Cáritas Palmeira dos Índios faz campanha em solidariedade ao povo indígena Kalankó
O povo Kalankó que é uma das etnias presentes no Semiárido alagoano, região onde se concentra o maior número de grupos indígenas do estado, resultado de processos históricos, conflitos sociais e fatores climáticos, resultando em migrações e diásporas.
Composto por cinco comunidades, Januária, Gregório, Gangorra, Batatal e Lageiro do Couro, totalizando cerca de 97 famílias, os Kalankó se afirmam enquanto índios rama de Pankararu, pelo fato de ter sua origem e genealogia vinculado ao grupo presente no estado de Pernambuco, a quem chamam tronco, também em região semiárida. Segundo o pajé Antonio o etnônimo Kalankó faz referência, ao calango, nome dado a pequenos répteis encontrados no bioma caatinga, dos quais afirma o pajé terem se alimentado em tempos de grandes secas, este que não é visto de forma triste ou melancólica, e sim com gratidão e força, sendo um dos elementos símbolos de resistência.
A resistência é característica dos grupos indígenas presentes no Semiárido, no caso de Alagoas, desde aqueles que habitam os brejos de altitude do Agreste até aqueles no Alto Sertão, a exemplo dos Kalankó, que distante da área urbana do município de Água Branca, em maiores dificuldades com o abastecimento d’água, que mesmo com os canos presentes, conta com uma irregularidade quinzenal que pode, e na maioria das vezes se estende.
A única alternativa diante da constante falta de água é o armazenamento, quando ocorre abastecimento ou pegam água em tambores utilizando carros de boi, armazenamento que se torna quase inviável, pela inexistência de local adequado, e sem capacidade para as necessidades básicas, mesmo que para um curto período de tempo, sendo este, uma questão de saúde, direito conquistado, tendo em vista uma política pública, segurança e acima de tudo, dignidade.
É necessário saber que o povo Kalankó possui um alto índice migração por emprego, especificamente de jovens, para outros estados para trabalhar na construção civil, ou na colheita do café, da laranja, antes mesmo de concluírem o ensino médio, fato este que não é novo. O grupo mantém uma relação direta com a terra, possuem roçados familiares para consumo próprio, e em algumas poucas casas, algumas cabras, ou bois para serviços de carro, o que segundo o Cacique Paulo, água para a produção, contribuiria para a permanência na comunidade, porém sua preocupação está principalmente na água de beber, fazendo referência inclusive a escola que possui um velho tanque já em péssimas condições.
A pedido do próprio grupo indígena a Cáritas Diocesana de Palmeira dos Índios, que faz parte da Articulação no Semiárido Brasileiro, lançou uma Campanha em Solidariedade ao Povo Kalankó, “Eis que eu vejo uma pequena nuvem, como a mão de um homem”, (1 Reis, 18:44), com o objetivo de levantar fundos e construir 60 cisternas atendendo as famílias Kalankó das cinco comunidades.
Esse é um desafio da Cáritas mobilizar pessoas, organizações, diversos setores da sociedade para se motivarem a contribuir com essa ação de generosidade, frente aos embates que não apenas os Kalankó enfrentam, mas diversos povos indígenas existentes no Semiárido Brasileiro. Os índios do Agreste e Sertão alagoano enfrentam sempre maiores dificuldades em acessar políticas públicas, visto que, a história que permeia os povos originários está infelizmente vinculada a um processo de negação de seus direitos, prensados em pequenos pedaços de terras por latifúndios, os Kalankó, a exemplo de outros, almejam demarcar seu território tradicional e com isso, fortalecer sua luta pela permanência em seus espaços sagrados. As tecnologias sociais, no caso, as cisternas de placas, para consumo das famílias, não representam apenas um elemento de armazenar água, mas carrega um levante pela vida indígena no coração do Semiárido alagoano.
Para aqueles que desejam contribuir com a campanha, a Cáritas Diocesana de Palmeira dos Índios abriu uma conta bancária para pessoas físicas e jurídicas fazerem os seus depósitos, com qualquer quantia, os dados são: agência Banco do Brasil nº. 0136-8, conta corrente: 22.222-4, em nome de Cáritas Diocesana de Palmeira dos Índios.
*José Moisés de Oliveira Silva – Antropólogo e comunicador da ASA Alagoas.
Simone Lopes de Almeida – Historiadora e assessora Pedagógica da ASA Alagoas.