mar –uma porta com duas pequenas aberturas– parece impossível intercambiar qualquer coisa com outro preso.

Câmeras da penitenciária federal flagraram o sistema desenvolvido por Beira Mar para arremessar os bilhetes ao colega de cela.

Mas eles eram “muito habilidosos”, relata a denúncia do MP de Rondônia, cujos detalhes foram revelados, em primeiro lugar, pelo G1. Os presos desfiavam uma pequena parte de seus lençóis para fazer um barbante ao qual colocavam um peso na ponta. Com essa espécie de fio de pescar conseguiam arremessar os papéis de madrugada quando os agentes baixavam a guarda. Segundo a denúncia, não há indícios de participação dos Agentes Federais de Execução Penal lotados no presídio.

 

 

Fonte: El País

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