Motivação para a vida
Pretendo iniciar este texto primeiramente falando sobre a preguiça, a qual se refere a um padrão de comportamento típico de pessoas pouco interessadas em agir em seu ambiente, por vários motivos, um deles pela facilidade com que tem acesso aos bens com o mínimo de esforço energético possível. Essas pessoas até (poucas vezes) tentam se comprometer com algo, entretanto “O desgaste de manter compromissos ocorre porque à medida que aparecem desconfortos/aversivos ao longo do trajeto e não encontramos reforços tão facilmente, tendemos a abandonar o objetivo traçado” (ALVES, 2014). Estas pessoas mantém um padrão fixo de resposta de desistência frente aos desafios e mais que isso: apenas ao discriminar que atingir determinado objetivo requer de sua parte um desgaste energético tendem a estacionar e pouco fazer em prol de si mesmo. Vale resaltar que preguiça está associada a procrastinação frente a determinadas demandas a qual somos expostos. Uma criança com preguiça de estudar, dificilmente terá preguiça de ir ao parque de diversões, por exemplo. Não podemos dissociar, com isso, preguiça e motivação. São comportamentos que andam de mãos dadas, um contribuindo para o atraso, outro para o sucesso.
Para visualizarmos a preguiça como impedimento para agir, é válido considerar o entendimento a respeito de motivação. Uma pessoa que emite um padrão de comportamento de economia de energia, é a mesma pessoa que sente-se desmotivada para emitir outros comportamentos no ambiente. Conforme CHAUD (2013) “Não existem reforçadores em absoluto: um estímulo qualquer só será reforçador a partir de operações momentâneas que estabelecem aquela função, em especial, estados de privação. E sem reforçador, não há motivação. ”. Então se quisermos que determinada pessoa emita determinados comportamentos precisamos manejar as condições pelas quais está envolvida afim de alcançarmos o objetivo alvo. Mas o que é motivação?
O termo motivação é frequentemente utilizado por meio do senso comum para designar fenômenos internos que surgem como processo que impulsiona o indivíduo a realizar determinadas ações com definições aparentadas as de impulso, energia, força, motivo e vontade de maneira mentalista e meramente interpretaviva, pois a motivação identificada como um estado interno que causa uma ação está sujeita as mesmas críticas e limitações que sofre a utilização de outros eventos internos como causas, descritas por Skinner. Skinner trata motivação em termos de operações de privação/saciação e estimulação aversiva, enfatizando-as como variáveis ambientais controladoras do comportamento, já que configuram-se como eventos que estabelecem ou modulam o valor de um determinado estímulo como reforçador. Na linguagem comportamental, motivação é chamada de “operações ambientais que alteram a efetividade de algo como reforçador”. Então é comum que estejamos motivados para determinados comportamentos, outros não, da mesma forma que a preguiça. O comportamento de preguiça e/ou motivação aparecerão apenas frente a determinadas situações as quais o sujeito busca evitar, pela aversividade do dispêndio energético.
Os primeiros cientistas a falar no conceito operações estabelecedoras foram Keller e Schoenfeld (1950/1996), o qual estava relacionado ao conceito de impulso(drive), no sentido de podermos executar certas operações sobre o organismo, como por exemplo a privação de alimento ou água, assim essas operações tinham efeito sobre o comportamento que indicavam mudanças momentâneas do evento como reforçador e da mudança de frequência no comportamento que se tinha seguido por este evento reforçador. Esse evento reforçador pode ser positivo ou negativo. Será positivo quando o comportamento aumenta visando receber algo, será negativo quando o comportamento aumentar evitando aversivos. Mais tarde, Michael analisa o conceito de drive utilizado pelos cientistas e passa a compreender que o mesmo estava muito associado a ideias mentalistas, então passou a utilizar o termo operação estabelecedora (OE). Na área de comportamento verbal, o conceito de operações estabelecedoras vem sendo largamente usado no treinamento de mandos, operante verbal reforçado por uma consequência característica e sob controle funcional de condições relevantes de privação ou estimulação aversiva, portanto o mando especifica seu reforçamento. A própria definição de mando proposta por Skinner foi revista após a publicação do artigo de Michael (1988) para incluir o termo operação estabelecedora como principal variável de controle.
Mas sigamos falando sobre a (des) motivação das pessoas para alcançarem seus objetivos. Em análise do comportamento, compreende-se que todo comportamento só se mantém se estiver sendo reforçado, ou seja, todo comportamento que emitimos visa reforçadores (obter ganhos) ou se livrar de aversivos (coisas desagradáveis como ser mal visto no grupo). Talvez seja complicado à priori compreender que os princípios que regem o comportamento humano perpassam esses dois objetivos mas vejamos um exemplo: Um rapaz recentemente ingressou em seu primeiro emprego, entretanto tem faltado bastante com seus horários pois acorda atrasado e mal dá tempo de escovar os dentes para se dirigir ao trabalho. Este rapaz está com dificuldade em manter seu compromisso, pois se sente pouco motivado para tal. No caso exposto é possível analisar de duas maneiras a manutenção desse comportamento. Primeiro, ir ao trabalho é algo aversivo e sofrido principalmente quando o rapaz tem histórico de ter passado boa parte de sua vida jogando videogame enquanto seus pais arduamente trabalhavam para sustentar a família, então esse histórico favorece o descompromisso do rapaz sempre que estiver em situação em que terá que responsabilizar-se por gerir seus bens pois sempre teve pessoas que fizeram isso por ele. Segundo, ficar em casa é bastante reforçador pois o mesmo pode passar boa parte de seu tempo jogando videogame e comendo besteiras desfrutando do prazer dos reforçadores imediatos.
Se motivação está associada a operações ambientais que alteram o valor de algo como reforçador, para que o rapaz tenha o trabalho como algo reforçador, é necessário que primeiro ele perceba os ganhos que terá com isso. Nós só nos sentiremos motivados para algo quando percebemos que há ganhos a ser conquistado. Privar este rapaz das coisas que ele tem com facilidade através dos pais por exemplo, poderia ser uma boa iniciativa para que ele compreenda que deve se esforçar para obter reforçadores que garantam sua sobrevivência. Na vida, muitas vezes passamos por momentos em que nos sentimos desmotivados para agir no ambiente simplesmente por discriminarmos o gasto de energia necessário para alcançarmos o objetivo final. Acho que começarmos a compreender que precisamos ser mais ativos na obtenção de nossos bens seja um bom começo para mudarmos nossa percepção romântica dela e enxergarmos que de fato nós só conquistamos nossos objetivos com muito esforço e dedicação e isso requer dispêndio energético sim. O reforçamento explica como se dá os problemas motivacionais, às vezes o comportamento deixa de acontecer por conta de não ter tido o reforço necessário para a ocorrência do mesmo, o valor reforçador de uma consequência depende diretamente da operação estabelecedora. A privação de alimento é um exemplo de operação estabelecedora que durante certo tempo aumenta a efetividade de alimento como uma forma de reforço.
Se quisermos modificar o comportamento do outro, precisamos primeiro analisar qual seria o reforçador para que o mesmo se sinta motivado e se quisermos modificar a nós mesmos precisamos encontrar reforçadores que nos motivem a agir em prol de algo, mesmo estando em um ambiente onde pouco somos valorizados e os ganhos serão a longo prazo. Qualquer um de nós podemos ser cientistas do comportamento, desde que compreendamos que toda ação do organismo deverá ser analisada no ambiente ao qual ele está inserido. A escolha é clara: ou não fazemos nada e permitimos que um futuro miserável e provavelmente catastrófico nos alcance, ou usamos nosso conhecimento sobre o comportamento humano para criar um ambiente social no qual poderemos viver vidas produtivas e criativas, e fazemos isso sem pôr em risco as chances de que aqueles que se seguirão a nós serão capazes de fazer o mesmo (Skinner).
Diego Marcos Vieira da Silva
Graduando em Psicologia pela Universidade Federal de Alagoas
Referências:
SKINNER, B. F. Ciência e comportamentohumano. Tradução:JoãoCarlos Todorov, Rodolfo Azzi. – 1 Ia ed. – São Paulo: Martins Fontes, 2003.
ALVES, Gérson. Pessoas que reclamam, mas nada fazem. 2012.
CHAUD, Nicolau. A função da preguiça. 2013. Disponível em: < http://www.comportese.com/2013/03/a-funcao-da-preguica>
Luciana; Moreira , Marcio Borges ; Hanna , Elenice S. O capítulo de motivação.Ótica da análise do comportamento.(Orgs): Maria Martha Costa Hubner,Márcio Moreira Borges;editores da série Edwiges Ferreira de Mattos Silavares,Francisco Baptista Assumpção Junior,LéiaPriszkulnik. Rio deJaneiro:Guanabara Koogan,2012.
Eita que verdade essa, amei, parabéns psicólogo Diego Vieira.
Esperando já o próximo texto!
Que texto fenomenal! Obrigada por compartilhar esse conhecimento tão rico!! 🤣😍