Adotado há três anos por casal homoafetivo Felipe é o sincero retrato da felicidade

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Felipe tem cinco anos, estuda no período da tarde e durante a manhã, brinca e faz a tarefa da escola, enquanto acompanha o trabalho dos pais, que são proprietários de um salão de beleza em Maceió. O casal Andrew Rodrigues e Yvan Silva não teve dúvida que se tratava de seu filho ao vê-lo pela primeira vez, em uma entidade de acolhimento da capital, em 2013, abrindo caminho para a realização da primeira adoção homoafetiva de Alagoas.

“É um sentimento que só sabe quem sente. Algumas pessoas veem com estranheza a adoção homoafetiva, mas o nosso filho lida com tudo de forma tranquila. Ele entende que tem dois pais”, afirmou Andrew, para quem a alegria e a satisfação de ser pai de Felipe superam qualquer coisa, inclusive o preconceito.

O casal conta que busca mostrar ao filho que existem diversos tipos de família: crianças que têm só mãe, aquelas criadas pelos avós ou mesmo as que moram apenas com o pai, como forma de explicar eventuais questionamentos acerca da adoção.

“O importante é que exista amor e respeito na família, independente de quem faça parte dela. O Felipe leva uma vida normal, visita os amiguinhos, passeia, viaja, brinca e na escola costuma ‘liderar’ as brincadeiras, tendo o respeito das demais crianças”, disse Andrew.

Lembrança do dia das mães

Segundo os pais, as escolas por onde Felipe já passou sempre buscaram incluí-lo em todas as atividades, a exemplo da comemoração do dia das mães, quando ele é incentivado a fazer uma lembrancinha para os dois pais.

Felipe gosta de jogar bola e ir à praia e, recentemente, encontrou um novo passatempo: andar no skate que ganhou de presente dos pais. “Cada aprendizado dele é uma vitória. Pai é besta. Gosto de ver as fotos, de pensar no quanto ele cresceu e em como está bem”, confessou Andrew.

Yvan destaca que a adoção eternizou um laço com o filho, que só passou a alegrar a vida dele aos dois anos, meses depois de ter sido devolvido à instituição de acolhimento pelo primeiro adotante, sob alegação de que, apesar de ter uma criança maravilhosa, não estava pronto para acolhê-la.

“Gosto da confiança que ele sente, quando pede comida ou está doente e me chama pra dar remédio. Ouvimos o coração para adotar. Isso é o mais importante. A ligação é pra sempre. Foi a melhor coisa que fizemos na vida. É burocrático e até cansativo, mas algo necessário. A adoção no Brasil demora porque as pessoas escolhem demais, buscam um perfil de filho que nem existe”, disse.

Referência para outras famílias

Por ter sido o primeiro casal homoafetivo a adotar no Estado, Andrew e Yvan se tornaram uma referência para outras pessoas, que buscam informações sobre o procedimento necessário para a adoção. “Costumamos contar nossa história, falamos que é preciso procurar o Poder Judiciário para fazer tudo de forma correta. Notamos que as pessoas têm um pouco de vergonha, por querer adotar.”, disse Andrew.

Segundo ele, muitas pessoas acabam sendo preconceituosas sem querer. “Tem famílias em que as mães são tão ausentes. Imagine o quanto deve ser complicado viver em um abrigo, onde a criança não tem nem o pai nem a mãe. Ainda sofremos com alguns comentários maldosos. Em muitos casos, vêm de conhecidos que não conseguiram ter filhos e se recusam a adotar”, afirmou.

O casal se mantém integrado com outras famílias que adotaram e que costumam se reunir em festas promovidas pelas entidades de acolhimento. “Trocamos experiências com os outros pais. É bom porque o Felipe passou a encarar tudo com naturalidade”.

Andrew e Yvan vão renovar a inscrição no Cadastro Nacional de Adoção, pois querem adotar um outro filho. “Já faz um tempo que estamos conversando e dessa vez, queremos adotar uma menina. Já éramos felizes juntos e depois que o Felipe chegou passamos a ser uma família completa. Queremos expandir ainda mais essa felicidade”, contam.

A psicóloga da 28ª Vara Cível da Capital – Infância e Juventude – Fátima Malta, explica que um dos fatores que retarda a adoção é a grande quantidade de crianças e adolescentes que ainda não foram destituídos do poder familiar e continuam nos abrigos.

“Em Maceió, é muito difícil fazer adoção tardia, porque muitos abrigados passaram da faixa etária de adoção e têm entre 07 e 17 anos. Em Pernambuco e no Rio de Janeiro, por exemplo, existem grupos só de adoção tardia, só direcionado a crianças com HIV, grupos de irmãos, com síndrome de Down ou especiais. Estamos buscando formar um grupo de apoio à adoção aqui, formado por profissionais e famílias que adotaram”, explicou.

Para a psicóloga, é necessário que a criança saiba que foi adotada e tenha consciência da sua origem. “Filho adotivo não é pra viver mascarado, escondido da sociedade. As pessoas procuram crianças com as características que elas possuem e isso já é um preconceito. Sou tia adotiva e minha sobrinha faz parte de grupos de adoção. A criança tem o direito de saber sua origem biológica. As famílias devem omitir apenas detalhes desnecessários, que não vão ajudar em seu crescimento”, ressaltou.

 

Fonte: TJ/AL

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