Viúva de Torquato Neto, Ana Maria, morre aos 71 anos no RJ
Ana Maria tinha sofrido um acidente, onde fraturou o braço e passou por uma cirurgia ortopédica, chegando a contrair a síndrome de Guillain-Barré – doença que ataca parte do sistema nervoso e leva à inflamação dos nervos, que provoca fraqueza muscular.
“Ela chegou ser hospitalizada, fez uma pequena cirurgia, contraiu uma pneumonia e a síndrome de Guillain Barré e faleceu hoje à noite”, disse George Mendes, que é curador da obra de Torquato Neto.
Ana Maria trabalhava na editora Rocco, se aposentou e era uma das principais capistas da editora. Ela era uma figura discreta, sempre evitava dar entrevistas, mas recentemente deu depoimento para um documentário sobre Torquato Neto.
A viúva veio ao Piauí para receber uma homenagem do governo Wellington Dias. O jornalista Kenard Kruel fez um dos poucos registros da viúva quando escreveu o livro “Torquato Neto ou a carne seca é servida” em 2008.
“Ana Maria era uma pessoa afável, sempre carinhosa, comigo. Ajudou-me muito na feitura do livro que fiz sobre Torquato Neto, agora, era extremamente intolerante com quem tentava macular a vida dela e, principalmente, de Torquato Neto”.
No livro de Kernard Kruel, Ana Maria fez o seguinte relato:
“Tem um filme do Sam Peckinpah que começa com um escorpião que se mata cercado pelo fogo”, lembra ela, evocando o signo astrológico do artista e sua sina. Eu, que estava perto, não percebia com clareza, mas depois fui reunindo as peças. Ele tinha, por exemplo, uma enorme coleção de literatura de cordel. Devagarzinho, ele passou adiante um por um. Começou a queimar os textos, alguma coisa eu ainda consegui salvar, mas um dia ele quebrou a máquina de escrever e disse que nunca mais escreveria”.
Na inauguração do Teatro da UNE, no antigo Villa-Lobos da Praia do Flamengo, em 1963, conheceu a baiana de Ilhéus Ana Maria dos Santos e Silva, com quem se casou em 11 de janeiro de 1967. Em 27 de março de 1970, nasceu o filho único Thiago, piloto de avião, com o nome de comandante Nunes.
Torquato Neto e Ana Maria passam a morar numa casa na ladeira do Tabajaras, 52, em Copacabana. Era uma casa de vila – com quarto, sala e um quartinho de empregada no lado de fora, perto dos teatros Opinião e Teresa Raquel e da adega Pérola, que se tornou o botequim favorito do poeta. A casa existiria por mais de um ano como lugar de criação e confraternização. Certa vez, logo após um sarau que contou com a presença do lendário e elegante Ismael Silva, Torquato Neto e João Bosco (ainda estudante em Minas) fizeram Fique Sabendo, um samba – ainda inédito – em homenagem ao encontro com o sambista da Lapa que, de terno e gravata, cantou Antonico e Se Você Jurar.
Em 2010, todo acervo do artista Ana Maria enviou ao Piauí e entregou ao publicitário George Mendes que é curador da obra.
Flash Yala Sena
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