‘A Regra do Jogo’ estreia com assalto, Neymar e sensualidade do funk

catsA Regra do Jogo, nova novela das nove da Globo, estreia nesta segunda-feira (31) com um capítulo de tirar o fôlego. Um assalto a banco com reféns, uma mocinha que rouba a patroa para salvar a vida da mãe, uma outra face do crime organizado, a participação do craque Neymar Jr. e doses altíssimas da sensualidade do funk são os elementos usados pelo autor de Avenida Brasil (2012), João Emanuel Carneiro, para seduzir o público espantado por Babilônia.

A novela vem com uma roupagem diferente, com câmeras em todos os ângulos e cenários reais, mas o principal é a enigmática história a ser contada. Além de ter um protagonista com vida dupla, Romero Rômulo (Alexandre Nero), personagens fortes e tramas complexas são a fórmula da nova novela.

Estão entre os destaques do folhetim, um herói injustiçado, Juliano (Cauã Reymond); uma mocinha cheia de atitude e que desconhece suas origens, Toia (Vanessa Giácomo); uma família rica desequilibrada, a de Gibson (José de Abreu) e Nora (Renata Sorrah), e outra que faliu e fez da luxuosa cobertura um cortiço, a de Feliciano (Marcos Caruso); e uma ex-prostituta que virou a “rainha” do morro, Adisabeba (Susana Vieira).

“A novela é sobre o quanto você condena e absolve alguém. É um limite bem variável no Brasil”, diz João Emanuel Carneiro. Questionar a moral duvidosa e cambiante das pessoas é algo que está presente na obra do autor desde o filme Central do Brasil (1998), no qual Isadora (Fernanda Montenegro) recebia dinheiro para escrever e postar cartas, mas nunca as enviava.

Desde as primeiras chamadas de A Regra do Jogo, a Globo usou o nome do novelista para “bombar” a trama. Para Carneiro, isso não muda em nada sua tarefa. “É sempre uma responsabilidade enorme escrever para 40 milhões de pessoas. Tento fazer o melhor possível, mais que isso não dá para fazer”, confessa ele, diante da grande expectativa que o folhetim gerou por conta do sucesso de seu último trabalho e a missão de elevar a audiência perdida com Babilônia.

A diretora da trama, Amora Mautner, arrisca dizer que vai ser difícil interferir no texto de Carneiro, a exemplo do que aconteceu em Babilônia, que mudou de curso ao ser rejeitada pelo público. “O João é uma autor muito autoral. Se algum dia ele não fizer sucesso, ainda assim ele não mudaria seu enredo. Esse autor está preocupado com a personalidade dele na escrita. Por isso, vemos uma marca forte no roteiro dele. Eu também não abro mão de um estilo”, dispara Amora.

Ela é a responsável pela nova linguagem cênica da trama, que busca tornar a dramaturgia mais real. Os cenários foram feitos como casas de verdade. Em vez de trabalhar com quatro câmeras, sua equipe grava com oito e pega ângulos nunca vistos em novelas. Os atores vão aparecer de costas, na sombra, desfocados. A emissora instalou câmeras em espelhos e usa também câmeras robôs.

O projeto está sendo desenvolvido há três anos e recebeu o nome de “caixa cênica”. Para os atores, significa maior liberdade, algo mais próximo do teatro. Eles ensaiam as sequências e, depois, gravam tudo de uma vez, sem parar e sem repeitr (a não ser que haja erro). “Essa proposta se aproxima de uma locação de verdade. É mais interessante para o ator porque consegue mostrar a emoção que colocamos no trabalho”, comenta Cauã Reymond.

Sangue nos olhos

Reymond afirma que seu personagem, Juliano, é um mocinho da vida real. Ele é um cara bacana que não teve uma carreira como lutador profissional, mas tem muita dignidade e ajuda a tirar garotos do tráfico de drogas. Ele aparece no primeiro capítulo saindo da cadeia após quatro anos de reclusão, condenado por um crime que não cometeu.

Juliano tem sangue nos olhos. “Ele quer provar a inocência dele. O Juliano é bem diferente do Jorginho [de Avenida Brasil], que era um menino desestabilizado. É um homem, que quer ajudar os outros e tem um propósito na vida”, conta o ator.

Ele faz par romântico com Vanessa Giácomo, Toia. Os dois foram criados por Djanira (Cássia Kis). Juliano é filho de Zé Maria (Tony Ramos), ex-namorado da professora que foi acusado de ser o autor de uma chacina. Mas, a princípio, é inocente. Ele teria sido vítima de uma poderosa organização criminosa, que conta com “soldados” e uma hierarquia como a dos mafiosos.

Jogando com o público

Romero Rômulo está entre os “soldados” da facção, mas leva uma vida dupla. Finge que é um homem bom, defensor dos direitos humanos e trabalha em prol dos marginalizados pelo sistema. Só que o personagem é ambicioso, foi expulso de casa pela mãe, Djanira, porque escolheu o caminho do mal. Ele está envolvido na chacina que é a chave dos mistérios da trama.

Alexandre Nero afirma que Romero Rômulo vai jogar com o telespectador o tempo inteiro. Ele vai deixar as pessoas em dúvida sobre o que quer e o que faz. É um mentiroso compulsivo. “O que aconteceu na noite da chacina só vai se saber mais para a frente. O cara é um político, sabe mentir”, comenta Nero.

João Emanuel Carneiro, que começou a escrever a trama há dois anos, afirma que a história nasceu a partir de Romero Rômulo, um criminoso que quer virar santo. Nos primeiros capítulos, várias facetas dele serão mostradas, como ter dois apartamentos no mesmo prédio, um bem capenga e outro cheio de luxo. Ele dirige um Gol velho, mas tem uma BMW na garagem.

Nem seu filho adotivo, o policial Dante (Marco Pigossi), sabe quem é o pai. Todos que o cercam conhecem somente o Romero do faz de conta. No primeiro capítulo, ele ainda figura como herói de um assalto a banco, negociando a libertação dos reféns com os bandidos. Depois, o público verá ele recebendo uma bolada por sua participação no crime.

O personagem viverá um triângulo amoroso com a estelionatária Atena (Giovanna Antonelli) e Toia. Ele vai se apaixonar pela filha adotiva de sua mãe e a partir daí desejará se tornar o homem que sempre fingiu ser.

Remelexo

A Regra do Jogo também traz malemolência e sensualidade à flor da pele. Susana Vieira, 73 anos, por exemplo, surge em cenas na cama com o estreante Douglas Tavares, o Abner. O ator tem 26 anos e uma barriga tanquinho. Aliás, os “gominhos” dos abdomens dos atores foram ressaltados pela diretora da novela. Amora brincou com a ala masculina da trama. Ela disse que vai ter uma disputa de descamisados em cena.

MC Merlô (Juliano Cazarré), filho de Adisabeba, é um deles. O funkeiro praticamente não vai usar camisa. Quando não está no palco requebrando com suas merlozetes, ele está transando com uma delas. O núcleo do Morro da Macaca é pura ostentação. “Ele é deslumbrado. Merlô acha que é o centro do mundo. Aprendi a controlar a timidez em cena. Esse personagem é desavergonhado”, diz Cazarré.

Um dos núcleos mais engraçados, com certeza, é o da família de Feliciano. Ele foi um homem muito rico que torrou tudo com mulheres e festas. O personagem chegou ao fim da vida sem grana e não aceita vender a única coisa que lhe sobrou: uma cobertura em um bairro da zona sul do Rio.

No entanto, sua principal característica é ser generoso, ter bom humor e saber rir de si mesmo. Ele mora com os filhos e agregados no apartamento, que virou praticamente um cortiço.

“Não fiz um laboratório grande como no caso do Leleco [de Avenida Brasil] porque eu tenho o meu pai, que é um cara como o personagem, um homem que gosta de juntar a família. Feliciano tem essa necessidade do afeto. Ele mora em um apartamento enorme, o prédio tem o nome dele, mas ele perdeu tudo. Minha única expectativa é tentar fazer um homem que gere identificação”, diz Caruso.

Outra personagem emblemática é a de Bárbara Paz, Nelita. Filha de Gibson e Nora, ela tem um transtorno bipolar e muda de personalidade. Nelita se transforma em uma desvairada em um piscar de olhos. Em um desses surtos, que será exibido logo nas primeiras cenas da personagem, ela ficará nua no seu jantar de aniversário após colocar fogo no vestido de noiva da irmã, Kiki (Deborah Evelyn). Kiki era a mulher de Romero Rômulo e foi dada como morta após um sequestro, mas vai entrar em cena mais para frente.

“A psicopatia no caso da Nelita é muito séria. Ela tem de ser medicada”, conta Bárbara Paz. A atriz revela que se inspirou em uma pessoa que dentro de casa era uma santa, mas, quando saía, virava devassa. “Conheci o namorado dela. Essa mulher se matou quando engravidou”, diz Bárbara.

 

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