Bichectomia vira moda e ganha adeptos em Goiânia

Afinar o rosto e promover uma harmonização facial. São esses dois pontos que levam cada vez mais pessoas a optar pela bichetomia, uma cirurgia para a redução das bochechas. O procedimento, muito procurado no mundo das celebridades, também virou moda em Goiânia, onde o número de interessados não para de crescer. Apesar de ser considerado simples, o procedimento é motivo de uma polêmica entre dentistas e médicos sobre quem pode realizá-lo.

O cirurgião-dentista Fábio Paes é um dos profissionais que se especializaram na cirurgia em Goiânia. Com 18 anos de experiência na área da odontologia, ele conta que fez dois cursos de aperfeiçoamento para começa a realizar a bichectomia. Ele afirma que a primeira vez que ouviu falar do assunto, pensou se tratar de uma brincadeira.

“Sempre trabalhei na área de odontologia estética. Um dia, há uns 3 anos, uma paciente minha que morava nos Estados Unidos perguntou seu eu conhecia bichectomia. Pensei que era alguma piada por causa do nome, que é engraçado. Mas depois fui pesquisar sobre isso e me especializei porque a demanda começou a crescer”, disse.

Paes conta que os primeiros tratamentos na capital foram feitos por ele em sua clínica há um ano. Inicialmente, eram no máximo dois pacientes por mês. Agora, no mesmo período, ele chega a reduzir as maçãs do rosto de até 20 pessoas mensalmente.

Trâmite cirúrgico
A cirurgia, que também é indicada para quem, por algum motivo, sofre do problema morder a parte interna da bochecha, dura cerca de 30 minutos. Antes de passar por ela, a situação clínica do paciente é avaliada e é agendada uma série de exames clínicos e laboratoriais para saber se há alguma ressalva.

Durante a operação, é realizado um corte de aproximadamente 1 centímetro na parte interna da bochecha para a retirada de gordura, chamada Bola de Bichat – daí o nome do procedimento – que fica entre dois músculos. “Uma pessoa adulta tem cerca de 10 milímetros de gordura. Em geral, retiramos aproximadamente de 4 milímetros”, explica Paes.

O pós-operatório se assemelha ao de uma extração de dente siso. Recomenda-se repouso de dois dias, além de medicação e dieta controladas. No começo, é preciso também evitar atividades físicas e exposição ao sol. O resultado final aparece após o inchaço, entre um e três meses.

A cirurgia custa entre R$ 4 mil e R$ 7 mil dependendo da clínica escolhida e da quantidade de profissionais necessários.

Riscos e polêmica
Como em qualquer cirurgia, a bichectomia possui alguns riscos e complicações. Em alguns casos, pode ocorrer hemorragia, hematomas e infecções. Por isso, a necessidade de seguir a risca as recomendações médicas. Já em virtude de imperícia, a técnica pode lesar algum nervo e provocar paralisia facial.

Existe uma discussão polêmica sobre qual profissional está apto a realizar o tratamento. A classe médica reivindica exclusividade, alegando se tratar de um “ato médico”. Já os cirurgiões dentistas dizem que também podem fazê-lo tendo em vista que se relaciona com a região bucal do paciente.

Presidente da Comissão de Educação Continuada do Conselho Regional de Odontologia de Goiás (CRO-GO), o cirurgião-dentista Júlio César Gomes Bezerra afirma que “ninguém é mais apto” que um odontólogo para fazer a bichectomia.

“Quando o paciente está com uma queixa, que está mordendo a parte interna da bochecha, trata-se da parte funcional mastigatória. É funcional. Para resolver esse problema, lança-se mão da bichectomia. O que não é indicado fazer é somente para finalidades estéticas”, pondera.

No entanto, segundo o médico Luiz Humberto Garcia de Souza, presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica – Regional Goiás (SBCP-GO), a operação é um procedimento de natureza médica e os profissionais que não são da área agem de forma irregular quando o fazem.

“Existem complicações que podem ocorrer e o odontólogo não está a par delas. Nós estamos nos mobilizando no sentindo de denunciar esse tipo de ação. O dentista que realiza a bichectomia está exorbitando a área dele e pode até responder por exercício ilegal da profissão”, salienta.

Exemplos
modelo-2Muitas pessoas procuram o procedimento porque se sentem insatisfeitas com o formato do rosto. Porém, em vários casos, essa necessidade também está relacionada a compromissos profissionais. É o caso de quem trabalha como modelo.

Nas sessões de fotos que fazia, Fernanda Batista, de 22 anos, dizia que sempre notava as bochechas salientes. Os contratantes também chamavam sua atenção. “Desde criança tinha o rosto cheinho. Durante as fotos, também me falavam isso. Como trabalho na área, me sentia incomodada. Foi a solução dos meus problemas”, conta.

A também modelo Kariny Rodrigues, de 26 anos, convivia com a mesma situação. Na profissão, ela conta que convivia com a cobrança do mundo da moda. Essa situação foi o que mais pesou para que ela decidisse entrar na sala de cirurgia.

“Sempre tive o rosto gordinho e fiz mais por causa dos produtores de moda, que são bem críticos. Eu não era satisfeita e diante das críticas, resolvi fazer. Abriu muitas portas para mim e o mais importante é que me sinto melhor”, destaca.

Além de mulheres, vários homens também procuram o tratamento. Para o maquiador de moda Amadeus Júnior Amaral, o resultado foi muito além de suas expectativas. Ele conta que sentiu mudanças não só no aspecto físico, mas também na sua personalidade.

fabio-2“Existe um Amadeus antes e outro depois da cirurgia. Antes eu estava um pouco contrariado com minha imagem, não tinha coragem até de postar algumas fotos nas redes sociais. Hoje sou outra pessoa. Com quase 20 dias, já pude ver que meu rosto tinha mudado. Agora tenho outra autoestima, mantenho uma dieta e faço exercícios. Estou bem feliz”, salienta.

amadeus-2Ele conta ainda que ter as bochechas grandes é algo que atinge toda sua família. O maquiador conheceu a bichectomia na sua própria área de atuação. “Fiquei sabendo da técnica e tomei a liberdade de pedir socorro”, brinca.

G1

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