Arapiraca comemora 92 anos

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Segundo conta uma tradição do povo, remanescente do próprio fundador, a palavra Arapiraca tem origens indígenas e, por analogia, significa: “ramo que arara visita”. Entretanto, a luz da ciência, trata-se de uma árvore (foto ao lado) da família das Leguminosas Mimosáceas – Piptadênia (Piteodolobim), uma espécie de angico branco muito comum no Agreste e no Sertão e que o povo, a sua maneira, denomina de Arapiraca.

Então, foi nessa Arapiraca, a árvore frondosa e acolhedora, situada a margem direita do Riacho Seco, onde o fundador Manoel André Correia dos Santos acampou no primeiro dia, quando procurava uma fonte de água doce onde pudesse se instalar para tomar posse da propriedade Alto do Espigão do Simão de Cangandú adquirida em 1848, por seu sogro Capitão Amaro da Silva Valente Macedo, que residia no então Povoado Cacimbinhas, município de Palmeira dos Índios.

Quando realizava o primeiro desmatamento na área, auxiliado por trabalhadores, num dia de muito sol, Manoel André escolheu a árvore sombria, onde pudesse descansar ao meio dia.

Encostou aí os instrumentos de trabalho e cuidou de preparar a “bóia”, quando então usou estas palavras: ” Essa Arapiraca, por enquanto é a minha casa”.

Este seria o primeiro ponto de referência, o marco que, através do tempo, passaria a história.

Contam ainda os ramos ascendentes, que em seguida, Manoel André construiu, a sombra da árvore, uma cabana de madeira coberta com cascas de angico, onde passou os primeiros dias, enquanto fazia surgir a primeira casa, numa distância de cerca de cem metros, onde se instalaria com a família que viera de Cacimbinhas, no mesmo ano de 1848.

Em pouco tempo, formou-se um próspero sítio e, em 1865, quando Manoel André construiu uma capela, já havia um arruado de casas de taipa de duas águas, formando um quadro.

O povoamento de Arapiraca foi ocorrendo de forma sistemática, ou seja, tal qual as colonizações portuguesas tradicionais, o que resultou numa imensa árvore geneaológica.

Assim em 1848, o Capitão Amaro da Silva Valente de Macedo, mandou o genro Manoel André Correia dos Santos, comprar e ocupar a terra Alto do Espigão do Simão do Cangandú, para localizar com a família, tendo em vista um sério incidente ocorrido entre Manoel André e o cunhado José Ferreira de Macedo.

Dez anos depois em 1858, o Capitão Amaro envia outro genro de nome José Veríssimo dos Santos, que ocupou a parte Sul da propriedade denominada Cacimbas. Em 1859, também seu cunhado Manoel Cupertino de Albuquerque (casado com sua irmã) que se instalou ao lado, no local denominado Baixão.

No final de 1860, Terezinha Nunes Magalhães (mãe de José Veríssimo) fica viúva de José Nunes Pereira de Magalhães, em Campos de Anadia e chega em Arapiraca em companhia dos filhos Domingos Nunes Barbosa, que fundou Canafístula, Estevão Nunes Barbosa, Manoel Nunes Barbosa (que fugiram da convocação da Guerra do Paraguai em Campos de Anadia e se refugiaram na margem de uma lagoa cercada de Craíbas, na herança de José Pereira seu irmão e de Manoel Ferreira de Macedo, genro e filho do Cel. Amaro da Silva Valente, onde surgiu a povoação Craíbas dos Nunes.

A partir de 1861, chegaram José Ferreira de Macedo, Manoel Ferreira de Macedo (cunhados de Manoel André) e o sobrinho Pedro Cavalcante de Albuquerque, filho de Joana da Silva Valente e Manoel Cavalcante de Albuquerque; os primeiros se instalaram na Serra dos Ferreira e Pedro Cavalcante nos Caititús. Em seguida, chegaram os irmãos de Manoel André: Manoel Eugênio, André Correia e José Sotero, que se estabeleceram no Sítio Mangabeira.

Estes foram os primeiros povoadores, cujas famílias cresceram e multiplicaram-se, entrelaçando-se (não havia gente de fora) e formando esta imensa árvore genealógica através do tempo. Todavia, o que dificulta atualmente a identificação das famílias é a não conservação do sobrenome dos ramos ascendentes.

Assim, alguns remanescentes de Manoel André como os filhos de Maria Rosa Correia dos Santos e Lúcio Roberto da Silva, passaram a usar o sobrenome Lúcio; os filhos de José Veríssimo dos Santos foram assim registrados: Manoel Antonio Pereira de Magalhães, Antonio Leite da Silva, Esperidião Rodrigues da Silva, José Nunes de Magalhães, Joana Umbelina de Magalhães, entre outros.

Do tronco de Manoel Cupertino de Albuquerque, forma registrados os filhos com estes sobrenomes: Manoel Nunes de Albuquerque, Inocêncio Nunes de Albuquerque, Antônia Maria de Jesus e outros. Os filhos de Bernardino José dos Santos foram assim registrados: Pedro Leão da Silva, Antonio Raimundo dos Santos, João Francisco Aureliano, Maria Antonia dos Santos, Josefa Maria da Conceição, Euzébio José dos Santos e outros.

O tronco de Manoel André tem pois, os seguintes ramos: Correia, Lúcio, Inácio, Vicente, Fausto, Umbelina, Belarmino, Amorim, Oliveira e outros. Segundo conta a tradição, o sobrenome Lima surgiu com a presença de Felipe José Santiago, que teria vindo de Água de Menino, Junqueiro-AL.

Já o tronco de José Veríssimo dos Santos possui os são: Magalhães, Rodrigues, Leite, Barbosa, Nunes, Pereira, Ventura, Honório, Oliveira e outros. Os descendentes de João de Deus (casado com uma tia de Manoel André) se mesclaram com as famílias já referidas e tomaram os mais variados sobrenomes. Quanto aos irmãos José Ferreira de Macedo, Manoel Ferreira de Macedo, Maurício Pereira de Albuquerque e Joana Leopoldina da Silva Valente (casada com Manoel Cavalcante de Albuquerque) seus descendentes têm os sobrenomes: Macedo, Albuquerque, Nunes, Ferreira, Alexandre, Cavalcante, Oliveira, Gama, Pereira e outros.

Conclusão, eram irmãos: José Ferreira de Macedo, Mauricio Pereira de Albuquerque, Manoel Ferreira de Albuquerque e as esposas de Manoel André, José Veríssimo Pereira, Joaquim Pereira e Manoel Cavalcante de Albuquerque que eram filhas do Capitão Amaro da Silva Valente.

O POVOADO

Edificado à margem direita do Riacho Seco, a princípio Arapiraca se estendeu por uma faixa de planalto coberta por densa vegetação típica do agreste, onde se destacavam: Pau D’arco, Cedro, Angico, Massaranduba, Aroeira, Pau Viola, Quixabeira, Umburana, Jurema, Barauna, Pau Ferro Canafístula, Cajarana e, principalmente, a árvore símbolo – Arapiraca.

Contando com uma privilegiada localização e impulsionada pela extraordinária capacidade de trabalho de seu povo, Arapiraca estaria fadada a cumprir uma florescente trajetória através dos anos.

No início deste século, Arapiraca ainda era edificada com casas de taipa, modelo duas águas com biqueira existindo duas construções em alvenaria: uma, no Quadro – atual comércio, construída pelo Capitão Chico Pedro e, outra, na Rua Nova – atual Praça Deputado Marques da Silva, um sobrado construído por Antonio Apolinário e que depois serviu de Paço Municipal.

Até então, havia ainda em Arapiraca vestígios dos primeiros tempos da fundação. Existiam, em pleno centro urbano. muitas árvores nativas, em cujas sombras os feirantes colocavam carros de boi, amarravam animais,e a meninada da época brincava diariamente. Na rua Nova existia um viçoso Pau D’arco próximo à Igreja de São Sebastião, e um frutífero Genipapeiro, em frente a casa de Tibúrcio Valeriano. Conta-se que, certa vez o Pe. João Maria, de passagem por Arapiraca, observando o verde destas árvores, afirmara que em seu subsolo, não muito distante, com certeza passaria algum lençol d’água, daí o vigor daquelas plantas tão verdes. E sugeriu, na ocasião, que se alguém cavasse um poço, a poucos metros de profundidade, encontraria água abundante. Aproveitando a sugestão, José Magalhães cavou uma cacimba que, durante décadas, forneceu água gratuita à população daquela época.

No comércio, existiam diversos Umbuzeiros ao longo do quadro e uma velha Tamarineira, em frente à loja de José Lúcio da Silva, em cuja sombra nasceu a feira e onde os trabalhadores Vicente Flor, João Higino, Belo, Joca da Serra, Pedro Alexandre, André Marchante e outros, penduravam a carne para vender..

Havia ainda, um lendário coqueiro situado em frente à igreja de Nossa Senhora do Bom Conselho que, segundo informações do Sr. Toinho Cavalcante, vinha dos tempos da fundação e Arapiraca e era considerado como relíquia pelos descendentes de Manoel André.

Onde foi aberta a rua do cedro – atual Av. Rio Branco, havia uma série dessas árvores, as quais, tempos depois, foram destruídas. Finalmente, abaixo do comércio, antes da atual ponte sobre o riacho, estava situada a frondosa e verdejante Arapiraca, que serviu de sombra acolhedora ao primeiro habitante e assistiu, como testemunha muda, ao nascimento de uma cidade com o seu próprio nome; infelizmente, o marco foi destruído para dar passagem ao progresso, talvez…

A CIDADE

Quando Arapiraca foi elevada a condição de cidade, em 1924, contava, apenas, com cinco logradouros públicos incompletos e alguns acessos. assim, existia o Quadro – atual praça Manoel André, a rua Nova – hoje Pça. dep. Marques da Silva, a rua Pinga Fogo – atual rua Aníbal Lima, início da Rua Boca da Caixa e que, depois, passou a ser denominada de Rua 15 de Novembro e início da Rua do Cedro – atual Av. Rio Branco.

Após a emancipação, aproveitando um longo que saía da extremidade da Rua Nova em direção à localidade de Cacimbas, o prefeito eleito, Major Esperidião Rodrigues da Silva, construiu (cedendo uma faixa de terra de sua propriedade), a rua do Cedro, que depois passou a ser chamada Av. Rio Branco. Além desses logradouros, existia ainda o Beco dos Urubus, que saía do centro do Quadro em direção à lagoa, onde o comerciante Firmino Leite estendia couros para secar ao sol, atual saída para a ponte do Alto do Cruzeiro. Afora isso, existia um largo que partia da rua Nova, em direção ao cemitério (onde está situada a Concatedral de Nossa Senhora do Bom Conselho) onde por muito tempo, existiu um matadouro – atual Largo D. Fernando Gomes.

Um panorama bucólico dominava a cidade, naqueles tempos idos. A presença de animais pastando em plena rua era uma constante e dezenas de carros de boi trafegavam diariamente, escutando-se o contínuo ranger das rodas nas tardes ociosas do verão. A noite, os jovens contavam estórias sentados nas calçadas e os mais conservadores rezavam ofícios e novenas na igreja; a vida era aquela rotina e até o tempo demorava a passar, pois o movimento era pequeno e as horas eram ociosas, enfim, a cidade parece até que vivia parada no tempo. O progresso ainda estava longe e o casario de formas singelas dava ainda a impressão de um povoado.

A EMANCIPAÇÃO POLÍTICA

Um dos capítulos mais importantes da história de Arapiraca e que merece registro é sem dúvida, a luta empreendida pelo líder da emancipação Major Esperidião Rodrigues da Silva, a partir de 1918, quando assumiu o comando da campanha em prol da emancipação política do distrito de Arapiraca.

Foram anos de preocupações e sacrifícios, enfrentados pacientemente pelo líder da campanha, realizando reuniões, preparando relatórios, sobre a área do povoado, número de imóveis, de habitantes, de propriedades rurais, atividades comerciais, produção agrícola, enfim, toda economia local, para de posse desses subsídios provar que o distrito de Arapiraca, poderia sobreviver emancipado de Limoeiro de Anadia.

Convém frisar, que naquela época ainda não existia automóvel no interior e as exaustivas viagens à capital do estado, eram realizadas a cavalo e o Major Esperidião Rodrigues tinha que inevitavelmente passar por Limoeiro de Anadia, cujas lideranças políticas envidavam esforços tentando a todo custo obstruir o trabalho e a tramitação do processo de emancipação do distrito de Arapiraca.

Então, as hostilidades eram constantes e quando o nosso libertador passava humildemente por Limoeiro de Anadia, em demanda da capital Maceió, ouvia impropérios e achincalhes dirigidos a sua pessoa,por causa de sua luta em prol da emancipação de Arapiraca, numa fase em que imperava a oligarquia da família Barbosa, que tinha livre acesso aos bastidores do Palácio dos Martírios, como políticos de situação e bem prestigiados.

Homem abnegado, era uma verdadeira peregrinação que o Major Esperidião Rodrigues fazia há anos, frequentando secretarias, Assembléia Legislativa, Tribunal de Justiça, Palácio do Governo e outros órgãos, onde o líder da campanha ficou muito conhecido e os funcionários e assessores, quando o avistavam ao longe comentavam entre si: – Lá vem o homem dos olhos azúis outra vez.

O tempo foi passando até que enfim, apareceu uma luz no fim do túnel e o panorama começa a clarear com a presença oportuna do Deputado Odilon Auto (natural de Pilar) que acompanhando o sacrifício do Major Esperidião Rodrigues, resolveu apoiar e defender a causa da Emancipação Política do então distrito, reivindicada pelo laborioso povo de Arapiraca.

Agora de posse da documentação necessária, o Deputado Odilon Auto se engaja ma luta e passa a preparar o projeto, para enfrentar a fase mais difícil: convencer a maioria dos deputados, e votar pela aprovação do Projeto de Lei para posterior sanção pelo Governador Dr. José Fernandes Lima.

Foi uma tarefa árdua enfrentada pelo Deputado Odilon Auto, que durante meses se empenhou com toda capacidade de trabalho, pela justa causa da emancipação do Distrito de Arapiraca, contrariando os interesses dos políticos de Limoeiro de Anadia, que não desejavam perder a renda mensal do seu mais importante distrito que era Arapiraca.

O líder Esperidião Rodrigues, impaciente com a burocracia da tramitação do processo, tomou uma atitude: viajaria a Maceió e só voltaria para Arapiraca após o resultado final – ou tudo ou nada. Foi com essa decisão que chegou a capital na primeira quinzena de Abril e durante 40 dias permaneceu ao lado do Deputado Odilon Auto, acompanhando a tramitação do Projeto de Lei nº 1009, que após vários debates e discussões acaloradas, foi finalmente aprovado pela Assembléia Legislativa e sancionada pelo Governador Dr. José Fernandes Lima, no dia 30 de Maio de 1924. Foi um relevante serviço prestado pelo Deputado Odilon Auto a causa da emancipação e uma grande vitória para o líder da campanha Major Esperidião Rodrigues da Silva, o grande idealista.

Fonte:

http://www.arapiraca.al.leg.br/institucional/historia/historia-de-arapiraca

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