Sobreviventes da Kiss se formam em Veterinária em Santa Maria

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As festas de formatura se repetem por todo o país nessa época do ano. Mas para uma turma do curso de Veterinária da Universidade Federal de Santa Maria, a celebração teve um significado especial. Isso porque muitos deles são sobreviventes do incêndio na boate Kiss na madrugada do dia 27 de janeiro de 2013, que deixou 242 mortos. A tragédia completou quatro anos em 2017.

A história da 94º turma de Veterinária foi marcada pelo que aconteceu naquela noite. Eles estavam promovendo a festa Agromerados junto com colegas de outros cinco cursos para arrecadar dinheiro para a formatura.

Dos 36 formandos, 20 estavam na boate, mas a maioria conseguiu sair de lá. Seis colegas de turma, e a esposa de um deles, morreram na tragédia.

“Nós entramos em 2012 e estávamos ainda no segundo semestre. Em função da greve, estávamos em aula, e teve a oportunidade de vender os ingressos para a festa para conseguir dinheiro para a formatura”, disse a sobrevivente Izaura Scherer.

Os colegas que não conseguiram deixar o local foram lembrados com carinho e emoção pelos colegas.

Foi exibido um vídeo com uma homenagem para aqueles que não estavam ali se formando, mas que também fizeram parte da história. “Foi um momento muito difícil e, com certeza, o que fez com que nós seguíssemos todos na faculdade, foi a nossa união e a vontade de seguir por eles”, completou Izaura.

Quando a cerimônia terminou, veio a comemoração do início de um novo ciclo para a vida desses jovens, que entendem tão bem o significado da palavra recomeçar.

O caso da Kiss na Justiça
A tragédia ocorreu na madrugada de 27 de janeiro de 2013. O fogo teve início durante a apresentação da banda Gurizada Fandangueira, que fez uso de artefatos pirotécnicos no palco durante um show na festa universitária realizada naquela madrugada.

As chamas no teto se alastraram rapidamente devido ao material inflamável usado como isolamento acústico, o que produziu fumaça preta e tóxica. A boate estava superlotada e não havia saída de emergência.

Testemunhas relataram ainda que a Kiss não possuía sinalização interna e que o local ficou às escuras logo que o fogo começou, o que dificultou a saída do público e fez com que muitos frequentadores acabassem no banheiro, onde morreram asfixiados.

Em 2013, a Polícia Civil conclui o inquérito com 16 indiciados e apontou mais responsáveis. Entre eles, os donos da boate Mauro Hoffmann e Elisandro Spohr e dois músicos da banda Gurizada Fandangueira que tocava na noite do incêndio, Marcelo dos Santos e Luciano Leão.

O juiz decidiu levá-los ao Tribunal do Júri. A defesa recorreu, e o caso está sendo examinado pelo Tribunal de Justiça. Os quatro foram denunciados por homicídio e aguardam em liberdade.

Quatro bombeiros foram julgados. Um foi absolvido, dois foram condenados pela Justiça Militar por descumprimento da lei de expedição de alvarás e o último foi condenado pela Justiça comum por fraude processual.

Na área cível, duas ações individuais resultaram em decisões prevendo o pagamento de indenizações por parte do poder público. A primeira delas foi ajuizada por uma sobrevivente, que terá de ser indenizada pelo governo estadual e pela prefeitura, além dos sócios da boate. A segunda determina que a prefeitura repasse valores a familiares de uma vítima.

Desde o incêndio, a Justiça já recebeu mais de 370 ações com pedidos de indenização familiares de vítimas e sobreviventes da tragédia. Do total, 250 ainda estão em andamento e 20 processos já foram julgados, de acordo com a Vara Cível da Fazenda Pública.

Na semana passada, duas ações resultaram em condenação a pagamentos de indenização. Uma sobrevivente obteve R$ 20 mil para continuidade de tratamento, mas a decisão cabe recurso ao Superior Tribunal de Justiça (STJ). Já familiares de uma das vítimas conseguiram quase R$ 200 mil.

Conforme a Justiça, pelo menos 10 ações esperam definição do juiz quanto ao valor da indenização. O diretor do Fórum de Santa Maria, Rafael Cunha, observa que nestes casos o estado e o município têm a obrigação de recorrer. A demora dos julgamentos também se deve ao grande número de réus citados nos processos.

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