MC de ‘Mais de 20 engravidou’ nega incentivar violência contra mulher

Letras que saem de bailes funk e vão parar em inquéritos policiais não são novidades na carreira de MC Smith, de 29 anos. Autor da música “Vida bandida”, o cantor chegou a ser preso em 2010, acusado de apologia ao tráfico. Na semana passada, seu funk “Mais de 20 engravidou”, popular em bailes no Rio há alguns anos, foi citado no vídeo que mostra o estupro coletivo da jovem de 16 anos na cidade, segundo o advogado de um dos suspeitos.

mc_smithEle diz ao G1 que nunca fez apologia a nenhum crime. “Eu sou um jornalista, sou um repórter musical. Eu falo o que acontece na comunidade”, diz. O discurso é o mesmo de seu novo livro, “Acabou o esculacho” (Ed. Letras e Ideias), em pré-venda, sobre os 10 anos de carreira no funk.

MC Smith não é investigado no caso do estupro da da jovem. Mas sua música “Mais de 20 engravidou” apareceu no inquérito quando o advogado de Lucas Perdomo Duarte Santos, apontado como namorado da jovem, disse que a menção no vídeo de que 30 homens teriam praticado ato sexual com ela, era uma referência a “um rap conhecido na comunidade”.

“Essa aqui mais de 30 engravidou”, diz um dos homens na filmagem do estupro.

O advogado argumentou que a música foi citada sem que houvesse realmente 30 homens no local. A polícia confirmou que houve o estupro coletivo, mas ainda investiga quantos participaram do crime.

Que funk é esse?
“Mais de 20 engravidou” fala de um homem “sinistro” que “não se intimida com as novinhas”, já engravidou várias delas e “se mexer com ele vai ficar de barriga” – há alguns registros do funk no YouTube.

O MC diz que “Mais de 20 engravidou” surgiu em 2008. “Tinha um morador da comunidade, que já morreu, Seu Joaquim. Antigamente era igual na roça, a galera não tinha TV e fazia outras coisas. E daí o cara tinha filho pra caraca. Ele teve 27 filhos. A música foi feita em cima da história do seu Joaquim. Ele era curandeiro do Morro do Caracol no Complexo da Penha.”

O cantor usa o mesmo argumento de “narrar a realidade” ao negar que este e outros funks feitos por ele podem incentivar a visão de mulheres só como objeto sexual e a violência contra elas.

Em “Mulher levanta nóis, mas também derruba”, ele canta: “Entra pra dentro de casa quando o bloco passar / Se eu te pegar na rua, garota, vou te amassar”. “Conflitos penetrantes” diz: “Nós vai enguiçar essa galinha / Ah, mó galinha mesmo”. O MC diz fazer esses funks para “mostrar que o crime da violência contra a mulher existe”, sem incentivá-lo.

“Eu estou falando o que acontece, que os caras tratam a mulher mal. Os caras batem na mulher, falam para mulher que se saírem de casa vão dar um soco na cara. Isso é legal? Não”, diz MC Smith.

“Sou contra a violência contra a mulher. Se eu vir alguém bater numa mulher, pego o cara de porrada”, completa.

Sobre o caso ocorrido no Rio, mesmo após a polícia reconhecer que houve um estupro, MC Smith diz que não acredita que o crime tenha acontecido. “Ninguém estuprou ela, não. Eu moro na Zona Norte. Se tivesse estuprado, todo mundo tinha matado. As próprias pessoas que moram na comunidade teriam se revoltado e linchado todo mundo. É minha opinião. Tem opiniões diversas por aí.”

Tratamento à mulher no funk deve ser revisto?
“A MPB, com suas formas poéticas, fala sacanagem. O sertanejo fala sacanagem. O samba, o pagode, forro, todos os estilos de música no Brasil têm sacanagem. Só o funk que é o criticado da história”, diz o músico.

Mesmo assim, será que MC Smith não acha que o tratamento à mulher em funks como “Mais de 20 engravidou” deve ser revisto? “Eu não revejo, não tenho nem porque voltar atrás da música que eu fiz. Foi um fato que aconteceu. Existem fanfarrões. Como existe o cara que é pai de família, existe o que tem uma porção de filho por aí”, diz.

Proibidão, ‘putaria’ e melody
Existem três vertentes principais no funk do Rio: o proibidão, que fala sobre crime, o de “putaria”, que fala sobre sexo, e o melody, mais suave e romântico.

Após passar pelas duas primeiras vertentes, MC Smith aposta na terceira: “Fui para o melody para respirar novos ares. Eu não estava mais aguentando passar na rua e o policial dar um tapa na minha cara e falar que eu era cantor de bandido, de traficante”.

G1

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