Pai índio também ama e educa seus filhos
Neste segundo domingo de agosto, o mundo comemora a data simbólica Dia dos Pais. Sem entrar nos verdadeiros motivos para a criação da data, trata-se de uma iniciativa que acaba por unir ainda mais famílias inteiras em torno da figura paterna, tão forte quanto a materna.
Essa ligação envolvendo os pais acaba amolecendo os corações dos donos de casa, pais de famílias, até bem pouco tempo, único responsável pela manutenção financeira do lar. Exemplo perfeito de pai é impossível ser encontrado. Todos acabam sendo perfeitos e imperfeitos ao mesmo tempo. Porém, o amor dos filhos acaba sendo o mais importante, na maioria das vezes.
O antigo Pajé da aldeia Xucuru-Kariri, Lenoir Tibiriçá, de 54 anos, por exemplo, saiu de Palmeira dos Índios e foi parar na França para cuidar da educação dos seis filhos. Além de ser o responsável pela condução do ritualismo mágico na comunidade indígena, ele também é artesão.
Ao lado de um dos filhos, Tanawy Tenório, ele fala da relação com a prole. “O contato físico entre os índios é muito importante. E isso acaba nos unindo ainda mais. Às vezes, quando a gente fala algo, o filho não entende. Só lá na frente é que ele vai ver e entender o que falamos e vai colocar aquilo na cabeça como o certo ou o errado”, explica.
Já o filho afirma que a relação entre pais e filhos índios é muito boa. “O pai é mais presente entre nós do que na cidade. Lá as pessoas têm mais opções para sair e acabam se esquecendo de coisas simples. A família na aldeia é mais junta e isso é bom”, disse.
Lenoir afirma que tem uma ligação muito forte com os filhos e essa relação vai além do que podemos ver ou compreender, num primeiro momento. Por ter sido Pajé, ele entende e acredita que recebe mensagens de anjos. “A religião, a crença nos unem. Somos mais fortes. Ele vê antes o que vai acontecer e eu explico como as coisas irão acontecer. Numa vez, ele teve um sonho que estava morrendo, acordou sentindo dores na barriga, inclusive. Aconselhei que ficasse em casa. Na festa que ele iria, um índio foi morto durante uma comemoração. Era para ter sido ele. Nossa relação é também espiritual”, revelou.
Tanawy Tenório está em seu segundo casamento. Tem dois filhos, mas, apesar de saber, não pretende seguir os passos do pai na pajelança da aldeia. Em silêncio, ele ouviu com atenção as palavras do pai e sorriu confirmando a força da ligação amorosa e espiritual que tem com seu pai.
A dedicação do pai índio não mede esforços e nem distância. Graças ao seu dom na produção de artefatos indígenas, Lenoir e outros índios viajam para dentro e fora de Alagoas, em busca de bons negócios, além de divulgar a arte local. Ele estava em Salvador no ano de 2005, quando conheceu um prefeito de uma cidade francesa.
Era o chamado Ano Brasil-França e diversos artistas de vários estados e especialidades foram convidados para participar dos eventos promovidos no país europeu. Tudo deu tão certo que, os 15 dias programados foram prolongados para dois meses. “Saí de lá com o título de cidadão francês. Até hoje, o ex-prefeito mantém contato comigo, graças a esse negócio de rede social”, falou aos risos.
Ele orgulha-se de estar casado há 31 anos, com a índia Maria Tânia. “Somos todos de carne e osso. Estamos aqui de passagem e devemos aproveitar da melhor maneira possível, inclusive a nossa família”, finalizou.
Redação:
Carlos Alberto Jr.
Especial para Estadão Alagoas