Oposição crê em pressão das ruas para entrada de Lula não reverter crise
Diante da notícia de que o ex-presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva aceitou convite para assumir a Casa Civil do governo da presidente Dilma Rousseff nesta quarta-feira, 16, partidos de oposição apostam na pressão das ruas sobre os parlamentares para impedir que o ingresso do petista no Palácio do Planalto reverta a atual crise política e esfrie os ânimos favoráveis ao impeachment.
A entrada de Lula no governo é tida como a “bala de prata” do Planalto para reaglutinar a base aliada, destravar a relação com o Congresso e impedir o impeachment da presidente Dilma Rousseff.
“Vai haver eleição em outubro e os deputados não moram em Brasília. Alguns deputados serão candidatos, outros apoiarão (candidatos) e serão cobrados”, afirmou o líder do DEM na Câmara, Pauderney Avelino (AM). “Parlamentares são sensíveis às ruas”, salientou Avelino. “O ambiente está muito conturbado. Lula está sendo acossado pela Justiça, a qualquer momento pode virar réu. Não tem margem para manobra”, disse o deputado.
O líder do PPS na Casa, Rubens Bueno (PR), foi na mesma linha. “O capital político dele (de Lula) é este que foi indicado pelas ruas (nas manifestações do último domingo, 13)”, disse o deputado. “A base está sendo pressionada pela população a votar rapidamente o impeachment”, afirmou Bueno.
Em nota divulgada no final da manhã desta quarta-feira, o líder do PSDB na Câmara, Antonio Imbassahy (BA), afirmou que “a nomeação do ex-presidente Lula para a Casa Civil, anunciada hoje, é um tapa na cara da sociedade que foi às ruas pedir o fim do governo Dilma e apoiar a Operação Lava Jato”.
Críticas
Os líderes oposicionistas na Câmara estenderam-se em críticas à nomeação. Os partidos ingressaram na terça-feira, 15, na Justiça Federal do Distrito Federal com ação popular para tentar impedir a posse de Lula. Nesta quarta-feira, farão o mesmo em todos os 26 Estados brasileiros.
“A Casa Civil do governo do PT é o lugar de onde os ministros saem queimados. O Lula já chega queimado”, disse Pauderney Avelino. “O que esperar de um governo desses?”, questionou.
Para o líder do DEM, Dilma entregou a Lula seu governo e, o petista, por sua vez, “fugiu” do juiz federal Sérgio Moro, já que, ao se tornar ministro, o ex-presidente passa a ter foro privilegiado e agora será julgado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) e não mais pela Justiça Federal de Curitiba. “Ela renunciou seu mandato de presidente e entrega a Lula a condução do governo”, afirmou. “A presidente quer blindar o ex-presidente Lula”.
O líder do DEM disse temer que Lula leve para o governo as mudanças econômicas defendidas pelo PT, que considera equivocadas. “Querem usar as reservas para movimentar a economia e usar o Banco do Brasil e a Caixa Econômica para realizar empréstimos”, afirmou.
“Ela está dizendo que não quer mais governar. Está entregando o governo num último suspiro”, afirmou Rubens Bueno, para quem a nomeação de Lula é sinal de desespero. “Desesperado, o governo não tem a quem apelar”, disse Bueno.
“Em vez de se explicar e assumir as suas responsabilidades, o ex-presidente Lula preferiu fugir pelas portas do fundo. Vai assumir um ministério para garantir foro privilegiado e escapar do juiz Sérgio Moro. É uma confissão de culpa e um tapa na cara da sociedade. A presidente Dilma, ao convidá-lo, torna-se cúmplice dele”, afirmou Antonio Imbassahy em sua nota.
“É um governo que não tem mais nenhuma serventia ao País, apenas ao PT, Lula e Dilma. O Estado brasileiro, depois de ter sido tomado de assalto nestes últimos 13 anos para abastecer os cofres de um projeto político, está sendo transformado em refúgio de investigados. Isso é inadmissível”, disse o líder tucano.
Estadão Conteúdo