Caso o PMDB confirme a saída do governo, o apoio à presidente Dilma ficará ainda mais incerto na Câmara dos Deputados, onde tramita o processo de impeachment. O diretório nacional do partido, maior aliado do PT na gestão Dilma, decide nesta terça-feira (29) a partir das 15h se continua ou se desembarca do governo.
Nos bastidores do Planalto, a saída já é dada como certa após o ministro do Turismo Henrique Eduardo Alves entregar o cargo no fim da tarde desta segunda-feira (27).
Alves deve ser seguido por Celso Pansera (Ciência e Tecnologia) e Helder Barbalho (Portos) que já confirmaram que entregarão seus postos após conversa com o vice-presidente Michel Temer. Mauro Lopes (Aviação Civil), que tomou posse há apenas dez dias, deve acompanhá-los. Eduardo Braga (Minas e Energia), que vem defendendo Dilma, também deve se desligar.
A decisão final do PMDB é esperada com expectativa em Brasília, já que a posição do partido, maior bancada na Câmara, com 69 deputados, titular da vice-presidência e de mais 7 ministérios, será um termômetro do destino do governo Dilma Rousseff.
Em entrevista à colunista do R7 Chris Lemos, o presidente da convenção do PMDB, Romero Jucá, disse que determinará a entrega imediata dos ministérios ao Planalto após o desembarque da legenda da base aliada do governo.
— No dia seguinte à decisão [de desembarque do governo], nenhum ministro ou membro do PMDB ocupará cargo em nome do partido. O PMDB não estará oficialmente a base do governo e não ocupará cargos. A posição de cada um deve ser levada em conta e cada um é responsável pelos seus atos.
Da base aliada da presidente, apenas dois partidos são considerados 100% fiéis: PT e PCdoB. Juntos, após as movimentações da janela partidária, somam 71 deputados, 101 a menos do que presidente precisaria para barrar o impeachment no plenário da Câmara (172 votos, ou um terço mais um).
Efeito manada
Com a saída do PMDB, oficialmente a base da presidente ficaria com 275 deputados e os partidos da oposição somados aos independentes (como os que romperam com o governo, PSB, PRB e possivelmente PMDB) totalizariam 238 parlamentares. Seguindo essa conta, Dilma ainda manteria a maioria no parlamento.
A questão é que o apoio formal não significa apoio na prática. A fragmentação partidária, hoje são 25 partidos com assentos na Câmara dos Deputados, mantém em alta a volatilidade dos parlamentares. Antes mesmo da crise política, quando a presidente ainda mantinha grande apoio no Congresso e popularidade em alta, a enorme base aliada já não era fiel e todos os partidos registravam um alto número de dissidentes.
Hoje a volatilidade é ainda maior. O desembarque do PMDB pode causar a saída de outros partidos da base, como PP (49 deputados), PTB (19 deputados) e PSD (31 deputados), total de 171 deputados, em um efeito manada que já está no radar do Palácio do Planalto.
Os partidos da oposição, que dificilmente terão dissidentes votando contra o impeachment, somam 99 parlamentares, menos de um terço dos votos necessários para o afastamento da presidente na Câmara (342 votos, ou 2/3 do Congresso).
Última cartada
Como última cartada após a confirmação da saída do PMDB do governo, o Planalto quer realizar uma redistribuição dos cargos deixados pelo peemedebistas para outros partidos médios da base. Seriam quase 500 postos nos primeiro e segundo escalões.
Nas contas do governo, com a redistribuição de cargos, o número de votos favoráveis a Dilma no processo do impeachment que tramita na Câmara dos Deputados pode chegar a 186.
A dissidência também pode beneficiar a presidente, caso parlamentares de partidos que se declarem independentes mantenham suas posições pessoais, como é um caso de parte do PMDB, contra o impeachment de Dilma.
Para a comissão de impeachment o governo já se considera praticamente derrotado. Dos 65 integrantes, precisa de 32 votos para barrar o processo e evitar o desgaste de chegar ao Plenário. Hoje a comissão tem 44 parlamentares da base. Com a saída do PMDB o número cai para 36, sendo que o número de infiéis pode ser muito elevado.