Com isso, em termos puramente matemáticos, tanto governo quanto oposição ainda teriam margem para angariar mais votos – e, no caso de Dilma, até virar o jogo.
O problema: “As derrotas foram tantas ao longo da semana que fica difícil você não acreditar que o governo vai perder”, afirma Thiago Vidal, coordenador do núcleo de análise política da Prospectiva. “O que o governo não conseguiu fazer em duas semanas, dificilmente, conseguiria fazer em um dia”.
“Os dois lados estão negociando e oferecendo vantagens para os deputados do centrão, que a gente poderia chamar de partidos governistas fisiológicos”, afirma Humberto Dantas, professor do Insper e consultor da 4E Consultoria, em referência a legendas como PP, PSD, PR e PTB.
Em outros palavras, para além da questão de se pedaladas são ou não crime de responsabilidade, só vai ganhar mais votos dessas legendas quem tiver mais a oferecer.
Jogo perdido?
A questão é que, desde o início do mandato de Dilma Rousseff, o governo do PT perdeu o traquejo político para ganhar o apoio das bancadas. “É um governo que, ao longo de seis anos, não deu mostra alguma de capacidade de articulação”, afirma Dantas. “[O processo de impeachment] é também uma ruptura com esse governo que não soube negociar”.
“Dilma foi um desastre porque imaginou fazer política como quem faz burocracia”, diz Roberto Romano, professor emérito de Ciências Políticas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
O resultado se materializou em fevereiro de 2015 quando o peemedebista Eduardo Cunha, já declarado desafeto da petista, foi eleito presidente da Câmara – subvertendo inclusive o acordo de sucessão entre PT e PMDB no comando da Casa.
Nem mesmo o carisma do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva pode ser capaz de aplacá-lo.
Desde março, o petista se transformou no principal ativo da coordenação política de Dilma. Mesmo sem assumir o cargo de chefe da Casa Civil, ele tem coordenado, de um hotel de luxo em Brasília (DF), a força-tarefa para impedir o impeachment.
O cenário dos últimos dias sugere que o esforço pode ter sido em vão.
“O Lula é aquele camisa 10 que passou o jogo se aquecendo, se contundiu no aquecimento e, no fim do jogo, o cara entrou e caiu”, compara o consultor da 4E.
Na opinião dos especialistas, o resultado da votação de domingo deve ser um desdobramento dessa combinação de fatores. Mesmo assim, o professor da Unicamp afirma que ainda há espaço para o imprevisível na votação de domingo.
“Uma coisa que eu aprendi nos meus 70 anos é que você não conta antes votos do eleitor, não conta antes votos do Supremo Tribunal Federal e você não conta antes votos de deputado e de senador”, afirma.
No final da tarde de sexta, por exemplo, a deputada federal Clarissa Garotinho (PR-RJ), que está grávida de 36 semanas e tinha declarado voto favorável ao impeachment, solicitou o início de sua licença-maternidade.
Com a ausência da deputada no dia da votação, o governo ganha mais um voto já que cada abstenção ou falta rende pontos para o placar de Dilma.
“O jogo no momento da votação supõe uma série complexa de negociações, de pressões e chantagens”, afirma Romano.
Nas próximas horas, termina o prazo do governo para se livrar do risco de impeachment na Câmara. A única certeza, por ora, é de que nenhum dos lados vai descansar até que o último deputado proclame seu voto no plenário.