“Se minha filha não me perdoar, vou respeitar”, diz Elize; júri continua

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Um atestado de bom comportamento emitido pela direção da penitenciária de Tremembé, no interior de São Paulo, e um exame psicossocial que aponta arrependimento e preocupação com o futuro da filha de cinco anos foram os instrumentos usados pela defesa de Elize Matsunaga, 35, neste sábado (3), no Fórum Criminal da Barra Funda (zona oeste de São Paulo), para tentar convencer os jurados.

Bacharel em direito, Elize é julgada desde a última segunda (28) por ter matado e esquartejado o marido, o empresário Marcos Kitano Matsunaga, em São Paulo, em maio de 2012. Ela seria interrogada ainda hoje, mas, com a demora na exibição de material complementar pelas partes, essa etapa ficou para a manhã deste domingo (4).

Além dos documentos, a defesa também apresentou aos jurados imagens produzidas por um detetive contratado por Elize nas quais Matsunaga, dias antes de ser morto, foi flagrado com uma amante. O depoimento da mesma mulher havia sido lido, um pouco antes, em apresentação feita pela acusação.

Elize está na unidade prisional desde 20 de junho de 2012, cerca de um mês depois do crime. O laudo emitido no último dia 16, assinado pela direção geral e por um núcleo sobre disciplina da penitenciária, apontou que a presa apresenta “conduta carcerária ótima”.

Laudo diz que presa mostra ‘total arrependimento’

O laudo psicossocial foi elaborado pela Vara de Infância e Juventude onde corre o processo em que a família de Elize requer a guarda compartilhada da filha dela e de Matsunaga. Hoje com cinco anos, a criança é cuidada pelos avós paternos; a família de Elize alega que, desde o crime, há quatro anos e meio, eles só permitiram visita uma única vez.

Conforme o documento, desde que foi presa, Elize “canaliza seus impulsos para atividades laborativas” e em busca da remissão da pena –uma vez que, a cada três dias trabalhados, ela descontaria um de uma eventual pena. Segundo o laudo, a presa relatou que o casamento desandou após o nascimento da filha, em 2011, e que as brigas eram constantes. “Ele [o marido] dizia que eu estava ficando louca”, relatou a ré, segundo o documento.

Ainda segundo o laudo, Elize manifestou “total arrependimento” pelo crime, disse sentir muito pela sogra e “verbalizou uma grande preocupação” com o futuro da filha, de quem disse sentir saudades.

A respeito da criança, ela manifestou o desejo pela guarda compartilhada a fim de que a família dela e a filha não fossem penalizadas pelo que ela própria fizera e, com isso, a criança não perdesse o vínculo afetivo com os parentes maternos. “Não quero que ela seja penalizada pelo que fiz. Amo muito minha filha e, se ela não me perdoar, vou respeitar”, afirmou Elize aos profissionais que elaboraram o laudo psicossocial.

O documento não fez menção a uma eventual psicopatia da presa –por outro lado, destacou que ela “demonstra afetividade e autocrítica” e que tem “preservadas as orientações psíquicas”.

A defesa exibiu, ainda, imagens da reconstituição do crime feita em 2012 pela polícia no apartamento onde o casal morava, na Vila Leopoldina (zona oeste) — e da qual Elize participou. Também divulgou valores de rendimentos do casal e da declaração de Imposto de Renda de ambos. Exibiu, ainda, reportagem de TV afirmando que, um mês antes do crime, Elize havia presenteado o marido com um álbum de fotos do casal em diversos lugares do mundo.

Mais cedo, a acusação exibiu reportagens de TV e leu textos de revistas e jornais sobre a ré e sobre o crime. Também foram lidos o depoimento da garota de programa identificada nas imagens feitas pelo detetive contratado por Elize e do reverendo de uma igreja frequentada pelo casal –ele atuava como uma espécie de guru espiritual de ambos e havia sido arrolado pela acusação como testemunha do júri, mas acabou dispensado. Outros depoimentos exibidos foram os de um amigo íntimo de Matsunaga e de uma auxiliar de cozinha do casal.

Elize será interrogada neste domingo

A previsão ontem à noite, ao fim dos depoimentos, era que Elize fosse interrogada ainda neste sábado. Com a leitura dos autos e a exibição do material complementar, porém, ela falará só amanhã –e ao juiz, aos jurados e à defesa, sem respostas à acusação.

Após o interrogatório, terão início os debates entre acusação e defesa, para, só então, o conselho de sentença se reunir para analisar todos os quesitos da denúncia e proferir se a ré é culpada ou inocente.

 

UOL

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