Parlamento da Venezuela declara abandono de cargo por parte de Maduro
A Assembleia Nacional da Venezuela, composta em sua maioria por opositores do atual governo, aprovou nesta segunda-feira (9) uma declaração de “abandono de cargo” por parte do presidente do país, Nicolás Maduro, e exigiu uma saída eleitoral para solucionar a crise política e fazer com que “o povo se expresse através do voto”.
“A única forma de resolver os graves problemas que afligem o país é devolver o poder ao povo da Venezuela e, portanto, convocar a realização de eleições livres e plurais”, diz o texto, aprovado com o voto dos 106 parlamentares opositores.
A maioria do parlamento considera que o desempenho de Maduro está à margem das funções constitucionais da presidência e o responsabiliza pela “grave ruptura da ordem constitucional”, pela violação de direitos humanos e pela “devastação das bases econômicas e sociais” do país.
Segundo a Constituição da Venezuela, quando o presidente comete uma “falta absoluta”, deve haver eleições universais, diretas e secretas. São consideradas faltas absolutas a morte ou renúncia do presidente, a destituição decretada pelo Tribunal Supremo de Justiça (TSJ), sua incapacidade física ou mental, a revogação popular de seu mandato ou “o abandono do cargo, declarado como tal pela Assembleia Nacional”.
A Constituição também estabelece que o presidente “é responsável por seus atos e pelo cumprimento das obrigações inerentes a seu cargo” e que “está obrigado a buscar a garantia dos direitos e liberdades dos venezuelanos e venezuelanas”.
‘Golpe de estado’
Entre as razões expostas pela maioria opositora na Assembleia para declarar o abandono de cargo se afirmou que Maduro abandonou as funções “inerentes” à presidência ao não “cumprir e fazer cumprir” o ordenamento constitucional.
O parlamento responsabiliza Maduro pelo “golpe de Estado” que, segundo sua opinião, “induziu à suspensão da coleta de manifestações de vontade necessárias para a iniciativa constitucional do referendo revogatório presidencial”, impulsionado pela oposição, e ao “diferimento” das eleições regionais que deveriam ter acontecido em 2016.
O Legislativo também considera que Maduro foi “negligente” na reivindicação do território de Essequibo, na fronteira com a Guiana, e que não alcançou uma solução pacífica ao conflito.
Também o acusam de ser corresponsável pelo fato de a “perseguição política” não ter cessado e, pelo contrário, “ter aumentado”.
A utilização da figura constitucional de abandono de cargo pela Assembleia foi questionada por alguns partidos opositores e grupos da sociedade civil como o Programa Venezuelano de Educação Ação em Direitos Humanos, que a considera “uma interpretação forçada” da Carta Magna.