As velhas também transam e derrubam mito do sexo na maturidade

a467xlg6c_3e1zso3ck1_fileEnvelhecer, em geral, atrapalha mais a performance sexual masculina do que a feminina. A constatação é fruto de uma pesquisa recente conduzida pela psiquiatra Carmita Abdo, coordenadora do ProSex (Projeto Sexualidade do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo, com apoio da Pfizer. O levantamento, que ouviu 3.000 entrevistados, joga luz sobre um tema tabu: o sexo na maturidade.

Segundo Carmita Abdo, “essa constatação está bastante associada com o aumento de incidência de disfunções sexuais com o passar dos anos, especialmente a disfunção erétil”.

— Atrapalha menos as mulheres na forma em que cada um se ressente. Elas aceitam de forma menos complexa. Já há estudos que revelam que o desejo feminino em relacionamentos de longa duração tende a ficar mais comprometido. Nas mulheres que retomam a vida sexual, seja porque o parceiro foi embora, ou porque ficaram viúvas, e até para quem teve oportunidade de ter parceiro extraconjugal, o desejo é retomado.

Se, entre eles, a dificuldade para obter e manter a ereção é o bicho papão do sexo, para elas a dificuldade para atingir o orgasmo é o maior pesadelo. Para as mulheres mais velhas, a dor na relação sexual também surge como um problema, apontado por 59,7% delas, o que se explica com os efeitos da menopausa, e a consequente redução da lubrificação natural da vagina para a relação sexual.

Para a psicóloga Valmari Cristina Aranha, do serviço de geriatria do Hospital das Clínicas, embora as pessoas estejam dispostas a lidar com a sexualidade dos idosos de outro jeito, ainda é um tabu.

— A família muitas vezes não aceita, as possibilidade de relações são restritas, principalmente para as mulheres, pois a sociedade é mais cruel com a mulher que envelhece, mas há mais gente redescobrindo essa possibilidade.

Há pouco tempo, entre os casais maduros, um não queria (mulher) e o outro não podia (homens). Com a recuperação da potência sexual masculina, essa história que sustentava o sexo na maturidade mudou. Houve um aumento significativo de mulheres casadas heterossexuais infectadas pelo HIV, uma vez que trata-se de uma geração de homens que não foi educada para usar preservativos.

Não à toa, a pesquisa revelou que o maior medo delas (45,9%) é contrair DSTs (doenças sexualmente transmissíveis). Apesar do receio, o uso de camisinha ainda é incipiente entre os mais velhos. Entre os maiores de 60, apenas 10,5% relatam que usam preservativos em suas relações sexuais.

Para Valmari, é importante que as pessoas falem sobre isso, e abram espaço para que os idodos busquem orientação para melhorar a qualidade do sexo. As mulheres nem sempre procuram ajuda para tratar a dificuldade de lubrificação vaginal.

— Elas têm de aprender a dialogar e não ficar só presas na vergonha. Muitas ainda têm medo de serem vistas como velhas safadas.

 Carmita faz um alerta: não se pode delegar ao outro o cuidado com você. Se o homem não tem essa prática, pois a maioria faz parte de uma geração que não conheceu as DSTs não tratáveis, como as que existem hoje, as mulheres precisam tomar à frente.

— Não importa o que ele vai pensar. Leve o seu na bolsa, compre e use um preservativo feminino, se não quiser comprar e usar um masculino.

Segundo a psiquiatra, as mulheres se dividem entre as que se permitem uma nova oportunidade, e aquelas que se aposentam. E as que buscam uma nova chance procuram alguém com quem tenham algum vínculo. A mulher, segundo ela, acaba associando a sua performance sexual a uma série de atributos físicos, que não são mais determinantes, mesmo que ela tenha tido um único homem. E quando se sente novamente desejada, há uma melhora da auto-estima, da auto-imagem, ela começa a se perceber interessante, capaz de mobilizar atração.

— É preciso se desprender do corpo. O corpo passa a ser o instrumento e não objetivo.

No recorte de idade, a pesquisa constata que para os maiores de 50, o sexo é considerado importante ou muito importante para a harmonia do casal para 95,6% dos entrevistados. Quanto mais maduros os parceiros, mais qualidade tem a relação sexual, até, porque, o número de atos sexuais por encontro de se reduz radicalmente.

Enquanto os jovens de 18 a 25 anos chegam a relatar mais de cinco atos, a partir dos 60 esse número para cai para um por encontro. Por isso mesmo, os mais jovens relacionam um bom desempenho com o fato de se chegar ou não ao orgasmo. Já os mais maduros destacam a dedicação dispensada à relação sexual.

Uma coisa é certa: a dificuldade sexual é um punhal na autoestima dos entrevistados. Para 25,8% dos homens e 25,9% das mulheres, as disfunções afetam o amor-próprio, para só então abalar a relação com o parceiro.

Mas há mulheres que estão tornando a maturidade uma fase de redescoberta. A escritora e palestrante Isabel Dias imaginou que sua vida tinha acabado com o fim do casamento de 32 anos. Traída pelo marido de décadas, único homem da sua vida até então, ela poderia se resignar e seguir vivendo, sofrendo em silêncio a sua infelicidade conjugal.

Ao contrário da maioria das mulheres de sua geração, Isabel optou pelo divórcio. E decidiu se abrir para a vida, conhecer o sexo com outros homens, (re) descobrir a si mesma, e recuperar a sua feminilidade. Autora do livro 32 – Um homem para cada ano que passei com você, Isabel fez de sua “vingança” um exercício de autoconhecimento.  E hoje motiva outras pessoas a enfrentar a maturidade de cabeça erguida.

— Tudo começou com a minha separação, motivada por raiva, vingança. Não conseguia me olhar no espelho nua, fui me redescobrindo. Fui subindo um degrau de cada vez, descobrindo outra mulher que estava dentro de mim. Tinha tido um homem só. Esteticamente, não tinha mais as carnes duras, não era mais nada daquilo. Como iria encarar um homem na cama?

Isabel conta que tudo isso a aterrorizava, mas com o tempo vieram os elogios, as sensações, e a fizeram rever seus conceitos e ela decidiu que queira ir fundo e descobrir tudo o que tinha direito.

— Eu temia sim, pelo futuro. Sair da zona de conforto e entrar na zona, na bagunça, vislumbrando simplesmente dias piores. O que eu mais ouvia era “não faça isso, continue casada”. Mas por que o meu marido pode sair pro mundo e eu tenho de viver aqui no armário?

Isabel também superou a resistência de muitas amigas, que continuam casadas, mas vivem em quartos separados. Para elas, a decisão e as atitudes de Isabel foram um choque.

— Muitas de minhas contemporâneas falam que não precisam mais de cama, mas sexo é  fundamental, independentemente da idade da gente.  E há um preconceito: um setentão transando tudo bem, mas as velhas? Imagina, elas têm de fazer crochê e assistir novela! A minha geração, a dos 60, não só casou para viver a vida toda casada, mas para não ter o trabalho de se separar.

Hoje, depois de toda a experiência que viveu, Isabel pondera que a vida sexual na maturidade, para mulheres, esbarra no problema físico da mulher pós menopausa, mas que, para ela, têm de ser tratados.

—  Eu sou uma mulher real, cheia de defeitos. Mas mostro que não é só a Suzana Vieira é tem o direito de ser uma velha sexual. Terceira idade é um rótulo que não cabe pra nós. Me sinto com 25, 30 anos. Me permiti ser sexual e usar minha sexualidade pra mim, egoisticamente. Hoje participo de alguns grupos que lidam com pessoas mais velhas, como o lab 60 +, o projeto Draft, dado palestras e falando que sou uma mulher igualzinha a elas. É só engatar uma primeira!

m2kcn9h5n_21wcp2duoy_fileA gerente de comunicação Kika Gama Lobo também fez da chegada dos 50 um momento de reviravolta. Por estranhar tantas mudanças em seu corpo e mente, criou o hashtag ‪#‎atitude50‬ para se comunicar com outras mulheres nesta faixa etária. E compartilha, nas redes sociais, suas reflexões sobre o futuro lhe reserva. Sua retomada, no entanto, teve grandes doses de drama, romance e ação. ‬

Kika foi casada por 24 anos. Há cinco, seu casamento acabou. E, há quatro anos, teve um câncer de endométrio. Tirou seis órgãos. Fez quimioterapia na vagina. “Envelheci ali zil anos”, lembra.

— Aquele local não existia mais pra mim. Tinha entendido que já tinha transado minha quota nesta vida. Não queria enfiar mais nada ali. Disse que iria entregar minha vida ao Papa Francisco.

Mas o destino reservou boas surpresas. Quando entendeu que eu não iria morrer naquele ano, Kika optou por se reinventar, buscar uma qualidade melhor de vida, e despertar para as as novas sensações que vieram, especialmente com o reencontro de um amor da adolescência.

— Há um ano reencontrei um namorado que conheci aos 15. Passei 33 anos sem vê-lo, mesmo nós dois morando no Rio. Casei, tive minhas filhas. Ele teve a vida dele. E esse homem se tornou um símbolo pra mim, de que mesmo uma mulher que não pode fazer uso de hormônios, que estava 12 quilos acima do peso, pode recomeçar.

Kika sabia que só retomaria a vida sexual com alguém com quem pudesse se abrir. E assim foi. Ela conta que faz uso de um creme, mas as preliminares são fundamentais.

— O sexo começa na cabeça, tudo mudou. Entrei na ginástica, fiz um regime, emagreci horrores, faço reposição alimentar hormonal. Reencontrar esse homem foi fundamental na minha vida. Quando eu entendi que não ia morrer, decidi que tudo teria de ser diferente do que foi. Jurei pra mim que iria reescrever minha história. Rolou um novo trabalho, vendi minha empresa, e hoje moro com meu namorado, levo uma vida de marido e mulher, mas vou me casar no dia 19 de novembro, aniversário dele. Quero ter uma foto de noiva aos 52 anos.

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