Temer confirma reunião com delator, mas diz que não discutiu ‘negócios escusos’
O presidente Michel Temer divulgou vídeo nesta quinta-feira (13) no qual confirmou ter se reunido com um dos delatores da empreiteira Odebrecht. Na mesma gravação, Temer acrescentou que, nesse encontro, em 2010, não discutiu valores nem “negócios escusos” da empreiteira com políticos.
No depoimento prestado, Márcio Faria, ex-dirigente da Odebrecht, afirmou ter participado de uma reunião comandada por Temer na qual foi discutida a “compra do PMDB” por US$ 40 milhões. Ainda no acordo de delação premiada, Faria disse que não discutiu valores com o presidente.
“É fato que participei de uma reunião em 2010 com um representante de uma das maiores empresas do país. A mentira é que nessa reunião eu teria ouvido referência a valores financeiros ou a negócios escusos da empresa com políticos. Isso jamais aconteceu. Nem nessa reunião nem em qualquer outra reunião que eu tenha feito ao longo de minha vida pública com qualquer pessoa física ou jurídica. Jamais colocaria a minha biografia em risco”, afirmou o presidente no vídeo divulgado nesta quinta.
“O verdadeiro homem público tem que estar à altura dos seus desafios que envolvem bons momentos e momentos de profundo desconforto. Minha maior aliada é a verdade, matéria-prima do Poder Judiciário, que revelará toda a verdade dos fatos”, acrescentou.
Nesta quarta (12), Temer já havia divulgado uma nota na qual dizia que “jamais tratou de valores com o senhor Márcio Faria”. Além disso, acrescentou que “a narrativa divulgada hoje não corresponde aos fatos e está baseada em uma mentira absoluta”.
Segundo Márcio Faria, o valor de US$ 40 milhões não foi discutido diretamente com o presidente, mas, sim, com um interlocutor do PMDB, não identificado.
Ainda no depoimento, o ex-dirigente afirma que o encontro foi marcado para “abençoar” um acordo que envolvia o pagamento de propina para garantir o andamento de um contrato da Odebrecht com a diretoria Internacional da Petrobras – que, segundo ele, era comandada à época pelo PMDB.
Faria relatou também que a reunião em 2010 começou com as apresentações, pois ele não conhecia Temer nem Henrique Eduardo Alves, e que depois houve uma breve conversa sobre “amenidades e política”. Ele afirmou que foi a primeira e única vez que esteve com o presidente, à época candidato a vice-presidente na chapa formada com Dilma Rousseff.
Faria afirmou, na sequência, que, “passadas as amenidades, Eduardo Cunha tomou a palavra”. Segundo ele, o então deputado falou sobre o contrato que estava sendo fechado na Petrobras e que deveria haver um compromisso de fazer uma “contribuição muito importante para o partido”.
“[Disse] olhando para mim, porque eu é que teria que confirmar esse entendimento. Fui lá para abençoar esse compromisso”, afirmou Faria. O delator disse que estava de acordo e que a empresa iria contribuir. “Não se falou em valores […], mas eu simplesmente confirmei que honraria o compromisso”.
Imunidade
Temer foi citado nos pedidos de abertura de dois inquéritos relacionados às delações da Odebrecht, mas, em razão da “imunidade temporária” que ele possui, a Procuradoria-Geral da República (PGR) não o incluiu na “lista do Janot”.
O presidente não pode ser investigado por crimes que não aconteceram no exercício do mandato.
O primeiro inquérito investiga dois ministros do atual governo por suspeita de pedir propina para a campanha eleitoral de 2014: Eliseu Padilha (Casa Civil) e Moreira Franco (Secretaria-Geral), ambos do PMDB.
Segundo o Ministério Público, “há fortes elementos que indicam a prática de crimes graves, consistente na solicitação por Eliseu Padilha e Moreira Franco de recursos ilícitos em nome do Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB) e de Michel Temer, a pretexto de campanhas eleitorais”.
O segundo investiga o senador Humberto Costa (PT-PE) por suspeita de recebimento de propina. Segundo documento assinado pelo ministro Luiz Edson Fachin, há “menção à possível participação do atual presidente da República, Michel Temer, em virtude de suposta reunião da qual teriam participado Eduardo Cunha e Henrique Eduardo Alves, ocorrida em 15 de julho de 2010 em São Paulo”.
G1