Jovens são esperança para manter vivas as tradições folclóricas em AL
A presença de música, dança e representação teatral dos folguedos populares fazem parte da identidade de Alagoas. O estado possui mais de 25 manifestações populares que marcam as raízes culturais do povo, e todas elas têm um desafio em comum: manter viva a tradição.
Os diversos grupos folclóricos do estado dependem dos jovens para perpetuar a cultura, que atravessa gerações. No Dia Mundial do Folclore, celebrado nesta segunda-feira (22), o G1 foi em busca de grupos e mestres que se empenham em ensinar aos mais jovens a tradição dos folguedos.
Com o passar dos anos, essas manifestações estão cada vez mais escassas, por falta de interesse e também por falta de dinheiro, mas os grupos resistem.
É o caso da mestra Maria de Fátima Brasileiro Danylo, responsável pelo Grupo de Folguedos e Dança Professor Pedro Teixeira, existente há 31 anos. São cerca de 20 pessoas no grupo, jovens e adultos que apresentam pastoril, coco de roda, baiana, taiera, maracatu alagoano e guerreiro.
Uma das integrantes da nova geração é a estudante Bárbara Nascimento dos Santos, de apenas 13 anos. Ela não conhecia os folguedos do estado, até ver uma apresentação da mestra fátima e seus alunos. A partir daí, surgiu a vontade de fazer parte do movimento. “Participo do coco, guerreiro, maracatu e taiera. Gosto de mostrar o que aprendi para as outras pessoas”.
É esse interesse que os mestres de folguedo querem despertar cada vez mais nos jovens. A preparação para a montagem de um grupo de dança exige dedicação e ensaio, mas o esforço é recompensado. “Já participei de festivais de cultura que foram muito bons. Quero continuar me apresentando com eles”, conta Bárbara.
No início do grupo, somente crianças dançavam, mas hoje é diferente. “O grupo surgiu com o mestre e professor Pedro Teixeira para resgatar as tradições populares. Inicialmente, o trabalho era só com crianças, mas depois elas cresceram e não quiseram deixar de se apresentar”, contou.
Outros integrantes do grupo herdaram dos pais o interesse pela cultura popular. Luciana dos Santos Sales dança há 22 anos, e ensinou os passos à filha, a estudante Maria Wiliane Sales, de 21.
“Desde pequena, minha filha assistia aos ensaios e ficava repetindo os passos que fazíamos. Ela começou a se dedicar e não saiu mais. Fico muito feliz em ver que a tradição foi passada para a minha filha e espero que ela passe aos seus filhos quando os tiver”, comentou.
A mestra Fátima sempre buscou o apoio de escolas da região onde fica a sede do grupo, em Cruz das Almas, Maceió, para conseguir envolver ainda mais a comunidade. São feitas apresentações nas escolas que ajudam a divulgar as atividades e a despertar o interesse dos alunos em participar, além de ensinar a história do folclore através dos folguedos.
A diretora da escola Padre Pinho, Claudete Fidelis, diz que há muitos anos acompanha o trabalho de Fátima na comunidade e destaca a importância para os jovens. “Os alunos conhecem e participam dos folguedos. Isso faz com que aprendam e deixem de lado os preconceitos que existem”, ressaltou.
Guerreiro
O mestre André é patrimônio vivo da cultura alagoana e luta para manter as tradições dos folguedos no estado. Ele é o responsável pelo Grupo Guerreiro Mensageiro do Padre Cícero, com cerca de 35 anos de existência, que também mantém com dificuldades as raízes do folguedo que surgiu no estado na década de 1920.
“Tenho uma dificuldade muito grande para manter esse grupo e os ensaios. Quase não recebemos apoio. Tenho que tirar dinheiro do próprio bolso para pagar ônibus e pagar as passagens dos integrantes”, lamentou.
Embora a presença dos mais jovens seja cada vez menor nos grupos, os que ainda continuam se mostram dispostos a manter as tradições que foram passadas por gerações.
É o caso da estudante Maria Jéssica, de 20 anos, uma das poucas jovens que continuam se apresentando no grupo. Além dela, crianças e jovens também participam das apresentações, mas são minoria.
“Comecei com 12 anos, meu pai que me incentivou a me apresentar. Ele contava as histórias de quando era mais jovem e fazia as suas apresentações e isso chamou minha atenção”, conta Jéssica.
Para ela, apesar das dificuldades, manter o guerreiro é importante para a cultura alagoana. “Mesmo a juventude estando mais preocupada com o celular do ano do que com a sua história, acho importante representar aquilo que foi passado por gerações, como meu avô passou para meu pai”.