Dilma também teria sido avisada reiteradas vezes de que a sua situação poderia se complicar se ela não barrasse um acordo internacional entre autoridades do Ministério Público do Brasil e da Suíça, já que a conta da sua campanha estaria “contaminada”.
João Santana foi uma das últimas testemunhas ouvidas no âmbito da ação que apura se a chapa encabeçada por Dilma, de quem Michel Temer foi vice, cometeu abuso de poder político e econômico para se reeleger em 2014. O julgamento do processo deverá ser retomado na segunda quinzena de maio. A informação de que Dilma sabia do uso de caixa 2 foi considerada um fato novo pelo ministro Herman Benjamin.
‘Coisa nefasta’. O assunto “caixa 2” foi tratado por Dilma e por João Santana já em abril e maio de 2014, antes do início oficial da campanha eleitoral. De acordo com o marqueteiro, o pagamento “oficial” estava em dia, enquanto os repasses de recursos não contabilizados via Odebrecht sofriam atrasos.
Santana foi questionado no depoimento se esses atrasos não seriam genéricos, mas o próprio marqueteiro enfatizou que a demora nos pagamentos sempre envolve a parte não contabilizada. O publicitário afirmou que já estava acostumado a dar “alerta vermelho” sobre atrasos, desde a época em que trabalhou na campanha de Lula à Presidência, em 2006.
“Caixa 2 é uma coisa nefasta”, criticou Santana, que disse não haver campanha eleitoral sem a irrigação de recursos não contabilizados – mesma constatação que já havia sido feita por Marcelo Odebrecht em outro depoimento ao ministro Herman Benjamin.
Para o marqueteiro, a definição das coligações em torno de candidaturas são “leilões”, envolvendo uma série de interesses e negociações, como a distribuição de cargos. “Isso vai perdurar enquanto tiver empresário querendo corromper e político querendo ser corrompido”, disse. Mesmo considerando Dilma Rousseff uma política honesta, o marqueteiro reconheceu que a petista acabou “fatalmente nessa teia”.
“É um esquema maior que o ‘petrolão’. Essa promiscuidade de público e privado vem do Império, passou por todas as coisas da República”, resumiu Santana.