Filho de Sérgio Machado montou grampo para gravar caciques do PMDB
O dia 15 de dezembro de 2015 mudou as perspectivas do ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado sobre a Operação Lava Jato. Naquela manhã, o ex-dirigente da subsidiária da Petrobras, empresa que liderou entre 2003 e 2014, por indicação do PMDB, foi alvo de busca e apreensão da Polícia Federal. Ele estava em casa, em Fortaleza, com a mulher e um dos netos.
Assim que os federais deixaram a residência da família, Machado foi se aconselhar com Expedito Machado, um de seus filhos. Preocupado com o avanço da Lava Jato e o risco de ser preso a qualquer momento, o ex-presidente da Transpetro conversou com o caçula sobre a possibilidade de ele próprio gravar conversas com políticos.
Na visão de Sérgio Machado, os grampos poderiam servir para ele ‘se defender de outras versões dos fatos que pudessem surgir’.
Pediu, então, a Expedito que ‘providenciasse o dispositivo para isso, o que ele fez em poucos dias’.
Os grampos de Machado derrubaram a toque de caixa dois ministros do presidente em exercício Michel Temer (PMDB). O senador Romero Jucá (PMDB-RR) ficou no Ministério do Planejamento por 12 dias. Outro alvo das gravações, Fabiano Silveira, passou menos de duas semanas na cadeira de titular do Ministério da Transparência, Fiscalização e Controle, pasta criada por Temer.
Did, como é conhecido Expedito, mora em São Paulo. Havia se dirigido a Fortaleza por causa da busca e apreensão promovida pela PF. Em dezembro, Sérgio Machado não havia fechado ainda seu acordo de delação premiada.
Expedito e Sérgio Machado são muito próximos. O caçula é o único que se interessa por política. O planejamento de pai e filho era que em algum momento Expedito fosse candidato a deputado federal enquanto Sérgio Machado concorreria a governador.
Machado havia concorrido ao governo do Ceará em 2002. Expedito, então com 18 anos, participou intensamente da campanha. O governo do Ceará era o grande sonho do ex-presidente da Transpetro.
Em um de seus depoimentos à Procuradoria-Geral da República, Sérgio Machado contou que tinha ‘um trauma muito grande da última eleição de governador, porque não pôde competir por falta de recursos’. Viu, então, em uma licitação a ‘oportunidade de nesta primeira parcela criar uma reserva para garantir que pudesse posteriormente ter recursos pra voltar a disputar em 2010’.
O ex-presidente da Transpetro afirma que nunca teve ‘qualquer contato com instituição financeira no exterior’. Entre 2007 a 2013, Expedito ‘recebeu recursos no exterior’ relacionados as atividades do pai, contou também em sua delação premiada. Did era o encarregado de atualizar Sérgio Machado sobre os saldos de recebimentos do exterior. Ia com frequência ao Rio de Janeiro para isso.
Em um de seus depoimentos, o ex-Transpetro relatou que o pagamento de vantagens ilícitas não se dava em virtude de medições, mas era deduzido da margem de lucro das empresas, ‘sempre respeitando o orçamento técnico da Transpetro’. Sérgio Machado declarou que buscava os valores nas empresas selecionadas à medida que fazia os acertos com políticos em Brasília.
“Nem sempre conseguia atender integralmente às demandas dos políticos; que crê que alcançava cerca de 60% de taxa de sucesso em atender aos políticos nos montantes que eles pediam; que o pagamento de vantagens ilícitas pelas empresas permitia ao depoente manter-se no cargo, na medida em que preservava o apoio político ao repassar essas vantagens para políticos”, contou à Procuradoria-Geral da República no início de maio deste ano.
Ao fim de um de seus últimos depoimentos, na tarde de 6 de maio, Sérgio Machado foi questionado pelos investigadores se desejava acrescentar algo mais. O ex-presidente da Transpetro afirmou que ‘o esquema de financiamento de campanha e de enriquecimento ilícito desvendado pela Lava Jato ocorre desde de 1946 e este é um momento de se alterar essa realidade, sendo esta uma das razões pela qual decidiu colaborar’.