Dilma e o comando do Esporte: uma jogada perigosa
Cada vez mais acuada diante do avanço do processo de impeachment, a presidente Dilma Rousseff tem feito uso escancarado de cargos no governo para tentar cooptar votos favoráveis à sua manutenção no cargo. Poucos exemplos são tão claros quanto a troca de comando no Ministério do Esporte nesta semana – que se deu ainda a menos de cinco meses de sediar os Jogos Olímpicos. Este é, aliás, mais um fator pelo qual a pasta se torna um objeto de barganha valioso no balcão de negócios para conter o impeachment. Mas as movimentações desta semana podem ter representado uma jogada desastrada do Planalto. Ao rifar George Hilton, o Planalto tenta agradar o PRB, satisfaz o aliadíssimo PCdoB – e arrisca-se a perder apoio do Pros
Para fugir da destituição, Dilma enfrenta o desafio de organizar sua enfraquecida base na Câmara dos Deputados e, assim, garantir o apoio de ao menos 172 parlamentares. No vale-tudo pelo mandato, a petista acabou se rendendo a uma briga interna no PRB e cedeu às ameaças feitas pelo partido em troca de apoio no Congresso. A negociação atingiu diretamente o Esporte, comandando por George Hilton (PRB). Ele pode ser substituído pelo secretário de Alto Rendimento Ricardo Leyser, filiado ao PCdoB, partido que já comanda o Ministério da Defesa – ou seja, que não precisaria necessariamente de mais afagos neste momento de desespero.
De saída da pasta, o ministro George Hilton, segundo aliados, credita a sua provável demissão a uma investida do presidente do PRB, Marcos Pereira. Os dois, que até semana passada dividiam a legenda, entraram em rota de colisão ao divergirem sobre a destituição da petista. Pereira surpreendeu ao publicar artigo em que defendia a queda de Dilma. Querendo sustentar-se no cargo, Hilton apressou-se em discordar publicamente de seu presidente. A confusão no partido só aumentou: Marcos Pereira voltou a subir o tom contra o Planalto e conseguiu emplacar o desembarque da legenda do bloco de apoio à presidente Dilma. O governo ainda tentou conter o movimento, sem sucesso. Ao contrário: Pereira pediu a demissão de Hilton sob o argumento de que precisava do reforço dele na Câmara dos Deputados. De forma contraditória, no entanto, o partido não entregou os demais cargos mantidos na pasta.
No esforço para continuar no ministério em ano olímpico, George Hilton, chancelado por Dilma, anunciou no último dia 18 a migração para o Pros, partido que desde a sua fundação, em 2013, atua a reboque do Planalto no Congresso. O movimento atendia aos interesses do ministro, que lutava contra sua demissão, e ainda do Pros, que sempre sonhou em ocupar uma importante pasta na Esplanada dos Ministérios. Mas voltava a contrariar o PRB, que se sentiu desmoralizado diante da insistência de Hilton em permanecer no posto. O presidente do PRB, segundo aliados de Hilton, pediu a derrubada do atual ministro do Esporte e propôs a acomodação de Leyser. Em troca, recuaria do anúncio de fechar questão pelo impeachment, liberando os parlamentares indecisos a votarem como quiserem. O cálculo é o de que metade da bancada de 22 deputados esteja dividida e poderia, então, agir para salvar o mandato de Dilma – o que ia ao encontro do esforço palaciano de fugir da cassação. A petista decidiu demitir Hilton.
Efeito cascata – A questão no PRB, porém, acabou cruzando a fronteira do partido e atingiu um outro aliado: o Pros. Interlocutores da legenda afirmam se sentir “provocados”. O partido que caminha ao lado de Dilma há três anos considera que não teve a fidelidade retribuída. No alto escalão, comandou o Ministério da Educação com o controverso Cid Gomes, que era considerado da cota pessoal da petista, e teve uma passagem relâmpago na Integração com o interino Francisco Teixeira. Agora, volta a ser usado como escada. Para piorar, se vê em situação que tem pouco a oferecer: atingido pela janela partidária, o Pros encolheu de tamanho e ficou com apenas quatro deputados ativos.
Na última quarta-feira, o presidente do Pros, Eurípedes Júnior, acompanhado de outras lideranças partidárias, foi ao Planalto para tentar evitar a demissão de Hilton. Na conversa mantida com o ministro Ricardo Berzoini (Secretaria de Governo), ressaltou a parceria mantida com o governo e pediu pela manutenção de Hilton no cargo. Berzoini prometeu dar uma resposta até esta segunda-feira. “A gente não tinha espaço, mas a partir do momento que vem uma nova filiação, é um partidário e nós temos de defendê-lo”, afirmou um interlocutor do Pros. “Nós temos poucos deputados, mas eles poderiam ser bem direcionados em um projeto de coalizão e ampliar o votos para 12 ou 20 apoiamentos”, continua ele. “É um movimento incoerente. O governo entrega o ministério a um partido que já é da base e causa um constrangimento de outro lado. Nós estávamos quietos e em uma linha independente. Não sei se vai ter movimentação de se rebelar. Vamos avaliar os votos”, destaca o interlocutor.
Um outro parlamentar ainda sintetiza o dilema do governo criado em torno do Ministério do Esporte: terá ou de se render à pressão da legenda ligada à Igreja Universal, que já demonstrou sua inconstância em apoiar o Planalto, ou fazer acenos a um partido que acabou diminuído. Para ele, em qualquer das opções, haverá “estrago”. “Existem outros partidos maiores e mais estáveis. Está faltando uma coisa para o Planalto: raciocinar”, afirma.
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