Câmara: votação do impeachment terá fragmentação recorde
A Câmara dos Deputados deve votar o afastamento da presidente Dilma Rousseff em meio a um nível recorde de fragmentação partidária. Isso poderá dificultar a governabilidade do país independentemente de qual seja a decisão final.
Segundo a Folha de S. Paulo, atualmente 25 partidos estão no Congresso, os três maiores são PMDB, PT e PP, que totalizam pouco mais de um terço dos deputados federais.
Entre os partidos que estiveram nas últimas seis disputas presidenciais, o PT tem a menor bancada desde que chegou ao Palácio do Planalto, já o PSDB diminuiu em relação aos anos do governo do tucano de Fernando Henrique Cardoso.
A publicação destaca que a Rede, que abriga a ex-senadora pelo Acre Marina Silva (ex-PT, ex-PV e ex-PSB), tem apenas cinco deputados. Já o Partido da Mulher Brasileira tem apenas um membro, do sexo masculino.
A legislação brasileira ajudou o país a se tornar um dos líderes mundiais em proliferação de partidos desde sua redemocratização. Até 1979, a ditadura militar permitia apenas duas legendas. Os atuais números não têm precedentes no período.
A Folha explica que na Câmara existem obstáculos inéditos para a formação de maiorias e mesmo alianças ocasionais. No caso da defesa de Dilma, o PT e seus aliados mais fiéis à esquerda, PDT e PC do B, contam apenas 91 votos, 80 abaixo do mínimo necessário para manter a presidente no governo.
Desde a legislatura passada, o trio de siglas diminuiu, quando o fracasso das políticas econômicas desenvolvimentistas desencadearam um desgaste progressivo do governo.
Ainda segundo a publicação, no restante da base de sustentação ao Planalto, as afinidades ideológicas são mais ralas, e os compromissos, mais incertos, um exemplo é o PMDB do vice Michel Temer e seus 69 deputados.
Pós-impeachment
O governo tem pela frente uma agenda de ajustes orçamentários que podem incluir a elevação de impostos e uma reforma da Previdência com redução de direitos.
PSDB e DEM são os partidos que podem concordar com a pauta, pois são os principais sustentáculos das reformas liberais do governo FHC na década de 1990. Em 1998, os dois partidos elegeram juntos 204 dos 513 deputados. O segundo governo tucano elevou a alíquota da CPMF, a antiga contribuição sobre movimentação financeira, criou o fator previdenciário, que reduziu as aposentadorias, e aprovou a Lei de Responsabilidade Fiscal.
A reportagem destaca ainda que atualmente tucanos e democratas somam apenas 76 nomes; somados os peemedebistas, que também minguaram nas últimas eleições, não se atinge 30% da Câmara.
A oferta de cargos e verbas poderá ser uma alternativa para conquistar votos nas legendas de menor protagonismo político, que, atualmente, formam a maioria da Casa. Os principais exemplos são PP, PR e PSD, todos representados no ministério de Dilma.
Na possibilidade de um impeachment, a união de apoio a Temer será outra tarefa difícil, independentemente da instabilidade que os próximos movimentos da operação Lava Jato venham a provocar no mundo político.
MSN