Absorventes descartáveis: história, impactos ambientais e alternativas
No Ocidente, da primeira Revolução Industrial (fim do século XVIII) até a década de 60 do século XX, pequenos pedaços de tecido dobrados eram utilizados pelas mulheres para absorver o fluxo menstrual. As chamadas toalhas higiênicas eram costuradas pelas próprias usuárias e, após o uso, lavadas e reutilizadas.
O primeiro absorvente íntimo descartável chegou ao Brasil em 1930, mas foi na década de 50 que começou a se popularizar. Representando maior conforto e praticidade, a novidade foi estampada em várias propagandas relacionando as mulheres que usavam os absorventes à ideia de modernidade.
Hoje, as mulheres contam com diversos absorventes descartáveis industrializados, que atendem várias necessidades (protetor diário, noturno, pós-parto, entre outros) e preferências das consumidoras (com abas, sem abas, ultrafinos, etc). É um produto que faz presente na rotina da maior parte do público feminino.
Estima-se que a mulher faz uso de cerca de dez absorventes descartáveis em cada ciclo menstrual, e de dez mil a 15 mil da puberdade até a menopausa. Como no Brasil não existe reciclagem para esse tipo de resíduo, esses absorventes acabam indo parar em lixões e aterros sanitários, causando um problema ambiental.
É importante ressaltar que, em alguns lugares do mundo, há mulheres que não têm acesso aos absorventes menstruais, seja por habitarem localidades isoladas e distantes de cidades (como regiões áreas rurais), e/ou por não poderem pagar por eles, e, em consequência disso, acabam deixando de ir à escola ou ao trabalho no período menstrual, e há também regiões nas quais a menstruação é um tabu. Recentemente, uma jovem inglesa virou notícia por realizar uma corrida menstruada e sem absorvente, o que disse ter sido uma tentativa de aumentar a conscientização sobre as pessoas que não têm acesso aos produtos femininos, e convocou as mulheres a não sentirem vergonha de menstruar (veja a notícia aqui).
Impactos ambientais
Produção
A tecnologia dos absorventes íntimos descartáveis se assemelha à das fraldas, com o uso de árvores e petróleo como matérias-primas para sua fabricação. O absorvente externo é composto basicamente por celulose, polietileno, propileno, adesivos termoplásticos, papel siliconado, polímero superabsorvente e agente controlador de odor.
A camada de celulose de fibra junto do polímero superabsorvente forma o núcleo absorvente – esse núcleo é recoberto por uma camada de polipropileno não tecido (parte que entra em contato com a pele do usuário). O corpo do absorvente é formado por um filme de polietileno e nele são adicionados adesivos termoplásticos e papéis siliconados. Algumas substâncias utilizadas na fabricação dos absorventes podem variar de acordo com o fabricante; a cobertura plástica, por exemplo, pode ser trocada pela cobertura de algodão. Já os absorventes internos, também conhecidos como tampões, diferem dos absorventes externos na sua composição. Eles são constituídos principalmente por algodão, rayon (seda artificial), poliéster, polietileno, polipropileno e fibras.
O principal impacto ambiental desses produtos começa na extração e no processamento das matérias-primas, que se baseiam na produção dos plásticos (petróleo) e da celulose (árvores). Como a produção de plástico requer muita energia e cria resíduos de longa duração, é um produto de pegada ambiental elevada. E a celulose é uma matéria-prima que tem de ser bem fiscalizada para garantir sua origem sustentável (madeira certificada). Não só a produção do absorvente em si, mas os componentes extras, como a embalagem e serviços, como a logística de transporte das matérias-primas e do produto, geram impactos no ciclo de vida do produto.
O Instituto Real de Tecnologia, em Estocolmo, na Suécia, realizou uma avaliação do ciclo de vida de absorventes internos e externos. Eles avaliaram a extração da matéria-prima, transporte, produção, uso, armazenamento e gestão de resíduos, e concluíram que o processo crucial para todo o ciclo de vida deste produto é o processamento do LDPE (polietileno de baixa densidade), devido ao elevado consumo de energia para produzir esse plástico.
Esse estudo concluiu que, entre absorventes externos e internos, os externos têm um maior impacto ambiental devido ao maior uso de componentes de plástico. Isso não quer dizer que os absorventes internos não tenham também um impacto ambiental significativo – a fibra de algodão contribui com 80% do impacto total da produção desses absorventes, pois o cultivo intensivo de algodão requer grandes quantidades de água, pesticidas e fertilizantes.
Assim, os absorventes descartáveis, finos e modernos, trazem junto com eles danos significativos para o ambiente, mesmo antes de chegarem até seus consumidores.
Pós-consumo
Os absorventes higiênicos são, depois de utilizados, dispostos em lixões ou aterros sanitários, criando uma quantidade significativa de resíduos compostos por materiais sintéticos, que demoram em média 100 anos para se decomporem. Além do mais, podem contaminar o ambiente por conterem aditivos químicos, que foram utilizados na sua fabricação??, inclusive podem produzir dioxinas (oriundas do branqueamento da celulose) que persistem no meio ambiente.
Uma alternativa a essa destinação final seria a reciclagem. Mas, absorventes são recicláveis?O produto como um todo ainda não é, mas existe o caso da empresa canadense Knowaste, que separa os componentes de produtos absorventes higiênicos (AHPs – na sigla em inglês) e os transforma em telhas e madeira sintética.
E, absorventes são compostáveis? Também é possível que sejam. E é o que a empresa neozolandesa Envirocomp vem fazendo com AHPs a alguns anos. Ambas alternativas até o momento não chegaram ao Brasil.
Um alerta importante é não jogar o absorvente usado pelo vaso sanitário, pois esse resíduo pode chegar até rios e oceanos. O índice de lixo do oceano da Ocean Conservancy contém aplicadores de tampão entre a sua lista de lixo encontrado no oceano. Não só eles levam anos para serem decompostos, como, também, acabam muitas vezes sendo digeridos por animais marinhos e por aves, causando danos irreparáveis ??ao ecossistema oceânico, já frágil.
Saiba mais sobre a história dos absorventes e seus impactos assistindo a este vídeo (em espanhol).
Saúde da mulher
O uso tão comum de absorventes no dia a dia de muitas mulheres traz a reflexão sobre possíveis impactos da sua utilização na saúde das usuárias.
Alguns problemas, como alergias e infecções, podem estar relacionados ao uso de absorventes, principalmente em mulheres que têm a pele e a mucosa mais sensíveis às fragrâncias, corantes e materiais sintéticos, que estão na composição de alguns desses produtos. Absorventes com camada de plástico, por exemplo, podem prejudicar a ventilação da área e favorecer, assim, o aparecimento de infecções. Porém também existem casos de mulheres que têm alergia a algodão, então se estiver com reações alérgicas ou infecções, o melhor mesmo é procurar um ginecologista para identificar as causas.
Outro problema associado ao uso de absorventes é a Síndrome do Choque Tóxico (SCT), uma doença rara (afeta 1 a cada 100 mil pessoas), porém grave se não tratada com rapidez. Causada pela toxina da bactéria Staphylococcus aureus, essa doença tem metade dos seus casos associados à utilização de um absorvente interno de alta absorção e de material sintético.
Um lembrete importante, e que pode ajudar a evitar alguns dos problemas citados, é fazer a troca do absorvente no tempo indicado pelo fabricante, ou pelo seu ginecologista (entre quatro e oito horas), evitando a proliferação das bactérias.
Alternativas
Para aqueles que buscam alternativas de produtos mais ecológicos, e sem química nociva em sua composição, vale a pena dar uma testada nas opções que existem para verificar se alguma delas é adequada para você:
Absorventes de pano
É uma alternativa para aqueles que preferem produtos de uso externo. Eles exigem consumo de energia e água na lavagem, mas economizam no uso geral de matérias-primas na fabricação, por serem reutilizáveis.
Esse tipo de produto segue o mesmo formato dos absorventes descartáveis, mas é feito 100% de algodão (o que é benéfico para a pele, pois a ajuda a “respirar”) e pode durar até cinco anos. A ideia é que ele seja lavado e reutilizado, como se fazia antigamente, antes dos absorventes descartáveis.
Coletor menstrual
O coletor menstrual é um copo de silicone hipoalergênico (não causa alergia) que é utilizado para coletar o sangue menstrual. Ele pode ser usado numa média de 8 horas por vez, dependendo da intensidade do fluxo, e depois é necessário esvaziá-lo e limpá-lo com água e sabão. Recomenda-se que, antes do primeiro uso, esterilize o copo em água, fervendo durante três minutos.
Eles são reutilizáveis, não contêm dioxina nem rayon e são fáceis de manter.
É uma alternativa mais ecológica, por evitar a geração de resíduos sólidos, e mais econômica, pois o produto pode ser utilizado por anos, fazendo com que as mulheres economizem em absorventes descartáveis. Saiba mais aqui.
Confira um vídeo com informações de como fazer o uso do coletor menstrual.
Soft-tampon
O soft-tampon é uma espécie de espuma que é introduzida na vagina para absorver o sangue menstrual. Segundo o fabricante, ele é feito com materiais não tóxicos e que não poluem o meio ambiente, e foi lançado com o objetivo de permitir que as mulheres façam exercícios e sexo durante o período menstrual, sem temer desconfortos e vazamentos.
O absorvente é leve e maleável. Entenda mais e veja dicas de quem testou aqui.
Absorvente biodegradável
Se você tem preferência pelos absorventes externos e internos descartáveis, mas quer causar menos impacto ao meio ambiente e/ou tem a pele sensível aos produtos sintéticos, existe a opção dos absorventes biodegradáveis, produzidos com algodão orgânico, sem material sintético e produtos químicos. O fabricante que comercializa esse produto no Brasil é a marca Natracare, que diz produzir itens hipoalergênicos e que se biodegradam em até cinco anos (as condições dessa biodegradação não são especificadas).
Calcinha com camada absorvente
A calcinha com camada absorvente é uma calcinha que contém um material capaz de conter o fluxo menstrual, sendo, ao mesmo tempo, à prova de manchas. A função dessa calcinha, segundo uma das fabricantes, é reter o líquido, impedir vazamento, matar germes e bactérias e garantir a pele seca. Existem opções com camadas absorventes de maior capacidade de retenção (equivalente a dois absorventes internos médios) e de menor capacidade de retenção. A vantagem é que ela é reutilizável, podendo ser lavada e utilizada novamente, como uma calcinha normal. Porém não foi especificado pelos fabricantes o material usado na composição da camada absorvente.
Veja mais sobre a história dessas calcinhas e as marcas envolvidas aqui.
Fontes: The Chic Ecologist, Viva Saúde, Bolsa de Mulher