Candidato de Cristina Kirchner ‘recicla’ propaganda de Aécio Neves
Um vídeo da campanha do candidato governista à Presidência da Argentina, Daniel Scioli, chamou a atenção pela semelhança com uma propaganda do tucano Aécio Neves na disputa de 2014 com Dilma Rousseff.
A peça de Scioli, veiculada na quarta-feira, mostra pessoas com máscaras do rosto do candidato opositor Mauricio Macri, da coalizão de centro-direita Cambiemos (Mudemos).
Homens e mulheres tiram as máscaras à medida que o locutor cita medidas do governo que seriam combatidas pelo por Macri.
“Essa é Rosa. Ela queria votar em Macri, até que soube que ele foi contra a estatização dos fundos de pensão e aposentadorias (AFJP, na Argentina)”, diz o locutor, enquanto uma atriz levanta a máscara e expõe o rosto à câmera. A estatização em questão foi implementada pela presidente Cristina Kirchner, em 2008.
Com música suave ao fundo, a propaganda exibe cinco casos para convencer o eleitor a desistir do voto em Macri, que lidera a maioria das pesquisas do segundo turno.
O spot termina com o locutor conclamando o eleitor a votar no próximo dia 22 – data do 2º turno da eleição presidencial – “por uma Argentina sem máscaras”.
Original tucano
O vídeo emula propaganda veiculada por Aécio na reta final do primeiro turno da eleição passada: as máscaras, o ritmo musical e, nesse caso, promessas da então candidata à reeleição que não teriam sido cumpridas.
“A Maria votou na Dilma porque ela prometeu inflação sob controle. A inflação voltou e a Maria está sentindo no bolso”, diz a locutora enquanto a brasileira afasta a máscara do rosto de Dilma.
O vídeo da campanha de Aécio traz outros três exemplos e se encerra com a locução: “Com tanta mentira, um dia a máscara cai”. E a frase “Xô mentira, xô corrupção”.
A semelhança entre os filmes foi logo notada na Argentina, motivando críticas ao candidato da situação. Pelo Twitter, eleitores e políticos afirmaram que Scioli estava “copiando” a campanha de Aécio.
“Scioli copiou spot contra Dilma”, escreveu um usuário. “Esse homem não sabe fazer campanhas originais”, escreveu uma leitora.
O autor da ideia, o jornalista e marqueteiro político Augusto Fonseca, da empresa MPB (Marketing Político Brasil), negou que a peça de Scioli seja uma cópia.
“Não é uma cópia porque a ideia é a mesma”, afirmou à BBC Brasil.
Segundo ele, o objetivo da propaganda é alertar o eleitor sobre as convicções do candidato opositor.
Ex-profissional do Jornal do Brasil, Augusto trabalha na estratégia da campanha de Scioli, que inclui a produção de vídeos, e já assessorou campanhas do PT antes do trabalho para Aécio no ano passado.
Comparações
No atual pleito argentino, Macri costuma ser comparado a Aécio por se aproximar mais da centro-direita, enquanto Scioli representaria a linha de governos de centro-esquerda como o de Dilma.
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva chegou a subir em palanque com Scioli na campanha do primeiro turno, em uma localidade na periferia de Buenos Aires.
O gesto explícito de apoio de Lula não foi visto com bons olhos por assessores de Macri, que entenderam ser uma interferência na campanha do país vizinho.
Nesta quarta-feira, ao ser entrevistado na TV, Scioli foi questionado se o vídeo das máscaras não seria “campanha suja” contra o adversário, enquanto um painel no estúdio exibia a imagem das máscaras do vídeo com o rosto de Macri.
Ele respondeu: “Não é campanha suja, é uma visão publicitária sobre a campanha”.
Segundo três pesquisas de opinião divulgadas esta semana, Macri lidera a intenção de votos para o pleito que será realizado em menos de duas semanas.
No entanto, com cerca de 10% de indecisos, assessores de Scioli afirmam que “a disputa está aberta” e o panorama ficará mais claro após o debate entre os presidenciáveis neste domingo. Será o único debate da campanha entre os dois. No primeiro turno, Scioli não foi ao programa.
BBC