GUROVITZ: Chance de Dilma voltar é inferior a 1%

7A presidente afastada Dilma Rousseff tem mais de 99% de chance de ser condenada no processo de impeachment, segundo o modelo estatístico que desenvolvi para avaliar o resultado da votação no Senado. No nível mais rigoroso do modelo, as chances de Dilma estão abaixo de 1%. No nível realista, ficam em torno de 0,01%.

É uma chance comparável à de acertar um buraco com uma tacada no golfe, encontrar uma pérola numa ostra, achar um trevo de quatro folhas na primeira tentativa ou à de alguém que trabalha na indústria cinematográfica ganhar o Oscar. É uma probabilidade tão baixa que, num mundo racional, nenhum político sério pode levá-la em conta.

Para estimar o resultado, o modelo leva em conta apenas informações públicas (como já expliquei em post anterior): as oito votações já realizadas no Senado ao longo do processo e os levantamentos publicados pelos jornais O Globo, O Estado de S.Paulo, Folha de S. Paulo e pelo movimento Vem pra Rua.

O critério adotado é conservador. Não considera articulações de bastidores nem mudanças de última hora. O valor máximo de votos esperados a favor do impeachment é pouco superior a 59, o maior resultado contrário a Dilma já registrado no plenário do Senado – muito embora a votação de amanhã possa ultrapassar esse patamar.

O cálculo da probabilidade de voto para cada senador é inferido a partir de um índice que traduz a força de sua disposição em condenar ou absolver Dilma, calculado pela soma de tudo o que ele já disse ou já fez em votações.

Cada voto em plenário pela aceitação da denúncia ou pela pronúncia de Dilma como ré vale quatro pontos. O voto nos destaques do processo ou na Comissão Especial do Impeachment vale mais dois. A posição no levantamento de cada jornal também vale dois, e a no levantamento do Vem Pra Rua, um. A soma de pontos varia de -25 a +25, num espectro do mais favorável ao mais contrário a Dilma.

Tal escala permite projetar o valor esperado de votos pela condenação com diferentes níveis de rigor. No nível máximo – o voto de um senador é considerado seguro apenas se ele sempre votou contra Dilma e é dado como favorável ao impeachment em todos os levantamentos –, o valor esperado de votos pela condenação está em 56,43. Com um nível realista de rigor – um voto é dado como seguro quando a soma de pontos é maior ou igual a 17 –, o valor esperado é 57,75. Ambos os patamares são mais que suficientes para condenar Dilma.

No nível mais alto de rigor, o modelo considera que apenas 45 senadores são votos 100% seguros contra Dilma, apesar de todos os levantamentos apontarem um total de no mínimo 52. No nível realista de rigor (17 pontos), já há 56 votos seguros pelo impeachment. Para Dilma ter alguma chance de ser absolvida, é preciso adotar um rigor superior a 18 pontos. E qual seria tal chance?

A probabilidade de condenação pode ser calculada para todos os níveis simulando a votação num computador. Cada voto é sorteado aleatoriamente, de acordo com a probabilidade gerada pelo modelo. Usando um software de cálculos estatísticos, fiz um programa que simula 100 mil vezes a votação no Senado para cada nível de rigor. Numa execução do programa, eis os valores esperados de votos contra Dilma para os diferentes níveis, com as respectivas probabilidades de condenação entre parêntesis:

8      –  59,14  (100%)
9      –  58,49  (100%)
10    –  58,49  (100%)
11    –  58,49  (100%)
12    –  58,49  (100%)
13    –  58,59  (100%)
14    –  58,06  (100%)
17    –  57,75  (100%)
18    –  57,12  (99,98%)
19    –  57,07  (99,96%)
20    –  56,90  (99,87%)
21    –  56,73  (99,72%)
22    –  56,56  (99,39%)
23    –  56,43  (99,17%)
24    –  56,43  (99,14%)
25    –  56,43  (99,18%)

Dilma comparecerá hoje ao Senado para prestar depoimento, na companhia do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, de vários ex-ministros e caciques petistas. No plano da realidade, seu objetivo pode ser qualquer um – menos a absolvição. A esta altura, o melhor que o PT pode esperar é sair de lá com alguma história redentora, capaz de conquistar o eleitor em 2018. Só isso explica tanta insistência dela em, diante de probabilidades tão baixas e declinantes ao longo do tempo, não ter (pelo menos até agora) nem sequer considerado a renúncia.

G1

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