Entrega de propina da Odebrecht era feita com senhas, diz delator

O chefe do setor de propinas da Odebrecht disse que era usado um esquema de senhas para identificar a pessoa a quem deveria ser entregue o suborno. Na delação, Hilberto Mascarenhas detalhou que o interessado na propina escolhia um local para entrega e recebia uma senha – por exemplo, “chocolate”. No dia combinado, o enviado pela pessoa que receberia o subordo dizia ao entregador: “vim pegar meu chocolate” e o valor combinado. Então, recebia o dinheiro.

Segundo o delator, o caminho da propina acontecia da seguinte maneira: quem combinava o suborno com o interessado era o gerente da obra. Ele perguntava onde a pessoa queria receber o dinheiro. “Aí o diretor de contrato dizia para ele: ‘a senha é chocolate. Quando a pessoa chegar lá você tem que dar a senha, senão ela não entrega. Vira e vai embora'”, disse Hilberto.

Uma das responsáveis pela tesouraria do setor de Operações Estruturadas, que pagava as propinas, ligava para o diretor de contrato para saber o local e horário da entrega. Daí, ela avisava Álvaro José, identificado por Mascarenhas como coordenador das entregas, que mandava um portador ao local combinado.

Outro delator da Odebrecht, o ex-vice-presidente de Relações Institucionais Cláudio Melo Filho disse que, em trocas de e-mails, os executivos da empreiteira chamavam de “festa” o pagamento de propina a políticos.

Jockey Club

Mascarenhas contou que R$ 7 milhões da Odebrecht foram levados de dentro do Jockey Club do Rio, onde Álvaro José guardava dinheiro de propina na cela de seu cavalo de corrida. “Ele disse que o dinheiro estava no Jockey […] que tinha uma cela lá, que ele tem cavalo de corrida, que tinha escondido o dinheiro lá e que teve um assalto”, diz o delator no depoimento.

Hilberto Mascarenhas afirma que cobrou de Álvaro o dinheiro roubado. “Cobrei metade de todas as comissões dele até ele conseguir pagar, levou dois ou três anos.”

Depois que o dinheiro foi levado do Jockey, Álvaro parou de guardar as quantias no local e passou a deixá-lo em uma transportadora de logística.

“Se você fizer um negócio desse [entregas de propina] no mesmo local, você é assaltado no mesmo dia”, afirmou Mascarenhas. Segundo ele, os locais de entrega eram variados, mas a maior concentração deles ficava no Rio e em São Paulo.

Hilberto Mascarenhas deixou a Odebrecht em abril de 2015, a pedido do então presidente da empreiteira, Marcelo Odebrecht. A área de Operações Estruturadas foi assumida por outro funcionário, que morava no Panamá. Com a pressão da Lava Jato, Marcelo Odebrecht exigiu que a área funcionasse no exterior, segundo Mascarenhas, e o setor passou a operar na República Dominicana.

Em junho do mesmo ano, Hilberto Mascarenhas foi preso. “Eu quero curtir a minha vida quando vocês tirarem esse negócio aqui do meu pé, curtir, viajar…”, disse o delator, referindo-se à tornozeleira eletrônica que usa.

A delação de Mascarenhas faz parte do inquérito que investigará o deputado federal Zeca do PT e o ministro da Agricultura, Blairo Maggi.

 

G1

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