Maydée Brandão Marinho: “Bendito seja aquele que nos tira das trevas.”
Com 5 anos incompletos, fui levada por uma de minhas irmãs, à casa de Maydée. Já estava acertado que ali, iria aprender a ler e escrever.
Desconhecia na minha pouca idade a importância dessa chegada. O que desejava era minha mãe, que havia ficado em Delmiro Gouveia. Chorava aos berros, pedindo por minha mãe. Temia que aquela casa fosse mais uma mudança de lar e que ficaria distante das minhas irmãs.
Quando a porta foi aberta, surgiu uma pessoa cor de rosa, cabelos loiros, olhos azuis e um sorriso de boas vindas, que iluminava seu rosto e todo seu ser era bondade. Foi minha primeira visão de Maydée. Ela me pegou nos braços, entrou e sentando numa cadeira de balanço, começou a me ninar e acalmar, com uma voz de mãe.
Invadiu meu corpo uma paz e confiança, que secaram minhas lágrimas e relaxei entregue naquele aconchego. Maydée era uma jovem estudante do Curso Normal no Cristo Redentor e atendendo pedidos do meu irmão, aceitou me ensinar as primeiras letras. Adentrei na casa de Maydée sem saber nem que a letra “O” era redonda. Eu era sua única aluna e com todas atenções voltadas para mim, ficou menos sofrida a falta de minha mãe.
Naquele tempo a revista O Cruzeiro, trazia em cada edição um encarte com trechos da Cartilha de Paulo Freire. E fui assim, alfabetizada pelo método revolucionário do grande Mestre. Foram seis anos de convívio com essa mulher sábia, que me ensinou todo o Curso Primário, que fez ver a importância do amor, carinho, leveza na vida. Me ensinou a ser uma guerreira na vida, para alcançar objetivos e realizações.
Maydée me viu sair da infância para a adolescência. Acompanhou e me amparou no meu aprendizado de vida. Saí das aulas de Maydée, para cursar o Ginásio no Cristo Redentor. Foi outra difícil despedida. Saía do singular para entrar no plural. Do individual para o coletivo.
Há uma gratidão que pulsa eterna no meu peito. Um amor que não morre. E uma saudade de um tempo mágico que não abranda.
Obrigada mil vezes, Maydée Brandão Marinho, por ter aberto para mim, a porta de sua casa e dessa forma, abriu para mim, a porta da possibilidade de ser o que sou. Amo muito você. De sua eterna aluna, Beth.