Começa julgamento do ex-militar acusado de matar comerciante em 1989

Carlos Alberto Jr.

Especial para Estadão Alagoas

Com quase quatro horas de atraso, começou em Palmeira dos Índios, no início da tarde desta quarta-feira, 16, um dos julgamentos mais aguardados de 2015 no Estado de Alagoas. O assassinato do comerciante José Cardoso de Albuquerque, ocorrido em 1989, levou ao banco dos réus, o ex-policial militar, Manoel Bernardo de Lima Filho.

O advogado de acusação, Thiago Pinheiro, espera que, diante das provas arroladas durante as investigações, haja condenação. “A pena deverá ficar entre 20 e 30 anos. Ainda não sabemos qual tese será utilizada pelo réu e sua defesa. O que sabemos é que ele já confessou o crime por três vezes e também para companheiros de cela”, revelou o advogado.

O cantor Geraldo Cardoso, um dos filhos do comerciante, revelou que, até hoje, a família não sabe, de fato, o real motivo do crime que chocou a população de Alagoas. “Meu pai tinha pequenas desavenças na cidade e também com alguns familiares, mas nada que justificasse uma morte daquele jeito. Porém, acreditamos que o assassinato tenha motivação política, já que o nome dele sempre foi bem visto politicamente pela população”, frisou.

Geraldo disse que, até hoje, sente as consequências do brutal crime, como o fato de ter praticamente interrompido a promissora carreira de cantor. “Além disso, continuo sendo ameaçado todos os dias, até por olhares”, disse.

O advogado Thiago Pinheiro vai utilizar três testemunhas de acusação durante o julgamento. “Esperamos a condenação”, falou.

Logo que réu chegou à sede do Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (Dnocs), a juíza Luana Freitas efetuou o sorteio dos jurados que compõem o conselho de sentença. Dos sete sorteados, seis são mulheres.

O deputado estadual Rodrigo Cunha solidarizou-se com os familiares do comerciante. Emocionado, ele lembrou que perdeu num 16 de dezembro a mãe, a então deputada federal recém-eleita Ceci Cunha, o pai e outros familiares, assassinados brutalmente em Maceió, há exatos 17 anos.

“Sinto a dor de vocês também. Saibam que vocês são vitoriosos, independente do resultado do julgamento. Lutei por 13 anos contra os bandidos que mataram minha família. Como eu, sei que vocês podem dormir com a consciência tranquila. Nesse momento eu digo que esse mundo dá voltas”, salientou diante dos familiares.

O acusado Manoel Lima chegou ao Dnocs numa viatura da Polícia Militar vindo de Maceió, onde já está preso. Mostrando tranquilidade e sorridente, ele cumprimentou a todos que aguardavam sua chegada para início do julgamento.

O CRIME

José Cardoso foi morto com vários disparos pelo ex-militar e outros acusados, alguns já falecidos, todos, de acordo com as investigações da polícia, integrantes da chamada Gangue Fardada, quadrilha composta por policiais militares que agiam em todo o Estado de Alagoas, patrocinados e acobertados por políticos e empresários.