Hillary tenta se descolar do marido para se tornar presidente dos EUA

Captura de Tela 2016-02-15 às 16.39.47-cropO olhar sereno que sempre esteve por trás do ex-presidente dos Estados Unidos Bill Clinton, nos palanques, esconde uma força crescente. A principal candidata do Partido Democrata para as eleições americanas de 2016, Hillary Clinton, traz consigo uma bagagem significativa — além de primeira-dama, foi também secretária de Estado do governo Obama e senadora por dois mandatos consecutivos. A candidatura de Hillary não apenas tenta provar que ela superou as dificuldades do passado, mas também que pode ser a primeira mulher a liderar a maior potência do mundo.

No entanto, apesar da independência que a candidata adquiriu em relação ao marido ao longo dos anos, a grande dúvida que toma conta da cabeça dos eleitores é se um governo Hillary seria um espelho da política Clinton. E essa questão ocorre porque a população dos Estados Unidos não aceita governos estagnados. Ela gosta de mudanças.

O professor de relações internacionais da Faculdade Belas Artes, Sidney Leite, acredita que, se eleita, a democrata faria um governo com focos diferentes dos estipulados pelo marido, principalmente em relação à política externa e ao assistencialismo.

— Acho que Hillary terá menos dificuldades que Clinton quando a questão for política interna. Isso porque, quando ele assumiu, em 1993, os Estados Unidos passavam por uma estagnação econômica no que se refere ao desenvolvimento tecnológico. Hoje, o país está ajustado economicamente, iniciando uma recuperação. No entanto, em relação à política externa, ela vai ter que se desdobrar — muito mais do que ele — principalmente em relação ao Estado Islâmico e à guerra civil síria.

Apesar da comparação constante entre ambos os governos, para o professor de relações internacionais da ESPM (Escola Superior de Propaganda e Marketing), Heni Ozi Cukier, as vantagens de Hillary em relação ao marido são as bagagens.

— Hillary tem um diferencial: participou da política ativa e inativamente. Foi senadora, o que a fez vivenciá-la na prática. Mas também pôde aprender com os erros e os acertos do marido, que é uma pessoa aclamada nos Estados Unidos e, sobretudo, alguém que entende de mundo.

Segundo o representante do Observatório Político dos Estados Unidos, Geraldo Zahran, ambos os Clintons são democratas moderados em termo de política econômica. No entanto, Hillary, se eleita, dará um foco maior a leis de inclusão de minorias — e vai, principalmente, estreitar as já existentes relacionadas à violência contra a mulher e a discriminação dos salários.

Postura frente aos conflitos externos

Quando a área analisada é a postura militar, os três professores concordam: Hillary será muito mais assertiva que o atual presidente Barack Obama — mesmo sendo conhecida por assumir uma postura pacificadora no Congresso; quando senadora, durante o governo Bush, a candidata votou contra medidas que pudessem intensificar conflitos com o Iraque e Afeganistão. Segundo Cukier, o posicionamento de Obama frente aos conflitos externos foi fraco.

— O idealismo de Obama não condiz com o país que ele governa. Em relação à política externa, ele é considerado um governante fraco. Se assumir, creio que Hillary desempenhará um papel importante para amenizar a situação caótica criada por conflitos em alguns países, uma vez que ela tem uma visão mais realista do mundo. A guerra civil na Síria, a crise de refugiados, a China tomando posturas agressivas e a Coreia do Norte testando bomba de hidrogênio. É inconcebível que nada seja feito para mudar essa realidade que desalinhou o mundo.

Em relação ao Estado Islâmico, Sidney Leite acredita que Hillary se empenhará no combate ao grupo extremista, até porque essa é uma das bases de sua campanha eleitoral.

— Uma das principais teclas em que a democrata tem insistido em bater é o combate ao Estado Islâmico. Como nos Estados Unidos o primeiro mandato de um presidente é um teste para a população ver se as promessas de campanha estão realmente sendo cumpridas, Hillary não vai poder deixar essa questão de lado. Assim como o tópico das políticas assistencialistas, que ela pretende instalar no país.

Assistencialismo

O Bolsa Família, que é alvo de críticas e elogios no Brasil, é inspirador para a candidata democrata. Hillary teceu elogios ao programa de assistência social brasileiro e afirmou que pretende instalar algo similar nos Estados Unidos. O Brasil não é pioneiro na criação de medidas de combate à desigualdade, diversos países do mundo já contam com ações do tipo. No entanto, para Cukier, nos Estados Unidos esse tipo de política não vai funcionar.

— Os americanos não são favoráveis ao assistencialismo, no geral. Por isso, esse tipo de ideia pode ser um ponto fraco na campanha de Hillary.

O professor Leite concorda que tentar incluir mais uma medida de assistencialismo nos Estados Unidos pode prejudicar a candidata, mas por provocar uma possível ira dos republicanos.

— Hillary é democrata, mas não é tão liberal quanto Sanders, por exemplo. Por isso, acaba atraindo eleitores de ideologias mais conservadoras.

O especialista explica que, com a criação do ‘Bolsa Família americano’, esses eleitores deixariam de apoiar a candidata. Além disso, daria margem para que os republicanos — que são maioria no congresso — tecessem críticas severas a ela.

Contrária a essas afirmações, está a opinião de Zahran, que citou o Snap (Supplemental Nutrition Assistance Program) — programa assistencialista que já existe nos Estados Unidos e ajuda cerca de 40 milhões de americanos de baixa renda a se alimentarem. A diferença entre essa política e o Bolsa Família é que o benefício não pode ser sacado, apenas utilizado em lojas cadastradas — funciona como um “vale-alimentação”.

— Os Estados Unidos já têm uma política assistencialista. Acho possível que ela seja ampliada e se torne um ‘Bolsa Família americano’.

 

R7

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