Em trilhas ou nas ruas; a disparada da servidora Jussara
A corrida estava presente na vida de Jussara Lílian Vieira do Nascimento mesmo antes de nascer. Seus pais viviam numa cidadezinha de cinco mil habitantes no Interior de São Paulo, chamada Estrela do Norte, onde não havia maternidade. Seu pai, Claudemir Marinho do Nascimento, promoveu verdadeira maratona em família ao levar sua esposa, Elita Vieira do Nascimento, a Presidente Prudente, cerca de 50 km de sua casa, para que Jussara despertasse do ventre de sua mãe. A pequena veio ao mundo sem saber que o esporte estava correndo na sua vida. Sua história será retratada neste mês pelo Jus_Social.
Em Estrela do Norte, Jussara cresceu com as brincadeiras na rua. Chegava da escola e depois ela e as amiguinhas faziam piquenique no campo, brincavam nas minas (nascente de água potável), “moravam” em cima das árvores que escolhiam como ‘casas’ e ainda livravam da morte os bichos-da-seda que tinham no sítio da avó de uma amiga que ficava a 6 km da cidade e que elas iam a pé, felizes da vida. Além disso, a garota adorava brincar de casinha e usar as roupas de evento que sua mãe, cantora de festival, lhe emprestava.
Nessa cidade, viveu ao lado dos pais e dos irmãos Viviane e Vinícius até os 17 anos, quando se casou e foi morar em Birigui por oferecer maior campo de trabalho e também pelo apoio familiar de tios, primas e avó, do lado materno que residiam lá. A união com seu esposo durou até seus 30 anos e, dela, nasceu Pedro, hoje com 14 anos. Nas terras biriguienses morou por oito anos, trabalhou no comércio e, por último, na Ordem dos Advogados do Brasil (OAB).
Ingresso no TJSP – Incentivada pelos advogados de Birigui, enquanto trabalhava na OAB, começou a estudar para concurso de escrevente técnico judiciário, do Tribunal de Justiça de São Paulo. Obteve êxito. Assumiu o cargo em abril de 2008, na Capital, onde permaneceu por apenas um mês e permutou com outra colega para Ibitinga, onde trabalhou por sete anos.
Em março do ano passado, recebeu a oportunidade de assumir a chefia da administração geral do fórum de Iacanga, cidadezinha com 12 mil habitantes, para onde se mudou. Não perdeu tempo em Iacanga: está incentivando outras pessoas a iniciar a prática de corrida.
O esporte na sua vida – Após o divórcio Jussara começou a praticar atividade física, primeiro musculação e depois o kickboxing. Em janeiro de 2014, incentivada por Robinson Pinheiro, um corredor de 60 anos morador de Ibitinga, que frequentava a mesma academia que ela, ingressou em grupo de corrida e gostou tanto que não parou mais. O esporte proporcionou várias outras descobertas. Novas amizades surgiram, começou a cuidar da saúde e superar os seus limites.
A esportista em dois anos participou de 31 competições com vários pódios, sendo quatro meias-maratonas (21 km, três na rua e uma em trilha); provas de rua de 30, 16, 12, 10, 8, 6, 5 e 4 km e outra de 14 km em trilha. Entretanto, a que considera muito especial é a Ultra Cuesta 70 km, realizada em montanha que fez em dupla, obtendo a 3º colocação geral, no ano passado. Fazer 35 km e seu parceiro a outra metade foi um grande desafio.
Faltavam apenas 15 dias para a prova quando Roberto Ghussn, responsável também pela planilha de treinos dela, adoeceu e teve febre até o dia 1º (a prova estava marcada para o dia 5 de dezembro). “Ele não desistiu de competir por minha causa, sabia da importância da prova e o quanto eu tinha treinado. Ele foi comigo para não me prejudicar, chegou pálido e quase desmaiando e, eu, em retribuição, dei tudo de mim para conseguir subir no pódio com ele.”
Seus treinos envolvem musculação, alongamento, fortalecimento, bike e corrida e são normalmente sete semanais, em horários alternados, para conciliar com a tarefa de chefe de seção, mãe, dona de casa e estudante, pois está cursando o 4º semestre do Serviço Social. Jussara conta que um dos incentivos para iniciar a faculdade foi por meio da corrida, pois ela acreditava que não havia tempo para estudar, mas logo que começou a correr se perguntou: “como tenho tempo para treinar e não tenho para estudar?” Atualmente concilia a corrida e os estudos. Em Bauru representa uma equipe de corrida em várias provas.
Benefícios da corrida – “A corrida me ajudou a ser mais disciplinada. Meu dia tem que ser todo programado para que consiga fazer tudo o que preciso. Ensinou-me a ser perseverante e não desistir no cansaço, pois com muito esforço, o que era impossível, de repente se torna possível.” A corrida deu a Jussara, também, a liberdade de ir para aonde quiser. Segundo ela, no trabalho, a corrida a ensinou a ser uma pessoa mais organizada e mais calma. “Aprendi que, como na corrida, temos que manter o foco para atingir o objetivo, aperfeiçoei o relacionamento pessoal, já que correndo faço amizades, com pessoas de todo o lugar e com diferentes pontos de vista”, observa.
Mensagem da atleta-funcionária – “Pássaros criados em gaiola acreditam que voar é uma doença. Posso garantir que não é: busque ser livre, seja na vida pessoal ou profissional. Vale a pena!”
Projeto Jus_Social – Este texto faz parte do Projeto Jus_Social, implementado em março de 2011. Consiste na publicação no site do TJSP, sempre no dia 1º de cada mês, de um texto diferente do padrão técnico-jurídico-institucional. São histórias de vida, habilidades, curiosidades, exemplos de experiências que pautam as notícias publicadas sobre aqueles que, de alguma forma, realizam atividades que se destacam entre servidores ou magistrados. Pode ser no esporte, em campanhas sociais, no trabalho diário, enfim qualquer atividade ou ação que os diferencie. Com isso, anônimos ganham vida. Com o Jus_Social, o Tribunal de Justiça de São Paulo ganhou o X Prêmio Nacional de Comunicação e Justiça 2012 (categoria Endomarketing).
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